Uma poesia escrita à mão, um pote de doce, um livro de sua estima já usado mas que será realmente lido, algo seu, de verdade. De coração pra coração.
Todo ano é a mesma coisa
– Que vamos fazer para o Natal?
E a resposta tradicionalmente é a mesma: os pratos principais terão pequenas variações entre peru ou chester, tender, pernil, bacalhau. Entre os acompanhamentos: arroz branco ou a grega e até arroz de açafrão, farofa não pode faltar, seja salgado ou doce e as saladas do tipo salpicão ou alguma que leve bacalhau sempre aparecem. Por aí vai. Na sobremesa, pudim ou caçarola italiana, manjar branco, uma cassata e frutas, como uva, pêssego, cereja e ameixa. Ainda por cima da mesa haverá castanhas, nozes e frutas secas, como figos, damascos e uvas. Tudo isso tem cheiro e gosto de Natal, não nego!
Mas por que não fazer algo diferente?
Pessoalmente, eu acho essas festas de fim de ano muito complicadas. Tudo dá muito trabalho. No Brasil, é sempre muito calor e as comidas são inevitavelmente pesadas. Isso sem comentar a quantidade e a variedade de pratos que todas as famílias fazem todos os anos. Seja numa casa pobre ou rica, Natal é uma festa de fartura. Há mesmo essa tradição e, mais que isso, um enorme apelo da mídia para que isso aconteça.
Minha proposta é algo bem diferente para o Natal de 2015. Quem sabe não é essa a hora de mudar o padrão de consumo e fazer algo bem distante do que nos acostumamos? Antes de sugerir a primeira receita de uma série (serão 5 posts) para compor a ceia de Natal ouso propor outras mudanças também.
Mude o jeito de presentear
A começar pelos presentes: dê mais atenção e menos matéria. Eu sei que é gostoso dar e receber presentes. De novo é como construímos essa tradição que nos leva a isso. Quando éramos crianças não ganhávamos tantos presentes como ganhamos agora. Minha mãe comprava, sim, “o presente de Natal”, que invariavelmente era algo com que tínhamos sonhado o ano todo. Quase sempre era uma boneca mais cara, que vinha embalada com papel bonito e até podia ser entregue pelo Papai Noel. Nossos tios não se preocupavam em dar presentes para todos da família. Nem nossos pais. As coisas eram mais simples do que agora.
Desde que minhas sobrinhas nasceram, lá em casa, muito por minha causa, faço aqui minha mea culpa, o Natal se tornou uma festa de abrir presentes. São muitos de todos os tamanhos e preços.
Sobre isso, eu me lembro de (logo que comecei a trabalhar e ganhar dinheiro) sair de São Paulo às vésperas, lá pelo dia 23, com o carro abarrotado de presentes embalados e identificados para todos da família. Parecia um trenó, só que em vez de renas um uno mille verde me levava pra Itu. Antes do uno ainda, eu carregava imensos pacotes no ônibus da Viação Vale do Tietê, que à época saía do Terminal Tietê e não da Barra Funda como agora.
Quanto a abrir tudo, há um momento ritual no Natal lá da casa da minha mãe para isso, com muita gargalhada todos os anos. Mas há tantos presentes que ganhamos e damos que nunca serão sequer usados… Pra quê?
Então, a ideia deste ano, confesso que não acho que terei forças para mudar o que se tornou tradição, é levar para o Natal uma outra proposta. Que tal um jogo de tabuleiro novo que todos da festa possam ser integrados ou inventar uma brincadeira para que a noite se estenda e fiquemos por muito tempo juntos, brincando… curtindo um ao outro?
Se não der pra fugir dos presentes para todos, quem sabe algo mais humano, feito por você. Uma poesia escrita à mão, um pote de doce, um livro de sua estima já usado mas que será realmente lido, algo seu, de verdade. De coração pra coração.
Comer diferente no Natal
Nos próximos dias, publicarei uma sequência de receitas que juntas podem dar ideias novas sobre o que fazer para a ceia, sem, entretanto, gastar muito dinheiro, tempo e, claro, comidinhas gostosas que sejam leves e possam ser acompanhadas de um bom espumante ou vinho rosado. Além disso, são comidinhas que quentes ou frias podem ser beliscadas a noite toda.
Já que no Natal a temperatura é alta, vou começar com uma entrada e até o último post teremos uma proposta de bebidas. Já adianto que deixaremos os refrigerantes de lado definitivamente. Eles não são necessários na nossa mesa de Natal. A roupa do Papai Noel já é a alma da coca-cola nas nossas casas. E isso é o bastante.
Como primeira receita, que tal uma quiche com berinjelas e pimentões ou cogumelos para acompanhar uma salada de folhas? A sugestão de salada vem nos próximos dias.
A receita da quiche, bem como seu conceito, eu estou reproduzindo do Think Food e foi uma publicação de 2010 feita pelo chef Diego Barreto, sob o título A perfeita quiche – e um segredo desvendado. Pessoalmente, estou certa de que não poderia sugerir nada melhor.
Quiche
Páte brisée (massa)
380 g de farinha de trigo peneirada
10 g de sal
230 g de manteiga integral sem sal
Água Q.B (quanto baste)
Misture a farinha e o sal, acrescente a manteiga gelada cortada em cubos e com as pontas dos dedos, misture sem sovar a massa, formando uma espécie de farofa.
Acrescente a água aos poucos até que a massa se torne lisa e homogênea. Reserve refrigerada por 30 minutos.
Abra com o rolo e com auxílio de filme plástico e disponha em uma assadeira própria para quiche. Gele, pincele com clara de ovo crua para impermeabilizar a massa, [e impedir que absorva umidade do recheio e perca assim a textura seca que faz com que desmanche na boca – o segredo era esse], fure com garfo e leve ao forno pré aquecido por cerca de 25 minutos à 180 graus.
Appareil (creme base)
30 g de manteiga integral sem sal
100 g de queijo (gruyère de preferência)
350 g de creme de leite fresco
4 ovos
sal e pimenta Q.B (quanto baste)
Bata os 4 ovos e reserve. Rale os 100 gr de queijo e misture no creme de leite, acrescente a manteiga amolecida e tempere com sal e pimenta, por fim acrescente os ovos previamente batidos e misture.
Berinjela com pimentões
Ingredientes
2 colheres de azeite ou óleo
1 dente de alho amassado
1/2 cebola média picada em julienne
1 berinjela com casca cortada em tiras finas de cerca de 6 cm de comprimento
2 pimentões vermelhos cortados em tiras finas (0,5 cm) verticais
Para temperar: sal grosso, pimenta do reino, alecrim e tomilho
Modo de fazer
Numa assadeira, leve todos os ingredientes ao forno pré-aquecido em 180 graus por 30 minutos. Escorra a parte líquida e retire da assadeira. Deixe esfriar.
Montagem da quiche
Cubra o fundo da massa pré-assada com o recheio de berinjela e pimentões e por cima coloque o creme base. Leve para assar em forno médio (180 graus) por 30 minutos ou até que fique dourado.
Retire do forno e aguarde uns 15 minutos para servir. Pode também ser servida fria.
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