Netflix e a mesa dos chefs
Li no Caderno Paladar da semana passada que a Netflix lançaria no último dia 26/04, domingo, uma série chamada Chef’s Table. Seis documentários dirigidos por David Gelb, o mesmo diretor do filme O Sushi dos Sonhos de Jiro (que eu ainda não consegui assistir). Cada filme com duração entre 40 e 50 minutos conta um pouco da história de um renomado chef de cozinha.
Ainda não vi todos, mas o farei. Porque, eu conto logo.
As escolhas sobre o que assistir aqui em casa são sempre compartilhadas. Por uma questão de afinidade e também por serem apresentados numa determinada ordem e esse vir em primeiro entre os demais cinco, Silas e eu, escolhemos ver o documentário do chef Massimo Bottura.
Se não quiser minha opinião antes de ver, pare agora e fique com o breve resumo do caderno Paladar:
Massimo Bottura – A história da Osteria Francescana se mistura com a do relacionamento de Bottura com a americana Lara Gilmore. O pedido de casamento foi no dia da inauguração da casa. Ela o convenceu a não desistir do restaurante quando, muito antes das três estrelas Michelin, os italianos rejeitaram sua tentativa de revolucionar a comida tradicional.
É muito mais que isso, claro.
Antes de tudo, a ideia é muito boa. Entre tantas possibilidades no reino da Gastronomia, escolher roteirizar e documentar a história de alguns chefs de cozinha é mesmo algo bastante interessante. Porque no fundo (e também no raso) quase todo mundo gosta de saber da vida alheia. Personagens ilustres, então, nem se fala: é tiro certeiro. Se não tiver que ler (que é a grande preguiça da humanidade atualmente), ainda melhor. Além do que ser chef está em alta.
Com ajuda de um diretor de fotografia, que sabe direitinho como transformar imagens em cores que quase exalam sabores, tudo fica ainda melhor. O filme sobre Massimo Bottura é impecável nesse quesito.
Meio sem motivo, algo como que meio perdido no roteiro, em determinado momento, você é levado para uma “fábrica” de queijos parmesão. A fotografia é tão linda que nós quase engolimos a tela da televisão. Literalmente, dá água na boca ver aquilo.
Outro momento alucinante é a confecção das massas pelas mãos de Lídia, uma personagem importante para humanizar a história (não que outros elementos não o façam) do chef que ocupa o terceiro lugar no ranking dos melhores do mundo.
Massimo Bottura é um cara legal. Nem de longe ele é retratado como um homem sisudo ou histérico como é comum vermos chefs na TV. Também não acho que se mataria caso perdesse as estrelas que lhe foram concedidas pelo Michelin, fruto de sua ousadia e destreza. Ao menos, no filme, ele é uma pessoa. Dessas que foram um pouco porra-louca para chegarem onde estão trazendo um passado interessante e não só o do sujeito caxias, dedicado e que nunca erra.
foto: site da Osteria Francescana |
Sua relação com a cozinha tem golpes de sorte. Seu encontro com Lara Gilmore é um desses. Não porque ela lhe tenha aberto portas oportunistas, mas porque o ajuda a ter estabilidade, senso de direção e propósito. Ele é a estrela, ela, o holofote.
A cozinha italiana, conservadora e farta por excelência, deve mesmo ter sido muito sacudida por alguém como Massimo Bottura. Em se tratando de Alta Gastronomia ele é o ícone italiano, que garante aos raviolinis um espaço no cenário internacional, principalmente, porque não nega suas raízes, mas já que alçou voo e bateu asas, decolou consigo o sabor que ele encontrava quando ficava debaixo da mesa na cozinha da casa da avó ainda menino.
O filme é uma poesia, muito mais que um documentário. Fala de relações humanas, de um romance entre homem e mulher, de família, com direito a filhos e agregados. Fala de comida, de sabor, de cheiro, de textura. Fala de viagens…
Ainda que o roteiro escorregue às vezes, é muito delicado e por isso se desculpam possíveis falhas.
Acertaram o diretor David Gelb e a Netflix. Ganhamos nós, um pouco de poesia para nossas horas de entretenimento.
foto: spoonhq.wordpress.com |
E uma coisa que fiquei pensando já que de vez em quando consigo entrevistar um chef de cozinha: esse chef Bottura, por mais que o documentário seja um bálsamo para sua vaidade e uma excelente peça de marketing para o seu negócio, deve ser um sujeito mesmo arrojado. Para fazer um documentário como qualquer um desses da série da Netflix são necessárias muitas horas de trabalho e disponibilidade. Do contrário, não sai. Só por isso, eu já acho que ele é mesmo uma grande figura.
Clau, fala dos nomes dos pratos. São fantásticos.
Ah! para saber os nomes engraçados dos pratos é preciso ver o documentário, ótimos mesmo!