Um dos doces mais gostosos que eu conheço é o tal pé de moleque. O da tia Neide, então, nem se fala a delícia que é. De leite condensado, com amendoim torrado em casa. No ponto certo, sem caramelizar demais, bem macio e crocante.
Ontem, domingão de calor lá em Itu, foi dia de tirar a coleção de papais noeis da minha mãe de dentro das caixas que ficam durante quase o ano todo na parte de cima dos armários e dar vida a todos eles na mesinha da sala de visitas da casa dela. São mais de 20 bonecos barbudinhos, cheios de charme e com a barriguinha avantajada, quase sempre vestidos de vermelho, que à base de pilhas ou baterias, se mexem, cantam, tocam instrumentos, andam de bicicleta, enfim… fazem de tudo.
A minha mãe adora papai noel. Se quiser agradá-la, ache um bem bonito e mande de presente. Na noite de Natal ou em alguma situação em que estejamos por lá, ao menos parte da família reunida, ela liga todos ao mesmo tempo. Uma doideira super barulhenta, mas muito gostosa. O mais legal é que cada membro da coleção tem uma história, uma façanha qualquer que, ontem, até decidimos catalogar, a Bruna e eu, para que com o tempo a gente não perca as datas e o registro de quem presentou ou como aquele papai noel chegou até a dona Neuza. Não fizemos isso ainda, é um plano a ser executado!
No meio disso tudo, graças às musiquinhas de Natal e a saudade que era grande, decidimos ir visitar a tia Neide na casa dela. Fazia tempo que não nos víamos e todas nós, a Cris, a Bruna, a Giovana, minha mãe e eu, estávamos saudosas e há tempos combinávamos a tal visita, mas nunca dava certo. Ontem deu!
Ligamos pra ela para avisar que iríamos, já que, por mais intimidade que se tenha hoje em dia, é de bom tom avisar, principalmente, para que o anfitrião não seja pego de surpresa, ainda mais num domingo à tarde que é dia do sagrado descanso das pessoas. Antigamente, as visitas eram mais frequentes, de modo que as pessoas não estranhavam quando chegava um parente ou amigo. Mas isso mudou muito de uns 20 anos pra cá. Agora, em tempos de facebook e internet, todo mundo sabe de todo mundo, mas as visitas são poucas. O que não significa que não as pessoas não sejam bem-vindas. Ao contrário, encontrar pessoalmente quem a gente ama preenche o coração de alegria. A gente sorri de verdade, porque o afeto é um alimento maravilhoso para a alma.
Quando chegamos na casa da tia Neide e do tio Durvalino, foi uma alegria geral. Quanto abraço apertado nós trocamos! Uma delícia. Ela é muito calorosa e a nossa tia mais amada. Ele é divertido, espontâneo, cheio de vida.
Tenho tantas boas lembranças desses tios… quanta manga eu chupei na casa deles… Teve uma época que a Cecilia, minha prima filha deles mais velha, e eu vivíamos pra cima e pra baixo juntas. Ela até morou comigo um tempo aqui em São Paulo. Minha prima querida… todos os porteiros a anunciavam assim: “a sua irmã está aqui” de tão parecidas fisicamente que somos.
Bom, o título do post de hoje é Pé de Moleque, mas o da tia Neide porque só ela sabe fazer esse docinho tão especial. Além do que, no período do Natal, às vezes na Páscoa, ou em alguma ocasião especial, que ela resolve presentear as pessoas, vai para cozinha e faz várias receitas. Depois corta em quadradinhos pequenos, coloca nuns saquinhos delicadamente coloridos ou estampadinhos, fecha com fitilho ou laço de fita e adesivo de presente de acordo com a ocasião. Aí, ela visita as pessoas que ama entregando os docinhos que são simplesmente irresistíveis.
Além do pé de moleque de leite condensado, agora até existe industrializado, chamam de pé de moça, ela às vezes faz rapadurinha de banana ou de coco ou docinho de leite. É uma loucura de bom.
Mesmo sem saber que íamos visitá-los, ela já tinha feito os docinhos que nos daria de presente esse ano. Aí foi aquela surpresa boa quando apareceu com vários pacotes cheios de pé de moleque ainda sem amarrar os laços (o que foi feito antes que saíssemos para que pudéssemos levar) que nos seriam em alguns dias dados de presente.
Esse gesto da minha tia é algo que admiro profundamente e tento copiar, embora não o faça com tanto charme. Levar um presentinho feito por você mesmo como um docinho, uma geleia, um pãozinho, para quem você gosta, é uma atitude muito elegante porque pode ser singela, mas é cheia de significados de amor, cuidado, carinho. Só coisas boas.
Foi uma tarde adorável. Minha tia contou que no sábado comeceu a arrumar a casa para o Natal. Mas já estava tudo tão bonito que parecia pronta a arrumação. Ela mora numa casa linda, espaçosa e muito confortável. Os enfeites natalinos já estavam nos lugares planejados para deixar tudo bem alegre e divertido para o Rafael, netinho deles, filho da Cássia, na casa do vovô e da vovó.
Eu vou escrever a receita do pé de moleque, mas igual ao da tia Neide, não será. O dela é único. Espero, contudo, que o gesto dela seja aprendido e replicado. Se você fizer pé de moleque ou qualquer outra coisa, pode ser que você não curta cozinhar, pode ser uma caixinha, um vidrinho decorado, um enfeitinho de tricô ou de tecido, seja lá o que for, e presentear com afeição, isso, sim, vai ser delicioso.
Bom início de semana.
Receita de pé de moleque de leite condensado
Ingredientes
500 gramas de amendoim torrado (se preferir, pode ser sem casca)
1 lata de leite condensado
1 xícara (chá) de açúcar refinado
Modo de fazer
Leve todos os ingredientes ao fogo em panela de fundo grosso. Mexa até dar ponto. Despeje numa superfície fria e lisa. Com uma espátula ou pão duro, estique a massa para que fique lisa fazendo uma camada de cerca de 2,5 centímetros. Deixe esfriar um pouco e corte os quadradinhos com a faca molhada.
A familia e os doces. O Silas fez a foto. |