Eu leio a Nina Horta há anos. As quartas-feiras são sempre esperadas porque tem texto dela no caderno de comida da Folha de São Paulo.
Outro dia fui à biblioteca da faculdade e encontrei um exemplar do livro dela Não é Sopa – Crônicas e receitas de comida, editado pela Companhia das Letras, em 1995. Emprestei o livro e logo quis ler tudo. Embora eu tenha querido devorar cada crônica imediatamente, não foi o que aconteceu. Eu já precisei renovar três vezes o empréstimo, sendo que existe um limite para renovações de uma mesma obra na biblioteca. Isso ocorre quando outra pessoa fez reserva do livro.
Interessante é o motivo de não ter lido de uma tacada só. Esse é um livro pra ter, para reler, para reviver histórias que não são suas, mas que parecem com a sua vida ou com a de alguém bem próximo que você gosta muito.
Tem um capítulo, o On the road para o qual eu já voltei 20 vezes e reli Nova Iorque com imenso prazer. É aquele caso que faz com que o bom leitor da boa leitura sofra um processo de “mind-transportation” para a Big Apple tão logo bata os olhos nas primeiras linhas.
Nina Horta, uma referência
Só pra ser mais prática e não ficar aqui na maior rasgação de seda, até porque dizem que gosto não se discute, os textos da Nina Horta são bons. Explico o porquê. São leves, fluidos, muito informativos e coerentes com o que se propõem e extremamente sensoriais.
Segundo a wikipedia:
O sistema sensorial é a parte do sistema nervoso responsável pelo processamento de informações sensoriais. O Sistema sensorial consiste nos receptores sensoriais, nos neurônios aferentes, e nas partes do cérebro envolvidas no processamento da informação. Os sentidos são os meios através dos quais os seres vivos percebem e reconhecem outros organismos e as características do meio ambiente em que se encontram — em outras palavras, são as traduções do mundo físico para a mente. Os mais conhecidos são cinco: visão, audição, tato, paladar e olfato. .
Quando se lê: “comida de alma é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada, na hora de dor, de depressão, de tristeza pequena”, a gente sente o que é, sabe que cheiro tem isso, qual é o gosto e a textura, dá pra sentir no paladar aquele cheiro de café com leite de mãe com carinho, de vó com um copinho de geleia de mocotó líquida ou um ovinho cozido na casca. Por isso é sensorial.
Tem gente de quem a gente gosta porque já viu, conhece, é amigo, sabe o jeito, admira a alma, não importa muito o motivo. A gente gosta e tá bom assim. Eu me inspiro na Nina Horta (a minha gata preta é a Nina Paçoca, não tem nada a ver) sem nunca tê-la visto porque seus textos mostram um jeito simples (e por isso mesmo muito sofisticado) de contar a vida, de falar segredos, de repartir, partilhar.
Se você quiser história, leia. Se quiser causo, leia também. Para fugir da solidão, ler é uma boa, para ficar só, mais ainda! De presente, no caso do Não é sopa, vem receita, cheiro, saber e sabor.
Segundona começando, mês de maio acabando… semana longa de muitas tarefas, provas e oportunidades pra ver a vida de um jeito melhor. Que tal separar um tempinho pra ler?