Nunca gostei muito dos Simpsons, essa é a verdade que tentei não declarar para não parecer um extraterrestre.
Ontem, meio sem querer, vi o episódio Blame It on Lisa, traduzido aqui como O Feitiço de Lisa, produzido em 2002, quando a família de Homer vem ao Brasil à procura do menino Ronaldo, um apadrinhado à distância pela menina inteligente e de bom coração do seriado.
Lembrei-me que na ocasião, o desenho não foi bem visto pelas autoridades brasileiras que chegaram a pensar em processar a Fox por tamanha aberração. Na época me pareceu um tanto exagerada a preocupação de membros do Governo do Brasil com o episódio e sua repercursão em relação à imagem e ao entendimento do telespectadores de todo o mundo sobre o que é esse país. Agora, eu já não vejo assim. Talvez porque eu esteja embuída da verve da Copa do Mundo no Brasil. Será? No fundo, apesar de tudo, eu tenho mesmo orgulho de ser brasileira e o que vi retratado como Brasil no desenho é tão repugnante pra mim que resolvi não me abster de escrever o que penso.
Primeiro, eu me manifestei no facebook e acabei tendo, no meu post, alguns comentários de pessoas cujas opiniões eu respeito muito que sentiram o mesmo que eu ao assistir o tal desenho animado.
Então resolvi fazer uma pesquisa na internet sobre os Simpsons no Brasil e acabei descobrindo, uma vez que nunca fui muito ligada nisso, que agora em 2014, eles novamente criaram um episódio que se passa em terras tupiniquins e durante a Copa do Mundo, na qual o exemplo de hombridade e retidão de caráter Homer Simpson é um juiz de futebol. Assisti e posso declarar que é bem menos ofensivo que o de 12 anos atrás.
O que vi ontem é de tamanha barbaridade que não dá pra deixar pra lá. Há uma passagem em que a mãe de alguns garotos trombadinhas distrai Homer para que a sua renca de filhos possa assaltá-lo, depená-lo. Lamento, mas não consigo abstrair e ver algum tipo de humor nisso. Em outro momento, o professor de dança de uma Samba School insinua que menina Lisa já tem idade para gostar de uma dança pra lá de sensual e há uma chocante insinuação sobre prostituição infantil que, convenhamos, é tudo que é preciso combater em qualquer instância.
Isso é humor? É criativo? Ninguém precisa me dizer que senso de humor a gente tem ou não tem, mas nesse caso, não se trata de ironia, exacerbação de uma realidade, a mim me parece mesmo preconceito e irresponsabilidade.
E a próxima pergunta é: a troco de quê? A troco de muitos milhões de expectadores, muita curiosidade diante da bizarrice e de muito dinheiro, realmente muito patrocínio nos intervalos.
Li que o episódio foi visto por 11 milhões de pessoas somente na exibição original. Dá pra imaginar depois… e o que nem dá pra imaginar o que isso significa em dólares rendidos. O roteirista Bob Bendetson por pouco não foi premiado devido a sua “criativa ironia” quanto ao Brasil. Além disso, esse episódio dos Simpsons virou tema de debates acadêmicos tanto aqui quanto nos Estados Unidos.
Segundo os estudiosos, há muita erudição nesse capítulo da série, com referências cinematográficas geniais e trocadilhos muito inteligentes. Além de uma vasta semiologia que, caso o episódio fosse exibido em TV aberta no Brasil, geraria uma discussão filosófica que somente poderia agregar ao povo brasileiro. Ora, como nos tomam por idiotas. É como se todos fôssemos Homers.
Quando me referi aos muitos patrocinadores dos intervalos, só pra ter uma ideia, apenas no episódio de 2014, na internet há 4 interrupções para que entre a propaganda da Decolar.com. É bom lembrar que na internet, caso você queira, pode pular o comercial, o que não ocorre na TV, muito menos nos canais abertos.
A minha indignação tardia, é verdade, se deve ao profundo preconceito maquiado que um desenho como esse, que ninguém se sente no direito de dizer que não gosta, como eu disse no começo, para não parecer um pária inculto e rabugento, isso se não for acusado de ser um “direitona” sem humor, leva ao mundo todo. Afinal é tão bacana e legal gostar de um anti-herói como Homer. É tão cool! Ora, vai se catar!
Esse blog me dá a chance de confessar o meu fracasso em compreender essa lógica dos engraçados e enturmados. Confesso: não sou capaz de ver graça. Para mim, é melhor ser mesmo bonzinho. Eu acho mais bonito. Eu gosto dos heróis e sonho com um mundo melhor, menos injusto, menos preconceituoso, mais amoroso. Tô fora desse tipo de subterfúgio pseudodivertido.
Detestei os episódios dos Simpsons no Brasil. Eles poderiam nunca mais vir nos visitar já que somos mesmo macacos!
Pra mim, a única personagem que serve no seriado é a tola Lisa. Ela estuda, se dedica e acredita em grandes ações. Seja bem-vinda Lisa Simpson!