Quando a gente volta de uma viagem como a que eu fiz nessas férias demora um pouco para compreender porque alguns produtos no Brasil são tão absurdamente caros.
Ontem fui ao supermercado Pão de Açúcar para comprar umas coisinhas já que teria visitas em casa nesse fim de semana de Dia dos Pais. Meu cunhado veio com a família da Alemanha de férias para cá, rumo ao Pantanal de Mato Grosso. Com escala de voo e família em São Paulo, embarcam na segunda-feira para ver as belezas naturais do nosso Cerrado e tentar apreciar a fauna pantaneira. Enquanto estão por aqui a nossa casa é também a casa deles.
Inevitavelmente comparei os preços de alguns produtos, entre eles, os dos queijos à venda nesse supermercado em relação aos que vimos e compramos durante a viagem, tanto na Holanda quanto na Alemanha. Claro que guardadas as devidas proporções, as conversões de moeda e a origem dos alimentos, aqui teríamos queijos camembert, gouda, brie, roquefort, emmental e outros tantos, com preços mais altos do que na Europa. Contudo, nada justifica o completo absurdo de se pagar R$ 99 (noventa e nove reais) por um quilo de queijo brie, preço que é praticado no Pão de Açúcar sem qualquer pudor.
Eu comprei queijo brie no interior da Alemanha por menos de 7 euros o quilo. Um disparate mesmo se sobre esse valor fossem colocados a conversão da moeda, todos os impostos e mais todo o preço do “glamour” que o brasileiro, especialmente o mediano, se digna a pagar. Ainda pior que isso é notar que a maioria dos queijos vendidos no mercado brasileiro são nacionais, ou seja, são tipo gouda, tipo camembert, tipo parmesão, enfim, não são necessariamente importados. Mesmo assim por eles são cobrados preços acintosamente vergonhosos.
Contudo, estudando um pouco de política agrícola internacional, coisa que fiz há muitos anos (hoje em dia sou apenas curiosa), é possível dar um desconto para o produtor nacional. A política agrícola europeia, diferentemente da nossa, valoriza a permanência do produtor rural em seu lugar de origem. Existem subsídios e vantagens para que o produtor rural europeu, não o latifundiário, mas aquele da propriedade média que nasceu no campo e tem um pasto ou uma pequena área de terra plantada com girassois ou trigo, não abandone sua atividade de família. Ao contrário, ele é valorizado e tem todas as condições para continuar sua produção.
A Política Agricola Comum (PAC) da Europa tem como objetivo garantir um bom nível de vida à população agrícola e o fornecimento regular com preços razoáveis para o consumidor, com isso visa estabilizar os mercados, sem deixar de se preocupar com o aumento da produtividade da agricultura, sem perder a qualidade.
Tudo muito diferente do que é feito no Brasil. Aqui, os fazendeiros têm grandes propriedades e são altamente produtivos, mas produzem para exportação. Esses, apesar de reclamarem muito sobre o custo-Brasil, são ricos e fomentam com suas fortunas o consumo de carros caríssimos, roupas de grifes internacionais, bebidas importadas e também de queijos tão caros. Mas, se você quiser comer o queijinho produzido pela dona Maria, aquele que ela faz na sua pequena propriedade, sem escala e sem subsídio, terá que ser um amigo da familia dela para ganhar um ou, caso esse queijo chegue a uma queijaria de São Paulo, vai custar bem caro para o padrão de qualidade oferecido. Isso só para dar exemplo. Sem contar que para a dona Maria é impossível vender num rede de supermercados, mesmo que regional. O preço que se paga no Brasil para poder ter um produto na gôndola do supermercado é desanimador. Para entrar numa grande rede é preciso suar, dar o sangue e derramar muitas lágrimas. Com o perdão da licença poética, se você tiver um produto e quiser vender no Pão de Açúcar, vão te arrancar o couro!
Diante de toda essa desproporção existente, continuamos na nossa batalha por um ambiente mais saudável nos negócios brasileiros no qual existam melhores oportunidades para os pequenos produtores.
Sem mais derivações quanto ao assunto de hoje que é risoto de abobrinha com queijo brie, esse foi o prato escolhido para o almoço de ontem, sexta-feira. Fiz o suficiente para sete pessoas.
Risoto de abobrinha com queijo brie
Ingredientes
1 cebola média picada em pedaços pequenos
2 colheres de sopa de azeite de oliva extra virgem
1 dente de alho amassado
500 gramas de arroz arbório
3 abobrinhas italianas médias picadas em cubos pequenos (com casca)
1/2 xícara de azeitonas verdes sem caroço picadas
sal
pimenta do reino
1 colher de chá de açafrão
200 ml de vinho branco seco
1 litro de caldo de legumes (carne ou frango)
200 gramas de queijo brie cortado em cubinhos
200 gramas de queijo parmesão ralado
1 colher de manteiga
Modo de fazer
Numa panela wok, refogue a cebola e o alho no azeite de oliva, acrescente o arroz arboreo e deixe fritar por cerca de 2 minutos, mexendo sempre. Acrescente a abobrinha e as azeitonas picadas, misture. Tempere com sal, pimenta do reino e o açafrão. Em seguida ponha o vinho branco e deixe começar a reduzir, mexendo de vez em quando em movimento para risoto (dos lados para dentro, sem deixar grudar na panela e nem quebrar o arroz). Aos poucos vá acrescentando o caldo e mexendo para dar liga. Quando estiver al dente, caso tenha sobrado caldo, dispense. Distribua igualmente o queijo brie por todo o risoto e misture com movimentos delicados para não deixar que o queijo se junte. Desligue a panela, acrescente a manteiga e mexa com movimentos circulares do centro para as laterais. Polvilhe o queijo parmesão e tampe a panela por pelo menos 5 minutos antes de servir.
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Para acompanhar esse risoto fizemos também uma escarola “abafadinha” (como diz minha mãe) na panela com alho e regada com azeite.
Minha sugestão para harmonizar é um vinho branco. Tenho preferência pelo Chardonnay, mas um Riesling um pouco mais encorpado pode ser uma boa companhia para o prato.
O risoto é uma solução interessante de prato único para ser servido em ocasiões diversas, inclusive num coquetel em pé. