Parceria Viva o Vinho
A grande maioria dos tintos e brancos de Bordeaux são produzidos a partir de um blend de cepas. Isso não se dá por acaso: historicamente, por conta da instabilidade do clima, em especial em relação à umidade e ao regime de chuvas, sempre foi arriscado basear-se em uma única variedade de uva.
“A Cabernet Sauvignon é a mais plantada na Margem Esquerda, com solos de cascalho. Na Margem Direita, com os solos de argila, calcário e areia, a Merlot prevalece.”
A legislação bordalesa permite o cultivo e a utilização de uma série de cepas, que florescem e amadurecem em épocas distintas, o que faz com que uma eventual geada ou chuva mais pesada não arruíne toda uma safra.
De fato, das 13 variedades permitidas na AOC, destacam-se três tintas e duas brancas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e Sémillon e Sauvignon Blanc, respectivamente. As proporções de cada uma delas nos blends variam de acordo com a sub-região e o produtor.
A Cabernet Sauvignon é a mais plantada na Margem Esquerda, cujos solos têm predominância de cascalho. Já na Margem Direita, com os solos alternando entre argila, calcário e areia, a Merlot prevalece, seguida da Cabernet Franc.
São uvas permitidas em Bordeaux, sub-regiões e comunas:
Uvas brancas: Sauvignon Blanc, Sémillon, Sauvignon Gris, Muscadelle, Merlot Blanc, Colombard e Ugni Blanc. No caso das três últimas, não podem ser utilizadas nos assemblages, isoladas ou em conjunto, em proporção superior a 30% da mistura.
Uvas tintas: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot, Carménère e Malbec.
Cabernet Sauvignon
O que diferencia a Cabernet Sauvignon de outras cepas de grande cultivo é sua extraordinária concentração de taninos, pigmentos e compostos aromáticos.
Por isso produz vinhos de cor intensa, que requerem longa maceração e envelhecimento em barrris de carvalho. Suas características aromáticas evoluem com o tempo, proporcionando aos vinhos qualidades olfativas muito mais complexas à medida que os anos passam.
Os vinhos de Bordeaux com predominância da Cabernet Sauvignon apresentam excepcional potencial de envelhecimento.
Merlot
A Merlot é a uva associada aos grandes vinhos de Saint-Émilion e Pomerol. Segundo o historiador Enjalbert, já em 1784 a Merlot estava documentada nessa região como varietal de boa qualidade.
Em comparação com a Cabernet Sauvignon, a Merlot é menos tânica, embora em Bordeaux ela possa conferir tanto corpo quanto a Cabernet, além de elegância aos taninos e características de frutas vermelhas aos vinhos. A Merlot desabrocha e amadurece cerca de duas semanas antes que a Cabernet Sauvignon. É a uva mais plantada em Bordeaux, com 56% da área cultivada.
Cabernet Franc
A Cabernet Franc adaptou-se melhor ao solo mais úmido da Margem Direita, onde é chamada de Bouchet. Os vinhos com representativas proporções de Cabernet Franc mais famosos do mundo são produzidos em Saint-Émilion: o Chateau Cheval Blanc e o Chateau Ausone.
A Cabernet Franc amadurece cerca de uma semana antes da Cabernet Sauvignon, sem necessitar para isso de tanto calor. Produz vinhos aromáticos, de média estrutura, apresentando desde cedo características frutadas, conferindo aos vinhos taninos elegantes e vivacidade.
Sauvignon Blanc
A Sauvignon Blanc em Bordeaux é muito utilizada em mesclas com a Sémillon, à qual agrega características de acidez e sabor, suavizando a doçura dos vinhos botritizados. Suas qualidades mais marcantes são seu aroma penetrante, lembrando ervas, almíscar, flores e frutas cítricas, e sua excepcional refrescância.
Em sua maioria, os vinhos com predominância de Sauvignon Blanc devem ser bebidos jovens, embora os melhores de Bordeaux possam durar quinze anos, com esta uva agregando complexidade com o tempo.
Aparece nos vinhos doces de Sauternes como coadjuvante, ao lado às vezes da Muscadelle, em mesclas onde a Sémillon é a protagonista. É a principal componente dos vinhos secos de Graves, mais reputados, e de Entre-deux-mers.
