Graças à falta d’água em Itu, que gera um transtorno considerável para quem tem que lavar a louça logo depois do almoço, e ao fato de que o Silas não é ituano e nunca tinha ido ao Bar do Alemão, essa foi a nossa opção de restaurante de hoje.
Eu não ia ao Bar do Alemão há cerca de 20 anos, talvez pouco menos, mas sem dúvida há tempo suficiente para que a minha própria memória já pudesse me enganar reconstruindo o espaço como eu mesma o quisesse. Para minha surpresa, nada me foi estranho. Minha memória não me trapaceara.
O Bar do Alemão em Itu
Ambiente – A mesma suntuosa mobília escura logo na entrada do amplo hall onde ficam mesinhas redondas para a espera de mesas ou o aperitivo e o grande balcão onde estão as chopeiras dá, ao mesmo tempo, a impressão de aconchego e a sensação de se ter entrado num ambiente internacionalizado. O pé direito alto do hall em harmonioso contraste com o amplo salão intermediário no qual o teto é mais baixo oferecem a ideia de que há algo mais a ser visto.
Estivemos no Bar do Alemão em Brasília no ano passado que, exceto pelos itens do cardápio, em nada lembra o tradicional restaurante Steiner de Itu. Lá, à beira do Lago Paranoá, as mesas mais disputadas são as da grande varanda que acompanha uma parede de vidro atrás da qual está o balcão. A mobília é mais leve e arrojada.
Em Itu, no salão principal, mesas redondas, quadradas e retangulares de madeira, se distribuem cobertas por toalhas e cobre-manchas brancos, onde o mise en place básico de louça também branca e talheres de boa qualidade aguarda pelos clientes cheios de apetite.
Com cerca de 70% da casa tomada (somente no salão principal do piso que dá pra rua), o barulho de vozes enchia o ambiente familiar, lembrando um restaurante em que toda a família se junta para comer muito e permanecer por bastante tempo, enquanto as crianças fugidas dos cadeirões correm de um lado para outro, pretensamente incomodando os demais visitantes. Eu, pessoalmente, acho até divertido. Os garçons, já não sei se concordam comigo.
Atendimento – Tão logo chegamos, o maitre nos questionou sobre o número de pessoas e nos conduziu a uma mesa ao fundo do salão principal onde os antigos vitrais são transpassados pela luz natural dando um breve colorido ao local. Eles evitam que se perceba claramente que o local é fechado e climatizado com ar condicionado.
Assim que nos sentamos, dois cardápios à mão, ficamos à vontade para escolher o que comer. Na primeira página, um pouco da história do bar.
Lugar com passado histórico
História – O Bar do Alemão começou em 1902, quando Max Steiner abriu uma padaria na rua Paula Souza. Bom comerciante e figura generosa, ele ampliava a clientela tratando os que frequentavam o lugar para comer os salgadinhos feitos pela D. Rosalina, sua mulher, como amigos. Foram eles os responsáveis pela primeira ampliação do local.
A meu ver, o jeito no trato dos clientes foi passado de geração em geração. Digo isso, porque me lembro do amplo sorriso com que Herbert, um dos netos, recebia as pessoas lá nos idos dos anos 80 ou 90.
Comida/bebida e serviço – Como já previa, não pude apresentar ao Silas o chopp da Antártica geladíssimo por muitos metros de serpentina que tantas vezes brindamos entre amigos ituanos.
A carta de bebidas servidas no Alemão traz como carro-chefe agora (e já faz bastante tempo) a referência mais conhecida entre as marcas fabricadas em Itu. É Schin, que, de Itu, tem a procedência e a história, uma vez que operação agora é toda Brasil Kirin, empresa que compõe o portfólio da globalizada Kirin Holdings Company.
Escolhi um chopp de trigo da Eisenbahn (weisenbier) e meu marido um Baden Baden de cevada mesmo. Minha mãe optou pela não alcoólica coca zero.
No cardápio, pratos alemães, mas, para de fato mostrar a prata da casa ao ilustre visitante que se casou com uma ituana legítima, o famoso filé à parmegiana do Alemão não poderia faltar.
A qualidade permanece e o tamanho também. Talvez o que não permaneça seja a franqueza do garçom quanto a quantidade de comida que seria servida. Ao ser perguntado sobre o tamanho do prato, ele respondeu que o mini serviria duas pessoas. Comemos em três e saímos além de satisfeitos.
Aqui vai a minha crítica sobre a importância de se confiar no atendimento de um lugar. Um garçom precisa ser absolutamente honesto com seu cliente. Com a ração e o bolso alheios não se deve abusar. Por dois motivos básicos e simples: comida não se joga fora, ainda mais a de boa qualidade, e a dinheiro não se faz desaforo. Rasgar dinheiro é uma escolha do dono.
Dito isso, a comida veio boa. O filé fininho e bem macio, forrado à milanesa crocante e coberto com molho de tomate e queijo espesso e apurado na medida. Nem pra mais, nem pra menos. Acompanha o arroz, que não fala mal de ninguém, mas não tem absolutamente nada a ser dito sobre ele.
Pra mim, o melhor são as batatas. Fritas gordinhas crocantes por fora, tenras por dentro e irregulares no tamanho e no corte. Deliciosas.
Uma boa experiência para quem estava conhecendo como o Silas.
O serviço à inglesa indireto foi cumprido sem grande graça, embora na saída o Cosme, garcom que nos atendeu, tenha falado um pouco sobre a nossa primeira vez na casa, digo, a de um de nós. Ele foi simpático e cortês, mas não se esforçou muito para que a receita do restaurante aumentasse. Não nos pôs água na boca quanto às bebidas, sobremesas ou café.
Nosso tempo de permanência no local não excedeu uma hora e pouco, embora as cadeiras fossem confortáveis e a temperatura agradável.
Preço – O bife à parmegiana mais as bebidas que mencionei custaram juntamente com as batatas, que são cobradas à parte, cerca de R$ 170.
Estacionamento – Não usamos o serviço do manobrista, que por sua vez tampouco foi simpático quando nos encontramos em frente à praça da igreja do Bom Jesus.
O dilema do crescimento e das parcerias
Quando eu ia ao Bar do Alemão há 25 anos, os garçons e o maitre conheciam todos os ituanos que o frequentavam. Hoje o restaurante tem unidades em vários outros locais como Campinas, Brasilia e São Paulo. Com isso, o restaurante não parece mais apenas dos Steiner. Ele tem também a cara dos parceiros e, certamente, um tanto da ideia deles. Deve ter sido isso que fez com que os garçons estivessem vestidos com uma fantasia de alemães como se faz em Blumenau. Por mim, seria mantida a seriedade do restaurante tradicional, mas a vida muda e o turista gosta da indumentária.
Saímos satisfeitos com o que comemos, sem estar necessariamente encantados. Um olhar mais detido às vitrines das prateleiras que cobriam algumas das paredes, vimos que souveniers estilizados como alemãezinhos estão à venda. Bonitinhos, mas meio nada a ver. Coisa também pra turista, mesmo que este esteja em Itu e não na Alemanha.
Um brinde aos amigos queridos de Itu à moda antiga, com chopp e provolone à milanesa no Bar do Alemão (coisa que, diga-se por curiosidade, só comíamos quando a mesada ficava corrigida acima da inflação). Bons tempos aqueles. E esses de hoje também.
Serviço
Bar do Alemão de Itu – Bar do Alemão
Rua Paula Souza, 575 – Itu – São Paulo – tel. 11 4011-4284