Férias de julho 2016 – Capítulo 1
Frankfurt: o que torna um lugar hospitaleiro?
Como prometido, vamos falar da viagem pra Espanha. Antes que as férias acabem, é bom demais pensar que o mundo é cheio de lugares lindos, pulsantes e interessantes. Exuberantes pela natureza ou pela ação do homem, ricos por patrimônio e economia, mas também por tradição, história e cultura. É tudo de bom viajar e é bom demais voltar pra casa. Ando feliz de poder me encorujar no meu ninho.
O traslado – As conexões – Frankfurt
Barcelona foi a nossa porta de entrada na Espanha, mas não na Europa porque fizemos uma conexão em Frankfurt, na Alemanha, e lá passamos praticamente um dia inteiro passeando e conhecendo o bonito e arrumado centro da cidade.
A propósito, olhando para o mapa, por que sair do Brasil, ir até Frankfurt e depois voltar para Barcelona? Simples. Porque a passagem é bem mais barata. Coisas da aviação. Tem vez que é assim, tem vez que não é. Precisaria trabalhar na área de precificação de passagens aéreas para entender os meandros que levam a esses aparentes contrassensos nos valores. Fato é que a diferença entre ir direto pra Barcelona era de mais de R$ 600,00 (seiscentos reais) por passagem. Para dois, Silas e eu, seriam 1200 reais a mais e não teríamos tido um dia super divertido em Frankfurt, uma cidade cheia de história, limpa e de fácil transporte para quem tem algumas quase doze horas como nos tivemos por lá.
Chegamos a pensar em não embarcar no voo da conexão e ficar uns dias na Alemanha. Poderíamos visitar o Arthur e conhecer mais uma parte do país, mas descobrimos que isso não é possível. A Lufthansa nos informou que, caso não embarcássemos para Barcelona, o nosso bilhete aéreo seria considerado como “no show”, isto é, como se não tivéssemos feito a viagem de ida inteira. Isso nos impediria de voltar por Barcelona depois e, da mesma forma, por Frankfurt.
Essa é uma informação importante pra quem pretende viajar: não é permitido usar somente parte da passagem com conexão. Por exemplo: passagem de ida e volta: São Paulo-Madri-Roma/ Roma-Madri-São Paulo. Não pode parar em Madri e depois ir por conta pra Roma e querer voltar com a conexão. O sistema, caso não haja o embarque de Madri pra Roma, registra “no show”, ou seja, não comparecimento. Fica a dica.
Hospitalidade
Por dever de ofício e porque amo, sempre penso em termos de hospitalidade. Questões sobre como sou recebida e tratada, se me dão um sorriso, se sou objeto de curiosidade ou de preconceito, se me dedicam atenção, enfim, coisas que faço normalmente ao me relacionar com gente.
… hospitalidade é a obrigação de tratar estranhos com dignidade, alimentá-los e fornecer-lhes bebidas e protegê-los.
Reflito agora sobre o que é uma cidade hospitaleira. Tomando Frankfurt como exemplo pode parecer fácil. Para bem receber, apesar de muitos, são simples os itens que compõem a hospitalidade. E só pensar em quais são as necessidades de um turista ou viajante a serem atendidas: primeiro de tudo, informação é imprescindível. Uma cidade que não disponibiliza informações por meio institucional e de pessoas especializadas, mapas e placas de sinalização (de preferência em duas ou mais línguas), não é hospitaleira. Além disso, é preciso segurança, facilidade de locomoção tanto em termos de transporte como de infraestrutura de calçadas e vias, possibilidade de acomodação e restauração (esse é o nome técnico para a alimentação = restaurar, recompor), entretenimento e, claro, aquela boa vontade de seus cidadãos para ajudar o viajante. Simples. Todas as cidades deveriam ter. Só que não têm.
Não é o caso de Frankfurt que tem. Tudo direitinho como um bom exemplar da cultura alemã. Tudo arrumado, limpo, organizado. Assim que chegamos, por um pouco de afobação, fomos para a estação de metrô que sai do aeroporto e ficamos meio perdidos. Logo, pegamos um mapa, paramos para pensar que trem devíamos pegar e lá fomos nós: pro lado errado! Nem bem andamos uma estação, notamos o erro e foi só risada. Voltamos e pronto! Em menos de 20 minutos estávamos no centro da cidade, sãos e salvos. Pelo valor de um passagem de metrô.
