Tem amigos nessa vida que são da vida inteira. Gente que é mais que passageiro, é como irmão, a gente ama visceralmente e sempre pode contar, principalmente nas horas mais dificeis. Tem gente que é socorro na certa! Sempre pronto para cuidar.
Essa descrição vale pra gente como Amélia do Tonico e Cristina da Amélia, respectivamente, mãe e filha. É da Amélia que veio a receita do rocambole de goiabada que eu publico hoje. Não sem antes contar a história.
Amélia e Tonico eram casados e moravam no fundo de uma casa que era vizinha de frente da casa da minha avó. No lugar, se não me engano, onde depois ficou morando a Esmeralda, mulher do cego Juvenal, os pais da Áurea, que era minha amiguinha de infância. Brincamos muito juntas no balanço da casa dela.
Mas o que interessa é que Tonico e Amélia, pais da Cristina, por quem minha mãe sempre teve paixão desde que ela era muito pequena (minha irmã também é Cristina, deve ter algo a ver), tinham um bar na esquina da rua Patrocínio, num prédio do Miro e da Tere, tios da Helô. Confuso? Que nada!
A dona Amélia sempre cozinhou muito bem e além disso sempre contou estórias com forte carga dramática e muita graça, o que me fazia amar cada detalhe das personagens e enredos que ela descrevia. Fosse a temática uma matéria de revista que ela tinha lido ou a vida de uma pessoa conhecida, tanto fazia, o jeito dela ao narrar os conteúdos sempre me fascinou.
Como Amélia cozinhava bem, ela fazia esfirras, coxinhas, croquetes e outros salgados para vender no bar. Mas ela tinha outra fantástica habilidade gastronômica, fazia como ninguém arroz doce e rocambole de goiabada. Bah! Que estrondo! Meu tio Divaldo amava.
De vez em quando, eu já era adolescente nessa época, ela aparecia na casa da minha avó com uma travessa enorme de arroz doce e um rocambole. Dizia que tinha sonhado com Divaldo e que no sonho ele estava com vontade de comer aqueles doces. Então preparava, às vezes até fazia um tanto separado para Aldemir, que tinha diabetes, então ela fazia com adoçante o arroz doce pra ele.
Cristina fez faculdade em São Paulo, Tonico vendeu o bar e ele e Amélia foram morar por um tempo num sítio. Um lugar muito lindo lá pelo km 80 da Castelo Branco, onde eles tinham vaca, galinha, plantavam milho e eram felizes. Depois ele ficou doente e eles se mudaram de novo para a cidade. A Cristina sempre viajando, fazendo ponte-aérea na Vale do Tietê, de Itu pra São Paulo e de São Paulo pra Itu, para cuidar dos dois, já que ela é filha única e, embora socorra os outros, nunca pede socorro.
Ele morreu há alguns anos e, de vez em quando, eu sonho com ele. Tonico me deixava entrar atrás do balcão do bar para escolher o doce que eu quisesse na vitrine. Só eu, nenhuma das outras crianças tinha esse privilégio e eu me sentia muito especial por isso. Eu era a caçula entre as crianças, devia ser por isso, ou porque ele gostava de mim tanto quanto eu gostava dele.
As duas continuam nossas amigas como sempre foram. Gente que pode entrar em casa, sem cerimônia, abrir a geladeira e reclamar da vida, mas que só podem isso porque nunca perdemos o respeito uns com os outros. Amizade genuína, de corpo, alma e coração dessa e de outras vidas, se é que elas existem.
Rocambole de Goiabada da Amélia
Ingredientes
4 ovos
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
2 xícaras (chá) de açúcar
1 copo de leite fervendo
1 colher (sopa) de margarina
1 colher (sopa) de fermento.
Modo de fazer:
Claras em neve. Bater as gemas com o açúcar, colocar a farinha e mexer. Leite fervendo e margarina (juntos) em seguida. Por último o fermento.
Obs : Asse em forma retangular untada e polvilhada com as laterais baixas por cerca de 20 minutos. Pode ser forma de pão de ló.
Recheio
Derreta um pacote de 250 gramas de goiabada na panela com duas colheres de água.
Montagem
(Essa descrição é minha porque na receita não tinha essa parte, mas eu já vi fazendo e também fiz esse rocambole).
Com a massa ainda quente, vire-a sobre um pano de prato úmido estendido numa superfície plana. Derrame o recheio de goiabada (pode ser doce de leite, se preferir) sobre a massa e enrole no sentido horizontal.
Polvilhe açúcar de confeiteiro ou refinado sobre o doce.
Espere esfriar para servir, se conseguir, claro!
Um dia desses conto a receita da torta de amendoim da dona Amélia, que ela fez pra Giovana, 17, a caçula atual, filha da minha irmã Cristina.
Coisa boa. Amizade verdadeira,acompanhada de comida do coroção.
É isso mesmo, Ellen! Adorei te ver por aqui. Beijão.