Aproveitando o feriado prolongado de Corpus Christi, fizemos em família (minha mãe, a Cris e o Fabio, a Giovana, o Silas e eu) uma rápida viagem de quatro dias pelas Cidades Históricas de Minas Gerais: São João del Rei, Ouro Preto, Mariana e Tiradentes.
Pra quem como eu gosta de história e arte, esses lugares são um verdadeiro deleite. Deleitam-se ainda mais aqueles que têm uma apreciação especial ou preferência pela arte do período barroco.
Há alguns meses, escrevi um post sobre Itu e me referi ao barroco paulista muito bem representado nas igrejas tanto pela arquitetura, como pelos santos, quadros e afrescos que nelas são encontrados.
Sem tentar comparações desnecessárias, o Barroco Mineiro é ainda muito mais pulsante que o paulista. Nele estão exemplos indiscutíveis como as obras atribuídas aos mestres Francisco Antonio Lisboa, o Aleijadinho, Athayde e Francisco Xavier Carneiro.
A Igreja de Bom de Jesus de Matosinhos é o grande atrativo da cidade de Congonhas, que, aparentemente, não é a mais procurada para hospedagem de turistas, que via de regra buscam hospedar-se em Ouro Preto ou Mariana. No entanto, em Congonhas, destino de passagem turística, está um dos mais ricos patrimônios de arte religiosa que a humanidade deve preservar.
Ao redor da Igreja estão os Doze Profetas, seis para o bem e seis para o mal, todos esculpidos em pedra sabão. São a última grande obra executada pela escola (ou a ateliê) de Aleijadinho. Seus nomes: Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Abdias, Amós, Jonas Habacuc, Naum e Isaías.
Eu e mamãe, em Congonhas |
Do mesmo mestre, 64 esculturas de madeira, em tamanho natural, estão distribuídas nas seis capelas que compõem os Passos da Paixão , abrigando sete cenas dos últimos momentos da história de Cristo, até a crucificação. São obras esculpidas por Aleijadinho e policromadas (pintadas em cores) por Athayde e Francisco Xavier Carneiro.
São obras estarrecedoras, tanto por sua opulência quanto por sua complexidade, seu estilo marcante e exclusivo. Só tem lá!
Penso que precisamos conhecer mais a nossa própria história.
Nós, brasileiros, muito em função da pouca grana e das enormes distâncias (demoramos mais de sete horas pra chegar de carro de São Paulo a Ouro Preto), não costumamos viajar para conhecer outros estados e beber na fonte da história que nos trouxe até aqui.
Viajar e, na viagem, olhar com olhos curiosos e ouvir com ouvidos atentos o que nos dizem as ruas do nosso passado em outros lugares, o que guardam os monumentos e aquilo que ainda se preserva de um país tão descuidado, é manter a nossa própria história pessoal viva.
A mim, me parece que é essa a nossa obrigação como turistas cidadãos.
Nada contra souvenir ou lembrancinhas, mas viajar só por viajar, só para comprar e tirar fotos, soa vazio, especialmente, quando se visita um lugar como Minas Gerais. Um país tão diferente do resto de todo o país.
Hoje, eu só pincelei um pouco do que existe de registro do barroco brasileiro. Só falei de Congonhas. Mas nessa região tem muito mais que isso. Por exemplo, a história da Inconfidência Mineira está ali, deitada aos pés de lojinhas cheias de gente querendo comprar algo que não conhece, só pelo prazer do consumo.
De que adiantará preservar se o interesse for exclusivamente no consumo efêmero e compulsivo? Pense nisso ao programar sua próxima viagem… Quem sabe você não escolhe as Minas Gerais. Lá você vai sentir que existe um passado bem elegante no Brasil, digno de todo grande país.
Enquanto os protestantes repudiavam o luxo dos templos e o uso de imagens nos cultos, o clero católico procurava transformar a liturgia religiosa em um verdadeiro espetáculo sensorial, capaz de cooptar mais seguidores. Todas as artes concorriam para a criação de uma “obra total”, unindo arquitetura, música, pintura, escultura e até mesmo teatro em um rico repertório simbólico e dramático, que se destinava a emocionar e incrementar a devoção. (http://abstracaocoletiva.com.br/2013/05/06/barroco-contra-reforma/ em 9/junho/2015)