Mais que redudante é dizer que gastronomia está na moda. Nessa onda vem blog, livro, programa de TV que não acaba mais, canal exclusivamente dedicado ao assunto e, claro, Masterchef.
Ninguém há de negar que a Bandeirantes fez um bom negócio ao conseguir a bandeira internacional do programa. Preencheu a noite da terça, faz todo mundo que gosta da tarefa ir dormir quando já é madrugada e a cada semana mais e mais patrocinadores entram e alongam o tempo do programa na grade (na semana passada foram mais de duas horas e meia).
Na edição de 2014, logo nos primeiros episódios, nem anunciante tinha. O programa era rápido, com poucas propagandas em cada intervalo. Depois elas foram aumentando, aumentando… A segunda temporada já começou com oito anunciantes de peso. Eu fico contando, um, dois, trés… daqui a pouco serão uns 25. Isso sem falar na publicidade que tem os três jurados os chefs Eric Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça, como garotos-propaganda. Eles devem estar enchendo as burras de grana. O que é merecido diante da proposta.
O foco muda da Rede Globo e a gente pode ver uma produção estelar com estrelas que não são, ao menos num primeiro momento, atores ou atrizes. Ana Paula Padrão que já era mais conhecida do grande público é um bom exemplo. Parece uma boneca marionete, daquelas bem magrinhas, com roupas coloridas, espalhafatosas, fora de contexto. mas atriz não é. Pena ver uma jornalista de tanto cacife brincando de ser fofinha ou bravinha com os participantes do programa.
Sempre me pergunto: será que com aquela magreza ela gosta de comer? Será que ela e a produção não se tocam que a maquiagem, as unhas, o cabelo e as roupas não ficam bem para o ambiente da cozinha? Excesso. Puro excesso. Como diria Gilberto Gil: “Desnecessário, Preta! Desnecessário.”
Na seleção para 2015, foram mais de 10 mil inscrições. Sobraram 18. O critério da seleção, ao que tudo indica, é duvidoso, afinal Masterchef é entretenimento muito mais que uma competição entre cozinheiros excepcionais. Nem é preciso pensar muito para notar que o critério de seleção passa, digamos, um pouco longe da gastronomia e, até mesmo, de cozinhar bem.
A explicação para isso é simples. No nosso modelo comercial de televisão, sempre quem paga a conta são os patrocinadores. Esses, por sua vez, contratam especialistas em mídia e marketing em suas empresas para que seus produtos sejam amplamente divulgados nos melhores veículos de comunicação, sejam programas, revistas, novelas etc. O papel desses especialistas é escolher onde aplicar o dinheiro das empresas e de seus produtos de maneira a garantir a maior visibilidade e, consequentemente, vendas e lucros.
Parece óbvio que o Masterchef só se torna uma boa cesta para que sejam colocados os ovos, no sentido figurado, dos patrocinadores se os participantes, ou seja, os concorrentes forem pessoas que representem o público a que os patrocinadores querem atingir. Simples!
Assim faz todo sentido que sejam escolhidos tipos distintos a fim de formar um grupo heterogêneo que atraia audiência de diversos pontos do país (nada mais Big Brother que isso!) e que sejam contemplados também os bonitos porque funcionam bem na TV (quem não gosta de ver uma pessoa bonita na telinha?), os que causam confusão, os que nos comovem, os que representam minorias e tornam o programa politicamente correto… e até os que cozinham bem, com técnica, pesquisa e preparo.
Nada contra. Mas, embora eu goste muito de ver e fique dando meus palpites durante todo o programa, porque gostoso mesmo é se envolver como se tudo fosse realidade, não é possível torcer de verdade para qualquer dos participantes. As cartas parecem bem marcadas.
Às vezes, os participantes apresentam cada gororoba que se não fosse a fórmula (o modelo) do programa como entretenimento todo mundo voltaria pra casa naquela hora. É nisso que o Masterchef Brasil peca e muito! Os participantes são muito ruins. Eles não sabem nada. Não têm técnica e nem estrutura emocional. E os jurados ainda têm que reforçar que nessa temporada o nível aumentou em relação à passada.
O que vejo na TV, são pessoas que cozinham em casa, tudo bem, mas que não se dignam a estudar um pouco, pesquisar, ver outros programas que ensinem técnicas de cozinha… Quem sabe se fossem algumas vezes a museus para ver exposições de quadros, de esculturas, pudessem com isso desenvolver algum senso estético para montar um prato….
Comparando Masterchef Brasil com Masterchef Austrália, série que também está com uma temporada no ar no canal TLC, fica muito claro o quanto somos mambembes na arte da gastronomia por aqui. Temos zilhares de chefs de cozinha se metendo a abrir suas portinhas por aí, cheios de sonhos, mas com pouca técnica, pouco tempo dedicado a estudar o que denota um total despreparo quando é preciso mais do que simplesmente talento e prazer.
Nesse sentido, é uma pena… Esse é um momento em que como brasileiros somos grandes vencedores nivelados por baixo, mais uma vez. Como no futebol e na Fórmula 1. Tempos ruins.
Por agora é isso. Aguardemos o episódio de hoje. Outra hora, sabe-se lá,escrevo mais umas observações sobre o nosso Masterchef Brasil.
Cara amiga, faço algumas perguntas que tenho por óbvio as respostas e que vou deixar em aberto:
Temos zilhares de chefs de cozinha ou recém formados, deslumbrados, sem conhecimento nenhum, crús de tudo, que saem da faculdade pensando em abrir um negócio gastronômico e acabam torrando as economias do papai?
Temos condições de montar um MasterChef como se faz na Austrália berço da competição?
Temos pessoas com cultura o bastante para participar de uma competição dessas?
Os jurados e a apresentadora, são pessoas preparadas para ocuparem suas posições no programa , pensando em termo de competição?
Não assisto, não teria assistido nem o primeiro programa da série se soubesse o que ia ver, para quem conhece a competição de perto, ver o que foi feito da franquia aqui no Brasil, é como coloca-la no lixo.
Desculpe o desabafo minha cara, mas, na minha opinião, para um país que não conhece nem nunca ouviu falar no básico da segurança alimentar, coisa que lá fora é ensinado na escola primária, não pode fazer competições assim. Além de nojento, sujo e muito mal produzido o programa foge a qualquer parâmetro de saudabilidade, seja física, mental ou espiritual. Comparar edições? Só pode ser brincadeira! Não temos MasterChef temos TupiniquinChef! Por favor, não encare meu comentário com direcionamento pessoal, não tem nada a ver, é que não consigo nem imaginar como a franqueadora permite certas coisas que acontecem com a marca por aqui.
Chef, eu gosto de ler seus comentários. Fico contente com a sua participação e concordo plenamente com suas observações. Como disse, no Brasil, o Masterchef é só entretenimento, não é competição culinária e , como tem público, isso parece bastar para o franqueador que aceita as temeridades que vemos nos episódios brasileiros. Obrigada pelas reflexões. Um abração!