Há quem diga que não gosta, que tem sono, que prefere ver televisão, jogar videogame, mas é preciso ler. Eu tenho uma relação estreita com a leitura desde menina, embora não seja o exemplo da leitora voraz. Confesso que passo tempos sem terminar um só livro, mas é bom dizer que não há um só dia que eu não leia alguma coisa que me prende atenção seja lá qual for.
Trabalhar em frente ao computador com a internet à disposição nos dá a liberdade de passear pelo mundo afora aprendendo e reensinando a si mesmo informações que de tempos em tempos precisam ser revistas, reaprendidas ou simplesmente relembradas porque às vezes ficaram num canto da memória que por algum motivou se atrofiou um pouco. É um processo renovador e muito prazeroso o que se dá quando, em contato com uma nova informação, acessamos nossos arquivos na memória e recuperamos dados que nem nos lembrávamos que existiam. Por isso é que de vez em quando eu releio Dom Casmurro. Para redescobrir coisas.
Minha curiosidade se aguça quando diante de um novo estímulo percebo que preciso de mais informações para criar meus próprios conceitos e desenvolver valores sobre assuntos para os quais eu nem sempre dei atenção. A gastronomia e a culinária têm sido meu foco de interesse frequente nos últimos tempos, mas nem sempre foi assim. Gostar, eu sempre gostei. Mas hoje percebo que tenho um sensível e considerável déficit de informações se eu me comparar com profissionais da minha idade que se dedicaram ao assunto desde a adolescência. Aí sinto mais pressa, quero aprender logo, como se isso pudesse tirar o atraso, se é que ele existe porque não fiquei parada durante 20 anos. Ao contrário, aprendi outras coisas e agora quero aprender essas.
É nesse contexto que a cada dia descubro uma novidade e sinto vontade de compartilhar.
Hoje, depois de alguns dias sem acompanhar meus blogs favoritos fui dar uma espiada nas últimas publicações que recebi do come-se e do e-bocalivre, respectivamente escritos pela Neide Rigo e pelo sociólogo Carlos Alberto Dória. O que tenho a dizer é que fiquei super contente com o que encontrei.
Na última publicação do come-se, a Neide, ocupada com a questão da seca no estado de São Paulo, dá dicas e sugere atitudes muito inteligentes sobre como reaproveitar a água. Eu rendo elogios ao trabalho generoso que essa blogueira faz. Acompanhar suas publicações é uma ótima oportunidade de aprender, de ganhar conhecimento de fato. Isso porque ela compartilha o que experimenta. Ela pesquisa, desenvolve habilidades e, mais que tudo, pratica cotidianamente, sem deixar para amanhã (como faz a maioria das pessoas) os conteúdos e os conceitos que tem, e não são poucos! É muito bom saber que tem gente disponível para ensinar o que sabe.
Navegando pelo outro blog, o e-boca livre, eu li uma entrevista que o sociólogo Carlos Alberto Dória concedeu a Carla Castellotti para a revista alagoana Graciliano cujo título é Prato Cheio. Gostei do que li porque fiquei ainda mais instigada a aprender sobre a história da comida no Brasil.
Como o acaso e as coincidências andam quase sempre de mãos dadas, ao ler a entrevista descobri que possivelmente, mais rápido e antenado que eu, o crítico Josimar Melo da Folha de São Paulo, também deve ter lido porque como mediador do debate sobre identidade cultural do Brasil à mesa na semana passada no seminário do Sesc (leia aqui o post no qual falo do evento) ele fez citações cujo conteúdo está presente na entrevista publicada pela revista Graciliano.
Outras coincidências. No sábado, num bate-papo com os amigos Helda e Edin Abumansur, falávamos justamente dessa questão da identidade da cozinha brasileira e houve um momento em que foi citado Câmara Cascudo, autor indispensável para quem decide saber o básico sobre a formação da culinária do Brasil. Ontem, na TV Cultura, foi apresentado o documentário Gilbertianas, sobre o sociólogo Gilberto Freyre. Enquanto assistíamos, eu comentava com o Silas a fundamental importância de ler ou revisistar Casa Grande e Senzala, por exemplo, para entender a nossa culinária.
Na entrevista de Dória, além de Gilberto Freyre e Câmara Cascudo, são também mencionados nomes de referência da gastronomia contemporânea feita no Brasil como os chefs Alex Atala, Roberta Sudbrack e Helena Rizzo. Os dois primeiros também autores de obras publicadas que tratam da Gastronomia. Cada um com seu espaço e sua contribuição específica.
Outra coisa interessante que descobri (eu já deveria saber, mas não sabia) enquanto navegava em busca da entrevista do sociólogo Carlos Alberto Dória é que existe um Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo, o C5. Se esses assuntos lhe aguçam a curiosidade tanto quanto a mim, vale a pena conhecer e seguir.
Como disse antes, é preciso ler!
A propósito, enfim, estou lendo de Ariovaldo Franco, De caçador a Gourmet – Uma história da gastronomia. Esse livro foi recomendado no semestre passado para os alunos iniciantes do curso de gastronomia. Ainda estou no começo…
Boa segunda. Ótima semana. Tomara que chova!
Para quem se interessar:
De caçador a Gourmet – Uma história da Gastronomia
Autor: Ariovaldo Franco
Editora Senac
São Paulo, 2001.
Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu
Autor: Roberta Sudbrack
Editora Tapioca. São Paulo, 2014.
História da Alimentação no Brasil
Autor: Luiz da Câmara Cascudo
Editora Global. 1a. edição – 1983, escrito em 1962, 1963.
Casa Grande & Senzala
Autor: Gilberto Freire
Ano: 1933.
Do autor Carlos Alberto Dória
Formação da Culinária Brasileira – Escritos sobre a Cozinha Inzoneira
Editora: Três Estrelas. São Paulo, 2014.
A Culinária Materialista – A Construção Racional do Alimento e do Prazer Gastronômico
Editora: Senac. São Paulo, 2005.
Estrelas no Céu da Boca | – Escritos Sobre Culinária e Gastronomia
Editora: Senac. São Paulo, 2006.
Com Unhas, Dentes & Cuca: Prática Culinária e Papo-cabeça ao Alcance de Todos
Autores: Alex Atala e Carlos Alberto Dória
Editora: Senac. São Paulo, 2008.