Certa noite, saímos para caminhar e encontramos quase sem querer a Plaza Vieja, que já fora Plaza Nueva, um lugar lindo, que me lembrou muito uma pracinha em Berlim que o Silas e eu elegemos como o lugar mais bonito da cidade.
A parte de Havana Vieja onde está essa praça já foi restaurada e não tem sujeira, nem fios de eletricidade soltos, nem demasiado cheiro de óleo diesel porque os carros não entram nessa área, só os caminhantes e alguns veículos autorizados para levar suprimentos e conduzir hóspedes dos hostals mais bonitos que se pode ter. Luxuosos! A média da diária para um casal por uma noite é de 200 CUCs.
Numa das pontas da Plaza Vieja há um café sensacional, não só pelo ambiente como pelo gosto do café que é servido. Um expresso feito de grãos de boa qualidade, moídos na hora, e muito bem tirado, na pressão correta que tanto dá cremosidade quanto exige a temperatura certa.
Propina, a gorjeta forçada
Ali também aconteceu um fato meio desconfortável porque os garçons em Cuba sempre esperam “propina”, gorjeta em espanhol. Eu parei ali, tomei um café com leite, li algumas páginas do meu livro e ao pedir a conta, vi que tinha moedas trocadas, de modo que não teria dinheiro para deixar gorjeta naquele momento. Algumas horas depois, andei pela cidade e resolvi voltar ao local. Fiquei mais de 30 minutos ignorada para que alguém então depois que eu pedisse me trouxesse um cardápio. Feito o pedido, mais de uma hora para que chegasse à mesa. Comi rapidamente porque já estava cansada de estar ali e saí logo deixando então a gorjeta esperada. Recebi um sorriso sem graça do garçom que fez questão de me ignorar. Feio, né?
Nessa mesma praça tem um museu de baralhos. Muito legal. Não fiquei muito tempo lá dentro porque logo que comecei a olhar veio uma senhora, encostou-se em mim e começou o assédio. Saí rapidamente, mas os baralhos são demais: tem tarô, baralho cigano, baralhos que não têm 54 cartas, outros sem naipes, coisas muito diferentes e novas pra mim.
Noutra ponta da praça, tem uma choperia onde se vende chopp por litro na mesa. Eu já tinha visto o sistema em outros lugares (em Genebra na Suíça foi o primeiro lugar há mais de 10 anos), mas em Havana me pareceu inusitado. É o lugar mais caro da praça, já posso avisar. Ali, um mojito custa 6 pesos cubanos (CUC) e em todos os demais lugares nunca mais do que 3 pesos. Só no famoso bar La Floridita é tão caro, o que deve ser devido à sua grande fama nos guias turísticos e nas matérias de todo o mundo sobre Havana e seus drinks.
Só pra concluir as impressões da Plaza Vieja, esse é o lugar onde todo turista vai e, portanto, tem músicos cubanos fazendo os sons mais gostosos e divertidos, muito dançantes. Ainda numa outra noite que fomos passear nessa praça paramos num bar chamado La Vitrola, bem na esquina às costas da choperia, com mesinhas e cadeiras no meio da rua. Lá, um grupo de mulheres cantou e dançou lindamente. Depois, claro, passou o
chapeuzinho para o couvert artístico. There is no free lunch anywhere…
Tá no guia, mas não vale a pena
Como citei La Floridita, junto ao tema La Bodeguita del Médio: ambos bares que ampliaram sua fama usando o nome do escritor Ernest Hemingway que, embora norte-americano, escolheu viver em Havana, por 23 anos.
Segundo a divulgação dos dois bares, Hemingway dizia que o melhor daiquiri era o de La Floridita e, para o melhor mojito, La Bodeguita.
Estivemos em ambos porque aparecem como parada obrigatória para quem vai a Cuba. No entanto, se nunca ninguém teve coragem de dizer antes, talvez eu seja a primeira: ambos são péssimos. Abarrotados de turistas, apertados e sem charme. Nada justifica a enorme fama. Muito pelo contrário. Eu não recomendo nem de longe. Parada obrigatória, pra quem?
Como o escritor de O velho e o mar morreu em 1961 dá para imaginar que, à época que ele os frequentava, os bares deviam ser mesmo incríveis. Assim como deve ter sido o antigo Bar Veloso, rebatizado Garota de Ipanema, frequentado por Vinicius de Moraes, no Rio de Janeiro. Hoje não são mais o que foram. Vira atração turística, perde a alma boêmia. Torna-se obrigação. Mas, como é que se populariza o turismo sem que isso aconteça? Eu não sei responder.
De toda forma, há no La Floridita, uma estátua de bronze de Ernest Hemingway, no seu melhor estilo timoneiro, e, logo atrás, uma foto dele com o revolucionário Fidel Castro. Todo turista tira foto ao lado do escritor (mesmo sem ter qualquer ideia de quem ele tenha sido), claro. Do mesmo jeito que todo turista tira foto com a mão no peito da Julieta do Romeu, em Verona, na Itália.
Amanhã é quinta. Dia de convidado especial. Até lá!