Um dos coquetéis mais populares da atualidade, o Negroni é uma mistura simples de proporções iguais de Campari, vermute doce (um vinho com infusão de ervas), gim e uma pitada de laranja. Segundo o ator Orson Welles a bebida é uma ótima pedida porque “os amargos são bons para a saúde e o gim faz mal. Eles se equilibram”. A declaração, de 1944, ainda não foi confirmada pela OMS (nem desmentida!).
Ao longo dos anos o drink ganhou uma NEGRONI WEEK – celebrada em junho desde 2013 – e muitas variantes. A mais recente – o Negroni Milanese Riposato – chega ao Brasil neste final de ano (e que ano!) e traz toques de sofisticação e exclusividade.
Eu, que moro com um amante de sabores amargos – os bitter, como são conhecidos na coquetelaria – fui logo conferir a novidade. Aproveitei para pesquisar sobre o néctar e trazer dados interessantes para a coluna. Confira a seguir.
É preciso provar 3 vezes antes de rejeitar
A bebida pode não agradar à primeira vista, já que o toque amargo desencoraja consumidores mais chegados em notas adocicadas. Os criadores italianos dizem que é só uma questão de perseverança (!). Seria preciso prová-lo 3 vezes antes de realmente apreciá-lo.
Uma dica minha é combater o amargor com sal – como fazem os próprios italianos: é usual que os bares sirvam petiscos para acompanhar os drinks – normalmente batatas chips mas até pipoca já vi. É uma ótima estratégia para “incentivar” o consumo, e bem poderia ser adotada por aqui. #ficaadica
Selo de qualidade: Hemingway era fã
Nunca li Ernest Hemingway mas sou fã do seu estilo bon vivant. Nunca procuro por ele, mas sempre que descubro um lugar legal em minhas viagens fico sabendo que Hemingway era habitué. Tanto que já adotei como selo de qualidade: se Ernnie gostava, é porque é bom (invariavelmente há bebidas alcoólicas envolvidas).
Na verdade não encontrei evidências do amor do escritor pelo Negroni, apenas uma citação em sua obra “Across the River and Into the Trees“: “Eles estavam bebendo Negronis, uma combinação de dois vermutes doces e água com gás”. Considerando que essa receita é, na verdade, de um drink chamado Americano, talvez Hemingway não fosse tão fã assim da bebida (ou talvez já tivesse bebido muitos e se confundiu).
Italiano filho de Americano
A origem do drink é controversa, mas a versão mais aceita reza que o conde italiano Camillo Negroni era assíduo bebedor do drink chamado Americano (Campari, vermute doce e água com gás com um toque de casca de limão), e certo dia pediu uma turbinada: substituiu a água com gás por gim. O barman, Fosco Scarselli, teria acrescentado seu toque pessoal substituíndo o limão por laranja e voi lá! Nasceu o Negroni.
Isso teria ocorrido no finado Café Casoni, em Florença, em 1919.
Sbagliato – o Negroni errado que deu certo e outras variações
A receita é simples e derivou muitos outros drinks. O mais famoso talvez seja o Negroni Sbagliato – Negroni Enganado, numa tradução livre. Sua origem seria o “engano” do barman ao usar prossecco em lugar do gim. Pra mim não houve erro e o barman estava preparando um Spritz original – aquele criado no Vêneto antes de Aperol existir.
Outras variações incluem o Old Pal e o Boulevardier , que são à base de uísque de bourbon ou de centeio no lugar do gim. Novavelmente, há controvérsias sobre quem criou quem e quando. O único ingrediente indispensável seria o Campari. Alguns sugerem que esses coquetéis foram realmente criados antes do Negroni, não depois dele.
Portland, quem diria, é a meca do Negroni
Parece improvável, mas de alguma forma Portland acabou se tornando um polo de Negroni. Desde os drinks envelhecidos em barris criados por Jeffrey Morgenthaler, a Negroni Social, criada em 2010 para arrecadar fundos para a Outside In, uma instituição de caridade que trabalha com jovens sem-teto e acabou evoluindo como a Negroni Week em 2013, hoje já de âmbito mundial.
Melhor Negroni de São Paulo
eu não tenho opinião formada a respeito, mas o cara que mora na minha casa e que adora bitter tem seu eleito. Após testar vários ele se decidiu por um restaurante minúsculo na Vila Mariana – o Restaurante Ordinário. Na última vez que eu chequei eles só estavam abrindo aos finais de semana e, ainda assim, apenas para delivery e take away. Sério, tem 6 mesas e com as medidas de distanciamento, não haveria condições de servir no local. A boa notícia é que eles fazem o Negroni pra viagem!
Se você tambem é fã e tem seu “escolhido”, me conta nos comentários que eu quero submeter ao crivo do meu expert!
Negroni Milanese Riposato
Chegando ao Brasil neste final de 2020, o Negroni Milanese Riposato nasceu a partir do hobby de um apreciador, Enrico Milanese, testando na garagem com barricas antigas.
As escolhidas para profissionalizar a empreitada foram as barricas francesas de vinho do Porto (estágio por 2 meses). O gim escolhido também se destaca: o Minna Marie foi laureado com a dupla medalha de ouro no Concours Mondial de Bruxelles em 2018.
A produção é limitada a 300 garrafas por tiragem. Numeradas, para alegria de colecionadores. São 29,5% de álcool e o preço sugerido começa em R$145,00.
Para apreciar, basta acrescentar gelo – lembrando que os experts afirmam que o autêntico Negroni deve ser construído (não derramado!) em cima do gelo em que será servido. Uma leve mexida (preferencialmente com o dedo, segundo Gary “Gaz” Rega, autor do livro The Negroni: Drinking to La Dolce Vita, with Recipes & Lore) e finalização com casca de laranja – que pode ser maçaricada antes para a caramelização dos óleos se você quiser ser chique mesmo!
Amo negroni. Tem sido meu drink.