Barolo ou Barbaresco? Que tal os dois? Conheça as similaridades e diferenças desses dois grandes Bs italianos.
Ah, os vinhos italianos…
A Itália não é fácil. O maior produtor mundial de vinhos (só perde para a França em alguns anos), além do grande volume, é berço de uma enorme quantidade de uvas nativas poucos conhecidas fora das regiões produtoras: e todas as regiões na Italia são produtoras de vinho!
Apenas as variedades autorizadas pelo Ministério de Agricultura e Florestas são mais de 350, mas estima-se que mais de 500 variedades circulem pelo país. Apenas como referência, o segundo maior produtor mundial – a França – produz quase a totalidades de seus vinhos com apenas 60 variedades!¹
Mas se nem as 60 francesas temos a pretensão de conhecer, melhor reduzir expectativas com relação às italianas também. E neste mar de uvas, uma das que mais se destaca é a variedade Nebbiollo, no Piemonte. Uva delicada, de trato melindroso e casca fina – dá origem a 2 dos vinhos mais famososo de toda a Itália: Barolo e Barbaresco.
A majestosa Nebbiolo
Produzidos a partir da mesma variedade, em regiões muito próximas numa localidade específica, Barolo e Barbaresco apresentam perfis aromáticos semelhantes: complexos, com características notas de cerejas, rosas, couro e especiarias. Em boca, no entanto, as diferenças no terroir se revelam. Numa época politicamente menos correta que essa nossa, o Barolo era chamado de “o vinho dos reis” e o Barbaresco “o vinho das rainhas”, em alusão ao corpo mais suave e aveludado do segundo.
A cor é típica: clara como um Pinot Noir. Os taninos, no entanto, podem surpreender os desavisados por sua firmeza e abundância. Essa diferença dos taninos produzidos pela mesma uva nos distintos terroirs das regiões demarcadas de Barolo e Barbaresco se deve ao melindre e dificuldade de maturação mencionadas: a elevada demanda por luz e calor para a completa maturação evidencia os locais beijados pelo precioso Sol com mais carinho: as famosas encostas com inclinação sul, assim como acontece nos Grand Crus da Borgonha.
A importância do terroir
Os solos, claro, apresentam diferenças decisivas para a formação dos taninos com as distintas qualidades que caracterizam os dois vinhos. E a composição dos solos segue um padrão de variação que é função do rio Tanaro, o principal por ali. Estudar vinhos é tão fascinante porque é multi disciplinar!
A temperatura média em Barolo e Barbaresco é marcadamente diferente, apesar dos apenas 26 km que separam as cidades que dão nome aos vinhos. Tão marcadas que a colheita chega a ser realizada em Barbaresco até 1 mês inteiro antes que nos vinhedos mais frios de Barolo. Novamente, conhecimentos de geografia nos indicam que a principal responsabilidade por essa diferença recai aos imponentes Alpes, ali vizinhos.
A influência humana no terroir é muitas vezes obscurecida pelos fatores naturais, mas é uma influência marcante! Rodrigo Ferraz, no podcast SV#100
Por fim, não menos importante, temos o fator humano compondo o terroir, como bem lembrou Rodrigo Ferraz no episódio sobre curiosidades dos vinhos do podcast Simples Vinho (ouça aqui). Os Barolos tradicionais eram feitos para serem “amaciados” em garrafa por 20 anos, mínimo. A dificuldade de equilíbrio financeiro advinda desse ciclo ultra longo levou alguns produtores a desenvolverem um novo estilo: menos extraído e que pode ser apreciado em menos tempo.
Os famosos Barolo Boys foram motivo de muito drama, como sempre ocorre no mundo vinho (e nas mudanças em geral). Gera discórdia até hoje e criou distintos estilos de Barolos, diminuindo a distãncia com os Barbaresco nos casos de mais “modernidade”.
Toda essa história e detalhes – georgráficos e picantes – estão contadas no episódio SV#99 – Barolo x Barbaresco. Ouve lá e, caso se veja confrontado com essa questão no futuro, responda: os dois! (ou esse ou aquele )