– Ah! Eu não tenho tempo pra essas coisas… – você vai dizer.
Quanto tempo demora pra fazer um macarrão? Sim, aquele de massa Barilla, Galo, Renata, Massarini, desses industrializados? Pouco tempo. Entre 7 e 10 minutos para cozinhar a massa depois da fervura da água.
Mas, macarrão não é só massa. É molho também. Claro. Sem dúvida essa é uma parte importante do preparo. Só que quando a gente está sozinho em casa e resolve fazer “um cata” do que tem à disposição na geladeira ou na despensa, o que conta mais é a criatividade, até porque um macarrão puxado na manteiga é um macarrão temperado com molho de manteiga, assim como um alho e óleo. Em ambos, o tempo gasto para o preparo é menor do que o da cocção do massa seca em água fervente.
Somados os tempos encavalados porque uma parte se faz enquanto outra se está fazendo, para um belo prato de macarrão se tornar a sua refeição quando bate aquela fome, não serão necessários muitos mais do que 15 minutos. Tudo dependerá da sua destreza em organizar a atividade e, também, do que estiver disponível para cozinhar, digo, os ingredientes.
Mas a conversa de hoje tem a ver com a mesa posta. A mesa que arrumamos para a pessoa mais importante de todas: você!
Há quem devido ao fato de viver só nunca arrume a mesa com toalha, pratos e talheres bonitos, guardanapo, copo adequado para o que vai beber. Isso é loucura, gente! É preciso viver! E há um prazer tão grande em sentar calmamente diante da refeição para degustá-la com tranquilidade, sentido o sabor, a textura, o aroma, a harmonia dos elementos do preparo e sua combinação com a bebida que acompanha que não dá pra acreditar que tenha quem não se dê (ou não se tenha dado) esse regalo nunca! “Pode uma coisa dessas, Arnaldo?”, já diria o tal Galvão Bueno.
Eu não me furto desse prazer, porque ele é tão grande, que pra que comer uma comida requentada no microondas com o prato na mão na frente da TV, engolindo os bocados sem prestar atenção em nada? Ah! E ainda de sobra engordar por isso já que a mastigação faz parte da boa digestão que tem tudo a ver com os quilinhos a mais que adquirimos pela vida afora.
É bastante comum que não dê tempo de fazer nem isso em vários dias, eu concordo, mas nunca é muito tempo!
Então vamos começar por hoje.
Resolvi escrever sobre isso porque acabo de fazer uma refeição gloriosa cujo início se deu com um preguiça imensa de cozinhar o que quer que fosse. Então, macarrão é a solução.
Fui à despensa, que na minha casa nada mais é do que um armário na cozinha, encontrei a lata em que guardo macarrão quando o pacote já foi aberto e sobrou um tanto. Vi que tinha parafuso (fusilli). Tempo de cozimento previsto: sete minutos. Não vacilei.
Pus a água para esquentar, logo em seguida um punhadinho de sal e assim que levantou fervura três punhados do meu de massa na água. Baixei o fogo para não transbordar a panela e sujar o fogão (a Maria veio ontem e deixou minha cozinha um brinco!).
Enquanto isso, cacei na geladeira uma calabresa acebolada que fiz pra Bruna, mas ela não comeu anteontem à noite. Estava em boas condições, refrigerada logo depois do preparo. Encontrei também um resto de caponata. Olhei para ambos e pensei que poderiam se juntar e virar o recheio (molho) do meu macarrão.
Acendi o fogo, pus uma panela para aquecer, despejei ali as linguiças calabresas em rodelas e as cebolas e quando já havia soltado um pouco da gordura concentrada, pus um gole de água e em seguida a caponata. Retemperei tudo com sal, pimenta, um pouco de mostarda. Tudo bem aquecido, olhei para macarrão já estava quase no ponto, Assim que chegou no ideal, escorri a água e misturei o recheio. Ficou 10!
Mesa posta
Ah, claro, pus a mesa pra mim! Jogo americano, talheres que eu gosto, bom guardanapo de papel branco (não daqueles que escorregam, deus-me-livre), uma taça de vinho de dia-a-dia. Abri um vinhozinho barato que estava na geladeira, mas que não faz feio para uma quarta-feira meio corrida…
Hummmm… Que mais? Não precisa mais. É bom demais!
Dificilmente faço pratos que levem linguiça calabresa, bacon, toucinho ou barriga. Não é porque eu não goste. Eu até curto o sabor e acho que alguns preparos ficam muito melhores com esses ingredientes. No entanto, quase sempre, requerem quantidade para o preparo minímo maior do que eu conseguiria consumir sozinha e o Silas não come nada disso. Ele não gosta.
Uma vez que são alimentos muito calóricos, também tento evitar, devo confessar. Mas, às vezes, eu tento agradar quem vai comer comigo. Neste caso, achei que a Bruna viria jantar, mas quando ela chegou já havia comido na rua.
Tudo se resume no entanto em cozinhar pra si, arrumar a mesa para si, desfrutar da vida por si. Isso é fundamental, ao menos pra mim. Não nascemos grudados em ninguém, nem somos ou deveríamos ser, por natureza, dependentes uns dos outros. Viver socialmente é uma delícia, um aprendizado constante, um exercício diário. Mas é preciso gostar de si mesmo antes de qualquer outra coisa. Para cuidar do outro é preciso estar equilibrado tanto para não se tornar dependente dessa condição como uma muleta ou um esconderijo para não se reconhecer com indivíduo pleno quanto para não interferir indevidamente na vida alheia com cobranças e julgamentos. Quem não conhece alguém que se dá por completo mas cobra do outro um preço tão alto que é impossível sanar a dívida? Isso não é cuidar, é carência, é solidão.
A mesa posta é um ato de carinho, de cuidado e de afeto. Por que não tê-lo consigo mesmo? Só os outros merecem? Pense.
Um brinde a você e ao tempo que dedica a si mesmo!
Beijos, bom macarrão!