Salve, simpatia!
O chef Eudes Assis é amigo da Nicia, irmã do Silas. Por isso e por ter provado sua comida em outras ocasiões ela nos sugeriu o restaurante Taioba para o almoço no domingo passado.
Taioba é uma folha verde grande e forte, comestível, típica de áreas tropicais. Tem um gosto que lembra o do espinafre, mas mais suave. Há algum tempo, vivia no prato dos brasileiros, em especial dos mineiros. Agora anda quase esquecida, não fosse o resgate de seu uso nos preparos feitos por alguns cozinheiros mais cuidadosos com os produtos regionais.
Essa verdura dá nome ao restaurante do chef Eudes e é o ingrediente de uma iguaria interessante que ele serve por lá como entrada: o bolinho de taioba.
O domingo estava chuvoso e nosso passeio pelo litoral paulista no feriado de 7 de Setembro incluía uma visita à casa da Nícia, em Boiçucanga. Como o Sertão de Camburi é muito perto, fomos conhecer o Taioba.
O restaurante é simples, mas bem bonitinho. Na decoração que é alegre por causa das cores usadas houve o cuidado de se usar madeira em vez de plástico e o chão lembra ladrilho hidráulico o que dá um tom de modernidade aconchegante. Mas não chega a ser sofisticado. Acho que nem é essa a proposta.
Por sinal, o que ficou bem evidente para mim no Taioba é que ali há uma valorização do mundo caiçara: tanto na comida quanto no tratamento dado aos clientes, assim como em outros elementos.
Só pra dar uma ideia de onde me veio essa sensação, havia na área de espera do restaurante um painel bem grande pintado por uma artista local desses que a gente coloca só o rosto por trás para fazer fotos engraçadas e levar de lembrança. Isso deve ter um nome, mas eu não sei qual é. A paisagem ali pintada é de gente se divertindo na praia, claro. No canto direito do painel, olhando de frente, numa referência a uma foto famosa da Nícia, uma homenagem ao homem pescador que vive do mar e cuida da rede de pesca com cuidado e carinho.
Com isso, dá para perceber que há uma comunhão de valores de quatro artistas de áreas muito distintas: o chef de cozinha, a artista plástica, a fotógrafa e o pescador. Cada um no seu ofício, mas valorizando, respeitando e dando espaço aos demais.
Chef Eudes Assis e a fotógrafa Nicia Guerriero |
Soube pela Nícia que o chef Eudes tem uma história de envolvimento com as questões sociais dessa região de São Sebastião. Ele dá aulas de gastronomia para crianças no Projeto Buscapé, uma associação sem fins lucrativos de Boiçucanga. A ideia dele é ensinar, como já aprendeu um dia e em casa com a mãe (ele tem 11 irmãos), como usar os ingredientes regionais e valorizá-los.
Nesse mesmo projeto, é dele a curadoria do Arraial Gastronômico. Ele já levou pesos pesados da Gastronomia, como Alex Atala, para cozinhar por lá.
Em relação à comida do Taioba, a proposta é interessante uma vez que valoriza os ingredientes caiçaras, em especial a folha já mencionada e os peixes.
Eu comi um bobó de camarão servido com arroz e castanha do Pará. Não foi o melhor bobó da minha vida, mas eu repetiria se não fosse pura gulodice já que o tamanho do prato é adequado para matar a fome. Não se trata de uma porção arrebatadoramente grande, é o que eu chamo de suficiente.
Provei do prato do Silas um pouco do peixe que, embora frito, estava bem sequinho e suculento.
Boa surpresa foi a sobremesa: um sagu feito com leite de coco, com manga e castanhas. A combinação ficou perfeita, muito saboroso mesmo!
Tivemos o privilégio do bate-papo com o chef Eudes, já que ficamos bastante tempo por lá, conversando e quando nos demos conta já nem tinha mais gente no resto do salão. Ele então teve tempo de deixar a cozinha e vir nos fazer companhia. Por isso, chegamos a comentar com ele que a espera pelo cardápio foi além do que esperávamos quando já estávamos sentados à mesa.
Aí, juntou a simplicidade e o jeito amável com a experiência de bem receber do caiçara mais aquela adquirida em anos de gastronomia em restaurantes sofisticados. Generosamente, talvez para reparar a falha inicial ou só por carinho mesmo, o amigo Eudes nos presentou com tortinhas de palmito e camarão (que são servidas de entrada) para levarmos o bom sabor do restaurante pra casa.
Desde sempre penso muito nas trajetórias que conduzem profissionais ao sucesso, seja isso lá o que for para cada um. Algo que me parece comum a todos é o objetivo claro, ou seja, saber o que quer, sem deixar de ter respeito às raízes. Ao chef Eudes, isso não falta. O caminho ele vem trilhando. Parece que vem dando certo!
Se for ao litoral Norte, acho que vale a pena conferir.
Fotos: Nicia Guerriero
Serviço
Taioba Gastronomia – Rua Tijucas, 55, Camburi, São Sebastião – SP
12 3865-2846 – reservas: taiobabrasil@gmail.com
Gostaria de acrescentar aqui uma informação que nem eu nem Eudes passamos naquele dia e que eu tenho da época em que escrevi meu primeiro livro "Carapirás": a taioba era importante na alimentação caiçara na época da auto-suficiência, isto é, quando não havia onde comprar comida e todas as famílias se dedicavam à pequena agricultura. Em termos nutriconais, dizem que a taioba equivale à couve mineira, e era usada obrigatoriamente pelas mães no período de amamentação dos bebês. Como Eudes é nascido e criado por aqui, certamente tomou muito leite fortificado por taioba. Além disso, a taioba é uma folhagem linda que enfeita meu jardim aqui e ali, embora nunca plantei, ela vem no ar … (Nicia Guerriero)
Nicia, ontem descobri que no quintal da minha mãe em Itu tem Taioba!!!!