Por Daniela Narciso
Sim, sou daquelas que se tiver uma farofinha à mesa, já estou feliz. Como pura, pico uma banana em cima, amasso com vinagrete, misturo no feijão com arroz e, se tiver um ovo frito por cima, eu vou ao delírio!
Minha boca se enche de água quando eu penso nas farofas que eu gosto e faço… a de repolho com maçãs e pato, a de bacalhau com grão de bico, a de peixe com banana, e a roupa velha estão entre minhas preferidas e nunca decepcionaram nenhum convidado à minha mesa.
Eu tenho uma relação muito forte com a farofa, e acho que muitos brasileiros se identificam com isso também. E a história do livro começou assim, numa conversa na cozinha entre eu e o Danilo Rolim (coautor do livro) porque eu sou da região onde se come farofa de farinha de mandioca, e o Dan come farofa de farinha de milho.
Começamos a discutir receitas, estávamos preparando o nosso almoço quando a conversa começou e acabou que nossa refeição se resumiu a vários tipos de farofa. Foi então que começamos a buscar um livro de farofa e não existia. Concluímos que este seria nosso livro: Farofa.
É incrível que, quando comecei a falar do livro para as pessoas, cada um dava uma receita diferente e dizia: essa receita não pode faltar no livro! E assim fomos compondo. Foi fácil fazer quase cem receitas. O difícil foi achar um fim para o livro, limitar quantas farofas teríamos. Comi e provei todas. Testamos uma a uma, ajustamos sabores e ingredientes.
Eu sou muito farofeira, e falo isso de boca cheia, não de farofa, claro (risos).
Amo tanto a farofa que acho que um dos primeiros poemas que decorei na vida, foi o “Para viver um grande amor” de Vinicius de Moraes que tem um trecho que diz:
“E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?”
Farofa para mim é a mais pura representação do amor! E na minha família cada um faz uma farofa diferente e deliciosa. Tenho memórias afetivas muito presentes que incluem a farofa. Me lembro, bem criança ainda, mal alcançava no fogão, e minha tia avó Enedina me dava um banquinho para cheirar a farofa me ensinando que, quando exalava o aroma de castanhas tostadas, aquela manteiga borbulhando com um pouco de farinha que começava a dourar, estava pronta para receber os demais ingredientes e mais farinha.
Outra memória que me enche de alegria era a galinha com farofa que minhas tias preparavam para comermos em viagem quando a família descia em comboio da serra para o litoral. Imaginem que era uma caravana de mais de dez carros lotados (vale ressaltar que meus avós paternos tiveram 13 filhos e 33 netos). E eu sempre pedia para ir no carro que estava a farofa para ir sentindo o cheirinho delicioso dela no caminho, enquanto sonhava com aquele momento da parada à beira da estrada onde, à sombra das araucárias, montávamos um acampamento para comer a deliciosa galinha com farofa. Felicidade pura!
Deixo essa receita carinhosa aqui:
Galinha com Farofa
Ingredientes
- 1 galinha grande inteira, de aproximadamente 2 kg
- 6 dentes de alho picados
- suco de um limão
- sal e pimenta do reino a gosto
- 30 ml de óleo vegetal
- 4 cebolas grandes picadas
- 4 tomates frescos picados, sem pele, com semente
- 2 folhas de louro (opcional)
- farinha de mandioca branca, fina, aproximadamente 1 kg
- 4 ovos cozidos com a gema dura
- 1 maço de cheiro verde picado (salsinha e cebolinha)
- 100 g de azeitonas verdes picadas, sem caroço
Modo de preparo
Lave o frango, corte em 24 pedaços (cada asa em três partes, coxas e sobrecoxas cortadas ao meio, cada peito em quatro partes, o pescoço, a sambiquira ou curanchim), tempere com dois dentes de alho, sal, pimenta e limão. Deixe descansar uns minutos. Numa panela de ferro grande, em fogo alto, aqueça o óleo e frite os pedaços de frango aos poucos (de quatro a seis pedaços por vez), deixando que solte a própria gordura, até ficar bem dourada e sequinha. Retire e reserve.
Na gordura residual, refogue ligeiramente quatro dentes de alho, depois a cebola, até murchar. Adicione os tomates e o louro, deixe murchar, volte o frango para a panela e deixe cozinhar no próprio molho, com a panela tampada, mas mexendo de vez em quando. O resultado deve ser um molho encorpado, mais seco do que um frango ensopado, e o ponto de cozimento é quando a carne começar a soltar do osso. Então, retire o frango da panela, se necessário reduza um pouco mais o caldo, desligue o fogo e acrescente um pouco da farinha, mexendo sempre para não formar um pirão, e raspando todo o fundo da panela, até ficar quase limpa.
Vire essa mistura sobre uma bacia grande, coloque pedaços de frango ainda quentes e vá adicionando mais farinha aos poucos até chegar a uma consistência ideal. Acrescente os ovos cozidos, tempero verde e azeitonas, ajuste o sal, e volte para a panela de ferro ainda quente, e tampe com uma tampa de alumínio para não abafar demais e evitar que o suor da farofa transforme-a em pirão.
Enrole num pano grosso (minha avó usava uma toalha de mesa, que já virava a toalha do piquenique) e amarre a panela para viagem. Ela deve permanecer aquecida por umas 4 horas.
Sobre a autora:
Daniela Narciso – Farofeira desde a infância em Santa Catarina, formou-se em turismo e hotelaria na Universidade do Vale de Itajaí (Univali) e especializou-se em gastronomia na California Culinary Academy. Atuou como professora no Senac, é consultora de restaurantes e coorganizadora do livro Pois sou um bom cozinheiro: receitas, histórias e sabores da vida de Vinícius de Moraes. Coautora do livro Farofa, da editora Senac.
Farofa
Autoria: Daniela Narciso e Danilo Rolim, 208 pág. Preço: R$ 68 – Editora Senac São Paulo
Onde comprar: www.livrariasenac.com.br