Pensei muito se deveria começar esse texto recomendando às pessoas que não frequentem um determinado lugar. Ainda mais porque só fui lá uma vez. Foi ontem e a casa estava servindo só dois menus, especialmente pensados para a São Paulo Restaurant Week.
Só que eu não consegui encontrar outro título que não fosse: não vá!
A experiência foi péssima. A noite só não foi ruim de verdade porque tínhamos a companhia de pessoas tão queridas e agradáveis, a Helda e o Edin, que qualquer coisa que fizéssemos juntos já valeria a pena. Mas confesso que, como fui eu quem dei a ideia do programa, num dado momento, me senti envergonhada de ter proposto uma roubada tão grande.
É público que eu adoro ir a restaurantes e também que sou uma entusiasta de todas as formas que possam dar às pessoas a oportunidade de provar novos sabores e frequentar ambientes diferentes e hospitaleiros. A mim, sempre me pareceu, que a ideia da Restaurant Week era essa: dar chance às pessoas de conhecerem a boa gastronomia que preza, essencialmente, pela hospitalidade, já que andam juntas: boa comida servida de forma adequada.
Fachada do Ça-Va, foto do site |
Só que na 16a. edição da Restaurant Week, e no restaurante Ça-Va ontem esse princípio se perdeu, frente à ideia de encher o estabelecimento, simplesmente visando ganhar dinheiro com um cliente temporário que não é tratado como cliente. Porque se a casa trata seus clientes desse jeito e oferece essa comida… a coisa tá feia mesmo!
Fizemos reserva para as 22 horas. Chegamos pouco antes e em frente ao restaurante havia mais uma dez pessoas que como nós tinham feito reserva. Por desistência de um grupo, fomos conduzidos a uma mesa no horário marcado. No entanto, ficamos ali, num ambiente barulhento solenemente ignorados por mais de quinze minutos.
Mesmo depois de chamarmos o garçom e pedir água porque estávamos com sede, demorou para que chegasse a água na mesa, em garrafas, e veio sem copos. Isso mesmo! As garrafas foram dispostas na nossa frente, aumentando a sede, sem que um copo fosse colocado na mesa.
Pedimos o cardápio da casa e soubemos que só poderíamos escolher uma das duas opções do menu da SPRW. Lamentável desde aí.
Fizemos o pedido da comida e pedimos para saber o que havia para beber. O garçom olhou fixamente para a Helda e disse:
– Beber? Bebida alcoólica?
Ela respondeu que sim e ele disse que havia vinho. E ficou parado. Então pedi que nos trouxesse a carta de vinhos.
Ele trouxe alguns minutos depois e pedi uma sugestão. O rapaz não sabia falar a respeito, apontou nomes da carta sem saber do que se tratava, oferecendo vinho tinto na descrição de vinhos brancos e rosados. Não tinha a mais vaga ideia do que estava fazendo. Só queria eliminar a tarefa e, de preferência, dizer tchau! Cliente, você é otário!
A entrada veio depois de uns 20 minutos e, apesar da pouca novidade, estava boa. As saladas bem temperadas e a ínfima fatia da quiche lorraine estava crocante e na temperatura ideal. Nada surpreendente, mas cheguei a comentar que estava muito gostosa.
Entre a entrada e o prato principal demorou mais de meia hora.
Quando os pratos chegaram, que decepção! Eu teria vergonha de servir aqueles pratos sozinha para mim mesma num almoço do tipo “mate a fome com pressa” quando a gente pega na geladeira qualquer coisa que tenha sobrado dos últimos três ou quatro dias. Comida vexaminosa!
Um dos pratos era boeuf bourguignon, arroz de ervas e cenoura, e o outro, linguado ao molho siciliano com arroz de espinafre com tomate provençal. A carne bovina em nada se parecia com um bouef bourguignon (só pela textura não foi cozida por muito tempo em fogo baixo) e o peixe foi apresentado em duas lascas (que mais pareciam ser de filé de pescada) empanadas encharcadas de óleo, com uma pequena colher de molho sem qualquer sabor por cima. O arroz estava seco, requentado, duro e insosso. O tomate frio.
Aguardemos a sobremesa: outra vez, uma tristeza. A começar pela torta de maçã que veio com uma bola de sorvete sem graça e sem gosto. As temperaturas do sorvete e da massa não chegavam a fazer contraste uma com outra porque a torta parecia velha e fria, saída da geladeira e mal aquecida antes de ser montada. A mousse de fromage blanc com calda de cassis tem um nome pomposo, mas o sabor era de creme de leite com geleia. Nada mais.
Sequer tive coragem de fotografar para publicar, tão ruim e pouco apetitosos foram os pratos do menu do jantar.
O serviço foi no todo sofrível. Apesar da irreverência e simpatia de um garçom ou chefe de fila, já que tinha um uniforme diferente dos outros garçons, o atendimento foi péssimo. Esse rapaz nos disse que o “Seu Antonio” não estava na casa porque teve uma festa de família e por isso as coisas estavam tumultuadas na noite de sábado.
Realmente, o restaurante parecia um barco à deriva. Sem timoneiro, a coisa vai mal. Bem mal!
O vinho foi mal servido. Não se respeitou a ordem da degustação e quase o garçom bateu no nariz do Silas para servir vinho no copo do Edin. Os pratos foram servidos primeiro para os homens, retirados antes que todos tivessem acabado a refeição e, entre o prato principal e a sobremesa, não houve um segundo para que a Helda pensasse que havia terminado. O prato vazio foi retirado depois que a sobremesa já estava servida.
Ninguém se dirigiu a nós para perguntar se queríamos um café, nem se o vinho prestava.
Pedimos dois cafés e a conta. Vieram rapidamente. Por cada café foi cobrado R$ 6,50, talvez por isso estivesse bom. A única coisa realmente boa que foi servida, diga-se de passagem.
Se a ideia da Restaurant Week é, por um lado, dar chance a mais pessoas que frequentem restaurantes de bom nível, neste caso, o nível ficou muito a desejar. Se, por outro lado, é que o estabelecimento tenha a oportunidade de se abrir para que um novo público passe a frequentá-lo, também não deu certo. Eu não voltaria a esse restaurante em nenhuma outra oportunidade. Por quê? Não gosto de comer mal, não gosto de ser ignorada como cliente, nem de sugerir a amigos lugares que vendem gato por lebre.
Para essa oportunidade vale o ditado: “Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento”.
Como clientes, perdemos todos. O dono do restaurante ganhou pouco mais de R$ 330 com a nossa refeição, mas perdeu em todos os demais sentidos, especialmente, nesta breve crítica e na oportunidade de encantar o cliente.
Ça-Va, não vá!
Ah! Em tempo, uma recomendação ou dica aos que organizam a Restaurant Week: criem níveis mínimos de serviço e prezem pela qualidade. Do contrário, essa ideia tão bacana, divertida e criativa que já dura 16 edições em São Paulo, tende a acabar. Não ultrapassará a marca do que oferecem os sites de desconto como groupon, peixe urbano e outros. Sabem a que me refiro, não?
Bom domingo, boa semana!
Serviço
Jantar – ter a sáb: das 19h às 23h30