Paulista adora pastel de feira. A mim, pessoalmente, representa uma memória afetiva das mais confortáveis. Desde bem pequena meus pais compravam na feira da Vila Nova pastéis do Ditinho todas as terças-feiras para nós. Segundo a minha mãe, o pastel dele era excelente por causa da massa que ele preparava. Lembro do trailler estacionado bem no meio do quarteirão da feira da pracinha Almeida Júnior lá em Itu, onde, diante dos fregueses, a massa ia sendo aberta conforme os pedidos eram feitos. Os recheios não variavam além de carne, palmito e queijo. Assim que o pedido era feito, tudo era muito rápido. E olha que tinha muita gente comprando sempre. E o sabor? Incrivelmente bom.
Foto: www.cozinhabrasileira.com |
Depois chegou uma concorrente na feira: a japonesa. Ela já tinha uma infraestrutura mais atualizada, com uma barraca igual às que vejo até hoje nas feiras em São Paulo. A japonesa vendia também rolinhos de massa de pastel para preparar em casa. Houve uma mudança no lugar da feira da Vila Nova em algum momento e isso fez com que a localização dessa barraca passasse a ser exatamente em frente ao sobrado que meu pai construiu pra gente morar. Portanto, eu já adolescente, quando abria a porta da sacada do meu quarto, avistava ali bem do outro lado da calçada a barraca de pastel da japonesa.
Na casa da minha família, todos nós comíamos pasteis de feira logo de manhã. Não tinha hora certa a partir da qual era permitido comer. Tão logo eles chegavam quentinhos em casa naquele saco de pão pardo (ou ainda na feira mesmo) eram devorados imediatamente. Diferente do que ouço o Silas falando toda vez que estamos juntos e eu quero comer pastel antes de dar meio-dia.
Foto do Blog Tour Sptrans |
Quando decidi escrever um post sobre pastel de feira, eu pesquisei um pouco sobre a origem dessa gostosura. Há quem diga que é um produto que foi adaptado da rolinho primavera chinês e também há autores que acham que eles vieram da Europa, de Portugal mais especificamente onde pesquisas históricas apontam registros de uma massa frita em óleo quente já no século XIX. Considerando a relação da minha família com os pasteis, acho que pode ter sido criado por italianos, já que nas casas das minhas avós, tanto materna quanto paterna, sempre se comeu pastel com vontade! Tenho uma recordação carinhosa do meu avô Agnelo que comprava pastel para os meus primos que ficavam na casa dele (em especial para a Cassinha, minha prima mais nova). Meu pai reproduziu isso e sempre comprou pasteis para as netas e também para o Gabriel, o único neto, caso ele estivesse por perto nalguma terça-feira.
Quando era criança, o meu era sempre de carne e os dos meus irmãos e da minha mãe, de palmito. Confesso que até hoje não gosto muito de palmito. Eu como, mas não gosto muito. Eles amam palmito! (A Euzi também… só pra constar).
Quando fiquei mais velha comecei a apreciar o pastel de queijo. O Ditinho já não vendia mais pasteis naquela feira e a japonesa era a minha fornecedora especial e eu cliente cativa. Durante anos da minha vida, eu comi pastel todas as terças-feiras de manhã, antes de ir para a escola. Os de queijo combinam muito com café preto. Só de lembrar me verte água na boca.
Hoje estava tomando um café preto e pensei naquele sabor. Lembrei que aqui perto tem um pasteleiro japonês, em frente ao sacolão de Higienópolis, na rua Veridiana. Não teria café preto, mas resolvi ir até lá para comer pastel de queijo.
Fui pesando prós e contras de botar pra dentro do meu corpo um alimento frito, normalmente em gordura saturada, mas às vezes faço concessões às calorias a mais só para ter um verdadeiro prazer gastronômico. Comer pastel de feira de carne ou queijo de vez em quando é algo que me permito porque é bom demais. Mas hoje…
Que decepção! Um dos piores pasteis que já comi na vida. Massa sem sal, engordurada, entregue com muito mau humor pelo senhor dono da pastelaria. Além disso, sem café preto, claro. Mas isso eu já sabia.
Às vezes a expectativa é muito grande e dá nisso, mas, o que me deixou ainda mais decepcionada (e irritada) é que além de o pasteleiro e de suas duas ajudantes venderem um pastel horrível, ele resolveu limpar o balcão em frente do qual eu estava. Ao invés de ter cuidado para não jogar a sujeira nos fregueses, ele simplesmente passava o pano sobre o balcão jogando as migalhas e os pingos para fora, no sentido da freguesia. Bizzarro!
Saí dali com uma sensação desagradável e acho que não valeu o crime de ingerir aquela gordura toda. Soou que fiz algo contra o meu corpo sem ter qualquer compensação prazerosa… Bobagem porque é só um pastel. Nada que eu ainda não vá comer muitas vezes, mas nunca mais nesse lugar.
São Paulo é uma cidade que preza o pastel de feira. Aqui há muitos descendentes de japoneses que vendem pasteis deliciosos. Na feira da Chácara Santo Antonio, eu comi excelentes pasteis especiais. Jarbas, Alessandra e eu, quando dava a louca em alguma quinta-feira, lá íamos na hora do almoço. Eram super pasteis, sensacionais.
Na feira da Vila Madalena aos sábados também tem bom pastel, mas esse do Sacolão da rua Veridiana, é péssimo.
Amanhã é domingo e se por acaso você for à feira e se der o direito de comer um pastelzinho bem gostoso, conte pra gente aqui no blog. Quem sabe sua sorte é melhor que a minha nessa gulodice.
Bom fim de semana!