Sémillon
Os extraordinários vinhos doces de Sauternes são produzidos a partir desta varietal, uma uva opulenta, doce, untuosa, que predomina na composição dos vinhos com uma proporção média de oitenta por cento do blend.
A casca fina da Sémillon a torna susceptível a ser atacada pelo fungo Botrytis Cinérea, a chamada podridão nobre, que aumenta muito a concentração de açúcar na uva.
É a variedade branca mais plantada em Bordeaux. Nas sub-regiões de Graves e Pessac-Léognan é usada também na elaboração de vinhos brancos secos, sendo uma parceira ideal para a Sauvignon Blanc, pois é menos ácida e mais redonda.
Diferenças de estilos
Vinhedos em Bordeaux |
Entre os enófilos apreciadores dos vinhos de Bordeaux, muitas vezes surge a pergunta: você prefere os vinhos da Margem Direita ou Esquerda?
Há quem defenda a Margem Esquerda, apontando que de lá são provenientes os Premier Crus de 1855. Mas há aqueles que tendem para a Margem Direita, indicando que de lá vem rótulos como Cheval Blanc e Petrus, por exemplo. No entanto, a questão principal não é a disputa entre as margens e seus adeptos, mas compreender distintos estilos que algumas vezes estão, sim, separados por um rio.
Os vinhos da Margem Direita, talvez pela maior porcentagem de Merlot, são mais sedutores e fáceis de beber quando jovens, enquanto os da Esquerda são mais austeros, profundos, com notas minerais e um equilíbrio que exige um tempo maior para ser totalmente atingido.
Em linhas gerais, os vinhos da Margem Direita mostram frutas negras, com notas de dulçor e madurez mais evidentes, além de taninos de textura elegante e sedosa. Já os da Esquerda apresentam um frutado mais contido, de frutas vermelhas, evidenciando mais acidez e taninos potentes.
Cada AOC com suas características
Em termos de vitivinicultura, considera-se que Bordeaux seja uma macrorregião e, assim, as sub-regiões geográficas acabam sendo chamadas simplesmente de regiões.
Vinhedos em Bordeaux |
A maioria das regiões geográficas de Bordeaux tem sua própria Appellation d’Origine Contrôlée – AOC –, que são regidas por legislações específicas, que determinam as cepas permitidas, teor alcoólico, métodos de poda e colheita, rendimento de fruta por planta, técnicas de vinificação etc. Somente os produtores que seguem estas regras podem carregar em seu rótulo o título de AOC.
Existem mais de 50 denominações diferentes em Bordeaux, que variam desde grandes denominações genéricas, até pequenas, relativas a determinadas comunas. Entre elas, não existe uma hierarquia clara e determinada baseada em qualidade, sendo mais fácil compreendê-las agrupando-as de acordo com o estilo de vinho produzido em cada uma, considerando-se especialmente as características de cada terroir e a legislação específica da AOC.
Entender a importância da AOC e o que ela representa para a qualidade dos vinhos é de suma importância. Conhecer as características de cada região e que tipo de vinho produzem também é relevante para a escolha do Bordeaux que agrada mais ao seu paladar.
Por isso, nossos próximos posts sobre Bordeaux irão tratar de cada uma dessas sub-regiões, da Margem Esquerda à Margem Direita do rio Gironde. Não perca!
Texto escrito por Renata Pacheco Tavares – Publicado no site vivaovinho.com.br em 01/10/2016.
Parceria Blog da Gavioli e Viva o Vinho
Como é comum, uma publicação puxou outra e cheguei ao blog Viva o Vinho, uma produção conjunta da Renata e do Emanuel Alexandre Tavares, marido dela. Desde então, de tempos em tempos, me comunico com a Renata e nunca mais deixei de acompanhar o trabalho deles sobre vinhos.
Então, fizemos uma parceria para publicar aqui no Blog da Gavioli o material que eles produzem. Tenho certeza de que todos os leitores do blog só têm a ganhar devido ao maravilhoso conteúdo que o Viva o vinho publica.
A cada mês uma nova postagem ficará em destaque aqui no blog. Aproveitem!!!