Se o mundo é sem sentido e absurdo, resta dar a ele uma
forma. Que assim seja: baguette, bola ou batard?
Eis o livro que há muito tempo eu queria e ainda não tinha adquirido: Pão Nosso, de Luiz Américo Camargo, produzido pela Rita Lobo da editora Panelinha (uma divisão da editora Schwarcz).
Sexta passada, pouco antes de sairmos para viajar, o Silas chegou em casa e me deu de presente. Fiquei tão contente!
O livro é uma dessas delicadezas que às vezes encontramos para comprar que têm o poder de mudar o astral da gente pra melhor. Inspirador para quem gosta de cozinhar e de fotografar e estimulante do apetite para quem quer apenas folhear, sem compromisso.
Eu fiquei interessada no livro Pão Nosso desde que a Cath, do Blog Utensílios, publicou o post Pão com fermento natural: minha aventura com levain, no início de dezembro de 2014. Já faz, portanto, quase um ano. Na época, fui até a Livraria Cultura, folheei, namorei, mas não comprei. Agora estou inebriada com o presente.
Não bastasse ensinar a fazer o famoso e perseguido levain ou fermento natural, ainda tem receitas gostosinhas para acompanhar, mas, mais que isso, tem aquele aconchego de amigo ,que lhe dá com carinho uma lição de vida sem arrogância, sem crescer em cima de você, sem se fazer de sabido e bem sucedido.
Ontem, eu fui me deitar à noite e o sono não vinha. Voltei ao meu Pão nosso que me havia acompanhado praticamente metade do dia. Tanto ele me inspirou que resolvi começar a cultivar o levain. Só vou saber se vai dar certo daqui uns dias.
Li o livro todinho, de cabo a rabo. Num determinado ponto encontrei:
O pão ensina
Sempre que eu saio da linha, o pão me alerta. E me mostra que, na vida, posso controlar algumas (bem poucas) coisas só até certo ponto. Que posso ser apressado apenas até um determinado limite.De resto a natureza é soberana. No fundo, não somos nós que aprendemos a fazer o pão de fermentação natural. É o pão que nos ensina.
Nada poderia ter sido mais pertinente naquele momento do que ser lembrada de que tudo tem tempo para acontecer. Não adianta acelerar, nem procrastinar. Isso só causa desequilíbrio. Nada que vem antes ou depois por mais que possamos interferir ou insistir será natural. Como o parto que só é natural se for no tempo certo da gestação.
Esse lance de cozinhar, de se entregar a arte culinária, dos saberes que se tornaram saberes por experiência, observação e repetição, às vezes por sorte, mas sempre com olhar atento, e essa noção de que a alquimia é possível se realizada a partir do aprendizado e da técnica, isso tudo é fantástico porque se torna cada vez mais consciente e mais visceral.
O pão não tem mágica, tem ciência, observação, experimentação, aprendizado. Com sorte, o primeiro sairá bom, mas não basta a sorte. São necessárias condições específicas para que a transformação ocorra.
O ingrediente. O tempo. O trabalho. A paciência e a dedicação. A confraternização e a comunhão. É isso que faz o Pão nosso. Ao faltar algum desses itens, não terá sido como deveria.
Eu poderia ter falado tecnicamente sobre o livro. Mas ele transcende a técnica ao ensiná-la.
Tenha na sua biblioteca pessoal. Vale a pena.
Sobre o livro:
CAMARGO, Luiz Américo. Pão Nosso – Receitas caseira com fermento natural. Editora Panelinha. 2014. 3a. impressão.
Preço: R$ 89,00