No último dia 24 de maio comemoramos o dia nacional do café (e desde 2007 também o dia do barista). Expliquei aqui que a escolha dessa data se dá pelo início da colheita do café nas principais regiões produtoras: São Paulo e Minas Gerais.
Quero, então, aproveitar a comemoração para trazer uma reflexão: Se o início da colheita de café se dá praticamente no meio do ano, quando a gente vai ter acesso a esse café? Café tem safra? Como funciona?
Como funciona a safra do café
Sim! Café tem safra. O café que é colhido agora – alguns já começaram a ser colhidos em abril e outros cafezais só darão início a colheita em agosto/setembro – é o café da safra de 2021.
Depois da colheita o café passa por todo o processo de secagem, beneficiamento, comercialização e torra. Isso significa que esse grão colhido hoje só estará no mercado depois de pelo menos um mês. O mais comum, no entanto, é que demore de três a seis meses para alcançar o consumidor final.
Ou seja: o café da safra 2021 chega nas cafeterias só no segundo semestre e alguns só estarão disponíveis em 2022!
Em 2021 bebemos o café colhido no outono/inverno passado (2020) e ainda beberemos esse café pelo menos até o final do ano. E tem problema?
Claro que não! O Brasil, por ser grande país produtor, tem muita sorte nesse sentido: enquanto a gente consome o café ainda muito fresco, os países importadores só terão acesso a essa safra lá na frente, porque dependem ainda do transporte dos grãos (crus/verdes), que serão torrados no seu destino e só então comercializados.
Tá bom, Luiza. Então isso quer dizer que não tem problema o café envelhecer?
Café envelhece?
Opa! Não foi bem isso que eu disse.
Café em geral envelhece mal. Há experiências de cafés “safrados” – ou seja, envelhecidos – dentro de alguns cuidados e contextos que podem eventualmente se comportar muito bem. Mas não é a regra.
A regra é que o café perde o restante de umidade, fica mais quebradiço, mais difícil de torrar, com notas de envelhecimento e se comporta de maneira mais difícil nos processos de torra, exigindo novos perfis e habilidades dos mestres. Além, é claro, de precisar de ambientes controlados de conservação para que sofra menos com variações de temperatura e umidade.
A embalagem do café e as safras
E é por isso que, ainda que o café perdure para ser consumido por mais tempo (alguns até precisam de tempos prolongados de descanso), defendo que as embalagens de café tragam as informações sobre a safra – complementando os dados sobre origem, processamento e torra. Transparência que chama, né?
Mas tudo isso é ainda muito novo. O mais comum continua sendo a mistura de safras para otimizar a comercialização dos cafés antigos, ocultando as datas de produção. Entretanto, é também verdade que o mercado de cafés especiais coloca as questões de qualidade em xeque e, por isso, será necessário observar o comportamento desse setor nos próximos anos.
O que você acha? Você gostaria de ter mais informações sobre a safra nos seus pacotinhos de café especial?
Obs.: Algumas certificações já tem o controle sobre a safra. Essa informação só não está tão clara para o consumidor final. Ainda.
Imagem de destaque:Clint McKoy para Unsplash.com