A falta de alegria pode destruir um país.
Que me acusem de ser petista, algo que nunca fui. Que me acusem de ser direitona, como fui acusada por quase toda a vida e também nunca fui. Em cima do muro, nunca! Não importa o rótulo que me deem, sou independente no pensamento, sou livre e ciente das consequências que posso suportar. Escolho as que suportarei e prefiro o caminho do meio.
Quando presidentes, Lula e FHC tinham algo muito importante em comum, que a mídia e os eleitores pouco se atentavam porque era natural e o que é comum nem sempre é para ser noticiado. Eles são pessoas alegres, um tanto irônicas e muito espertas no trato social. Políticos de alma, de trejeitos e de coração. Já a presidenta Dilma não é assim.
Talvez pelo país machista que ela comanda (e foi eleita para tal sempre é bom lembrar e reforçar), ela não tem sido capaz de abandonar uma postura masculina que é a adotada na maioria das vezes por mulheres que assumem cargos muito altos em empresas, no Governo e na sociedade.
Nesse país machista e racista disfarçado e um tanto reacionário (digo um tanto porque não somos todos reacionários, graças a Deus!), é dada ao elemento masculino a benesse da seriedade temperada com algum humor e, caso o indivíduo tenha uma “alma um pouco feminina” ele será valorizado e mais portas se poderão abrir para sua carreira. Evidentemente isso ocorrerá se ele souber manter-se masculino nas atitudes empresariais e de comando. Às mulheres não se concede o mesmo benefício social. Não lhes parece permitido o bom humor.
Há alguns anos, em 2008, organizei e realizei no Brasil, aqui em São Paulo, o primeiro Encontro de Mulheres Líderes, com o objetivo de reunir pessoas, homens e mulheres, para falar sobre o papel feminino em postos de liderança. Estudei com afinco o comportamento adotado pelas mulheres quando assumem posições de chefia, especialmente, as mais altas, quando cabem a elas a primeira e a última palavras dentro das organizações.
Tristemente, observei que as mulheres em posição de liderança são infringidas a adotar uma postura masculinizada e deixam de lado seu maior trunfo, o que mais lhes daria vantagens na administração de uma organização: o equilíbrio entre a ternura, a determinação e a alegria. Tornam-se homens de saias tão logo assumem essas posições. O que é lamentável, a meu ver.
Não cabe aqui discutir quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha, da mesma forma, portanto, se o machismo é causa ou consequência. É, no entanto, fato consumado.
Para mim, Dilma, o ser humano, errou ao se decidir, envaidecida, candidata a presidente da república para um segundo mandato. Errou porque não teve limites, talvez porque isso seja mesmo, como conta a história, de sua própria personalidade. Guerrilheira, coração valente.
Na minha visão, ela assumia algo que não mais lhe cabia porque ela já tinha feito sua parte. Que se digladiassem dali em diante os fétidos lutadores de uma política doente e clientelista que ela não pôde combater. Ela não fora capaz de subverter a ordem das coisas apenas pelo fato de que o sistema ali infraestruturado era bem maior do que ela.
Os homens com quem ela convive a detestam porque ela tem o poder instituído e legalizado no voto de lhes impor formas diferentes de fazer o que sempre fizeram. Por isso, tramam contra ela e a querem ver no tatame, nocauteada.
Por sua vez, as mulheres não se veem representadas porque ela decidiu ser um homem no comando, deixando de lado a tal ternura e a alegria das quais falei parágrafos atrás. E, meu Deus! Como podem ser impiedosas as mulheres umas com as outras…
No bojo dessa atitude presidencial, que não é muito mais do que o espelho ou a representação personificada do que vive hoje a população brasileira, é quase fácil dizer que o que nos está faltando é alegria, riso, descontração, bom humor.
Lembrei agora do quanto é importante o circo além do pão. Oh! Quanto mal nos causou uma derrota de 7 a 1 na pelada que jogamos no nosso próprio quintal? Perdemos a graça! Não temos mais confiança em nós mesmos. Mas, de verdade, isso é só ilusão, porque nada mudou. Não há flagelo. A vida segue e pode ser festiva de novo.
Ontem, assisti ao documentário O Sal da Terra, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado. Nada me chamou mais atenção do que uma foto tirada por ele no meio de um campo de refugiados na África onde quase não se via nada além de fome, miséria, corpos mortos e esqueletos humanos cobertos apenas por pele.
foto: Sebastião Salgado, livro Êxodos, retirada do portal-cinema.com |
Mas ali, naquela foto, havia uma mulher com um bebê pequeno no colo e seu olhar alegre e confiante garantia ao pequeno em seus braços que havia esperança. Coisa de mãe, de amiga, de companheira. Coisa de mulher! Pensem o que quiserem e acusem as generalizações, mas isso é nosso e ninguém nos tira porque a gente vem assim pro mundo. Só nós mulheres sabemos o que é o sentido da maternidade, da palavra e do palpite entre amigas, da força e do incentivo que damos às nossas companheiras e aos nossos companheiros. Cada um, na sua diferença, mulher e homem, felizmente somos diferentes, tem um papel e uma dádiva. Não se trata de um juízo de valor.
Quem não se lembrará na vida de alguma vez ter perdido o chão porque, mesmo por um só instante, se viu em situação de morte ou de dor profunda? Passado o impacto, enfrentada a situação, retomamos o nosso propósito maior enquanto estamos vivos. Precisamos da alegria.
Por que não resgatamos essa alegria então? O que nos falta?
Eu tenho uma receita de bolo, que parece fácil, mas é preciso persistência para que dê certo.
Todos os dias, decida viver em paz: com o seu corpo, com a sua casa, com as pessoas que o cercam e, principalmente, com as palavras. Atenção redobrada ao que se vai dizer em qualquer situação. Então, escolha boas palavras para a sua vida. Reclame menos.
Observe o que é bom e ajude a consertar o que não é.
Fotografe. Essa é a onda. Faça selfies e publique a alegria de viver! Mas fotografe também a flor do seu jardim ou do jardim do vizinho, não importa. É uma flor e ela deixa a vida mais bonita. Ninguém vai te impedir. Se você a fotografar, no mínimo, a terá visto. Já é um bom começo!
Mude seus hábitos sedentários, mexa seu corpo, faça ginástica. Caminhe.
Cozinhe de vez em quando. Ou, se não tem vocação, elogie quem cozinhou pra você e agradeça a comida. Em especial, agradeça de forma consciente todo o ciclo que trouxe a comida até o seu prato, porque isso não é pouco.
Viva com menos dinheiro e mais contentamento. Fique feliz porque comprou figurinhas na banca de revista, porque pintou um desenho, porque ouviu uma música que gosta ou assistiu algo que o agradou.
Evite esbravejar, ser ofensivo ou falar palavrão o tempo todo. É feio! Só de vez em quando, se permita um pqp – só quando for realmente necessário para passar a dor do dedinho que você bateu na quina da cama. De outro modo, basta evitar.
Estamos precisando de alegria, de boas palavras, de vontade, de otimismo. É uma questão de atitude, sim! Contamine positivamente seu ambiente.
Parafraseando Vinicius de Moraes, que a tristeza tenha sempre uma esperança de um dia não ser mais triste, não. Sem alegria, pode-se destruir um país!