De viagem marcada para Alter do Chão na próxima sexta-feira, resolvi pesquisar na internet o que encontrarei por lá. Confesso que comecei a ficar um pouco angustiada quando vi que somente o óbvio é oferecido a respeito do lugar, quero dizer, hospedagem, relação dos pontos turísticos, uma breve lista de restaurantes e algumas referências sobre o que comer.
Eu queria saber mais. Tentei juntar um pouco do que aprendi.
Alter do Chão é um distrito do municipio de Santarém no Pará. Lugar de praia de rio, com areia fina e branca, é considerado o Caribe do Brasil. A praia fica à margem direita do rio Tapajós, portanto, de água doce. Fica a 37 quilômetros do aeroporto de Santarém, seguindo por uma rodovia asfaltada chamada Everaldo Martins.
Quando comecei a pesquisar, encontrei um guia na internet sobre Alter do Chão. A partir desse guia fiquei super curiosa sobre o Sairé, uma festa que ocorre no mês de setembro e que faz com que os preços das hospedagens subam muito. Trata-se de uma antiga manifestação da cultura popular da Amazônia que ocorre há mais de 300 anos, com simbolismos que remontam às missões evangelizadoras dos padres jesuítas com os indios na região.
O Sairé festejado no mês de setembro com um ritual religioso, durante o dia, culminando com a cerimônia da noite, quando são feitas ladainhas e rezas. Depois, vem a parte profana da festa, com shows artísticos e apresentações de danças típicas e pelo confronto dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, ponto alto da comemoração.
A festa deve ser muito interessante, mas, lamentavelmente, a oportunidade da minha viagem não tinha datas convergentes com o Sairé em 2014.
Outra coisa que me chamou bastante atenção foi a piracaia, que quer dizer peixe assado no braseiro. Atualmente, pelo que li, essa prática foi transformada em atração para os turistas, inclusive, há uma reserva extrativista do outro lado do rio Tapajós, na qual as comunidades ribeirinhas de Aña, Arimum e Atodi costumam receber visitantes com ótima piracaia. Espero que consigamos ter a oportunidade de desfrutar.
Eu pesquisei a comida típica do lugar e encontrei destaques para as farinhas da mandioca e para os peixes, entre os mais citados estão o tucunaré, o tambaqui e o pirarucu. Além disso, há uma verdura chamada jambu que está presente em muitos dos pratos. Uma das iguarias que me apeteceu muito foi o bolinho de piracuí, embora eu não goste muito de frituras, vou provar!
Pelo que entendi, a comida do Pará é considerada a mais brasileira de todas porque tem mais influência indígena do que nos outros estados, tendo sido pouco influenciada pela cultura africana e europeia. Não encontrei forte destaque para as frutas, exceto o açaí, que ao que parece é comido de inúmeras formas.
Ilha do Amor, Alter do Chão. Foto do blog de José Ronaldo Dias Campos |
Alter do Chão. Foto de Santarémemconexão.com.br |
Entre as atrações turísticas está a Floresta Nacional do Tapajós, o Lago Maicá (que está mais perto da cidade de Santarém do que de Alter do Chão), o Bosque Santa Lúcia (cheio de flores e pássaros) e a praia de Cuipiranga de onde sai uma trilha para a Vila Amazonas e onde dá pra ver a imensidão do rio Amazonas. Eu estou louca pra ver, mal posso esperar.
Ah! Como as viagens nos dão chance de aprender coisas, não? Eu soube que há uma cidade fantasma lá pertinho de Alter do Chão. Chama-se Fordlândia e foi fundada por Henry Ford, quando ele decidiu industrializar a extração da borracha naquela região na primeira metade do século XX. Deu errado e a cidade ficou parada no tempo, depois se foi esvaziando. Mas ainda sobrou Belterra, outra cidade fundada pelo criador da linha de produção ou, para quem prefere, dos carros Ford.
Mais que tudo, nessa minha pesquisa, eu, que ando super ligada nesse lance da falta de água, seja pela situação do Sistema Cantareira que abastece São Paulo ou porque meu povo lá em Itu está sofrendo horrores há meses sem água, descobri que Alter do Chão é um aquífero com duas vezes o volume de água do nosso conhecido Aquífero Guarani.
Li uma entrevista feita com um engenheiro civil especializado no Aquífero Alter do Chão que essa reserva de água é quase o dobro do Guarani devido à sua formação geológica mais porosa. São estimados 86 mil quilômetros cúbicos de água, o que, potencialmente, poderia abastecer a população mundial cerca de 100 vezes. Mas há um consenso entre os pesquisadores sobre o “não uso” dessa água, uma vez que o bicho-humano é devastador com a natureza e poderia por em risco todo o ecossistema mais uma vez.
O Aquífero Alter do Chão fica no subsolo de parte dos territórios dos estados do Pará, Amazônia e Amapá. Se o que eu penso sobre as constantes guerras no Oriente Médio for verdade, ou seja, que a briga por lá transcende valores religiosos e está muito além do petróleo, o ouro negro, e que por trás disso tudo está a briga pela água, então, temos que ter cuidado. Motivo não nos falta para cuidarmos da nossa região Amazônica, que é do mundo, mas está em território soberano do Brasil.
Na sexta, depois de algumas boas oito horas de voo devo chegar a Santarém e de lá vamos para Alter do Chão. Ao chegar, a pesquisa será in loco. Não vejo a hora.