Você já parou para se perguntar o que faz um lugar, como uma casa, ser aconchegante? Por que será que há lugares onde a gente entra e o santo não bate, mas tem outros que tem tudo a ver?
Eu que não sou arquiteta, mas sou a mais animada decoradora-amadora, tenho fissura por revistas e sites com fotos de interiores. Acho os editoriais de decoração fantásticos. Sou capaz de ficar horas observando cada detalhe de uma foto que tenha uma estante, um armarinho de cozinha ou uma moldura num espelho, só imaginando um lugar em que aquilo poderia servir na minha casa ou na de alguém que eu conheço. Outra coisa que eu adoro são aqueles programas de TV que fazem modificações nos ambientes transformando-os em espaços lindos e com um tanto da personalidade do dono. Uma arte a meu ver.
As fotos falam muito, não há dúvida. Os profissionais que trabalham nessas transformações são verdadeiros magos. Eles entendem mesmo de cor, iluminação, proporção, contraste, e tudo o mais que é técnica para atingir bons resultados na busca do aconchego.
Mas uma casa aconchegante, arrisco dizer, é aquela que tem vida. Pra mim, a vida se manifesta em cheiro de café logo de manhã, antes mesmo de abrir as janelas, no barulho do trinco girando na porta quando alguém que a gente espera está chegando, no piano repetindo uma sequência de notas quase insuportável ao ouvido que chega a parecer tortura, mas é música quando amamos quem toca, em fogão sujo de comida que acabou de ser feita porque os filhos apareceram de repente…
A entrada de luz natural numa casa muda a qualidade de vida das pessoas para melhor. O mesmo ela faria com os deprimidos dos escritórios que não veem a cor do sol durante todo o dia, às vezes sequer sabem se está chovendo ou nublado porque não saem nem para almoçar.
Sempre gostei de trabalhar onde eu podia ver a luz. Agora, trabalho várias horas do dia na cozinha e outras várias no home office, que foi planejado para o Silas, mas eu fiquei com um espaço bem perto da janela, portanto tenho luz natural sempre.
Esta manhã enquanto preparámos o café, a Bruna, o Silas, a Nina (a gata preta) e eu na cozinha, falávamos do método para alunos iniciantes de piano. A Bruna, que estuda música, dizia que isso era a coisa mais chata de se ouvir repetidas vezes. E é mesmo. Mas creio que pode irritar ou não, tudo vai depender de como você sente aquilo. Eu até disse a ela que ouvia música quando o Silas estuda piano. Virou uma gargalhada só…
O lance é que uma casa para ser feliz e harmoniosa precisa ter, além de luz natural, amor.
Então, segue aqui uma receita da minha avó Angelina de um bolo branco que é só amor.
Bolo Flor de Maio
Ingredientes
3 ovos (claras e gemas separadas)
2 xícaras (chá) de açúcar
2 colheres (sopa) de manteiga bem cheias
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
2 xícaras (chá) de leite
1 pitada de sal
2 colheres (sopa) de fermento
Modo de fazer
Bata as claras em neve e reserve. Numa tigela grande bata as gemas com o açúcar e a manteiga. Depois de bem batidos esses ingredientes, tendo uma massa bem clara, alterne a farinha de trigo e o leite. Cololque a pitada de sal. Acrescente as claras batidas em neve e as duas colheres de fermento. Leve para assar em forma retangular no forno pré-aquecido por cerca de 40 a 45 minutos, temperatura de 200 graus.
Esse bolo, minha avó fazia todo sábado à noite, logo depois da novela das oito. Ele era batido na mão porque na casa dela não tinha batedeira. Quando nós estávamos lá, minha irmã Cristina batia a massa e eu, como era menor, as claras em neve.
Em pé, Cris, e ao fundo, Júnior, meus irmãos; minha avó Angelina comigo e com a Dadá no colo, e a Rose, minha prima com a flor na boca |
A casa de minha avó era muito simples, de gente pobre, daquelas antigas com tijolos no chão, sem forro e com frestras por onde o frio entrava que eram tapadas com cortinas feitas por ela mesma ou cobertores enrolados no auge do inverno. Esse é o lugar mais aconchegante que eu já estive em toda a minha vida. Nenhum arquiteto ou decorador poderia reproduzir.
Eu daria qualquer coisa para sentir de novo aquele cheiro do bolo Flor de Maio cortado em losangos servido para a tia Matilde e minha madrinha Ana junto com o cafezinho no domingo à tarde. O mesmo bolo simples que me fez ouvir outra vez, agora enquanto escrevo, o garfo batendo num prato branco fundo lascado, enquanto eu tentava formar neve com as claras, mas era pequena demais para conseguir.
Se fizer (o bolo), traga um pedaço!
uma fresta de luz, um pedaço de bolo branco e amor. quem precisa de mais? amei o post!! 🙂 <3