Frankfurt é uma Gramado de verdade, ops!, é que a cidade no Sul do Brasil é bonita, tem casas com um telhadinho feito sob encomenda para parecer com a Alemanha. Frankfurt é assim de verdade. E sem, nem de longe, falar mal de Gramado, não tem o lamentável apelo de compras que nos bombardeia o olhar em cada pequeno trecho de cidade. Na última vez que estivem em Gramado, em menos de duas horas, quis sair de lá o mais depressa possível.
A cidade de Frankfurt é linda, digo, o centro da cidade é lindo. Esse eu vi. São muitas construções enxaimel* originais, construídas assim até hoje, combinadas com todos os elementos mencionados que a caracterizam como hospitaleira. Não há poluição visual, os monumentos são preservados, há calçamento nas ruas, o asfalto não tem buracos e, embora com muitos carros, não há barulho ensurdecedor. As pessoas não o enganam no troco; elas são solícitas no limite das suas perguntas, sem intromissão; há bons lugares pra comer para todo tipo de bolso; os meios de transporte não estão lotados e nem param por problemas de falta de energia, mas a placas nem sempre estão escritas em duas línguas ou mais! O que não se pode dizer dos empregados que atendem aos turistas. Eles falam alemão e inglês, pelo menos. Com a gente? Perguntavam se éramos franceses.
Em qualquer lugar no mundo, logo que chegamos, nossa busca é imediata por uma central de informações para turistas. Nesse espaço, encontramos um mapa e pessoas treinadas para nos atender em necessidades que são muito distintas, dependendo do tipo de viajante que se é. Afinal, nós viajamos sozinhos. Para quem sempre viaja de excursão ou com um agente de viagens que programa todo os passos a serem dados, essa não é uma necessidade. Pra nós, é básico. Temos que saber o que fazer, para que lado ir, onde é bom comer, quanto pagaremos, onde estão os principais museus, igrejas, feiras, hotéis. Não importa se estudamos muito ou pouco a região visitada, o “tourist information” é fundamental!
Há muito mais a dizer sobre esse breve período que estivemos em Frankfurt. Mas hoje fui tomada pela reflexão. Efeito-viagem! Elas, as viagens, me causam isso.
Nós no Brasil
Daqui apenas alguns dias começam as Olimpíadas no Brasil, uau! Eu tinha que estar por aqui. Adoro! Apesar de todas as críticas, gastos, vexames, politicalha da pior natureza, as Olimpíadas são o congraçamento de todas as nações por meio do esporte. O mundo estará aqui no Brasil no próximo mês e isso é muito significativo, importante e histórico!
Como será nossa hospitalidade? Basta a boa vontade? Temos condições de receber bem todo o contingente de viajantes que estarão aqui nesses dias? Que atitude teremos diante de um turista?
Eu acho o brasileiro violento (todo brasileiro, não só os que comumente chamamos de marginais), sem educação, intruso e egoísta. Muitas vezes, somos o poço dos preconceitos dada a nossa grande ignorância. Somos oportunistas, racistas, sexistas, homofóbicos, em resumo, somos Casa Grande e Senzala. “O turista é alguém a ser explorado”, assim pensa o brasileiro. Ah! não? Lembre apenas de quanto um evento como a Copa do Mundo gerou de inflação nesse país. Simplesmente subiram os preços porque havia otários pra comprar e eles não tinham opção.
Mas… no fundo da minha alma cor de rosa (sou uma otimista e prezo isso), acredito que também podemos ser generosos, abrindo a cabeça e o coração. Um exercício de aceitar o diferente, ser honesto, justo, educado, gentil, hospitaleiro pode ser bom! Vem aí uma chance para mudar a nossa atitude porque o nosso marketing não anda muito bom, não.
*enxaimel = tipo de construção na qual uma estrutura de madeiras encaixadas tem seus vãos preenchidos com tijolos ou taipa.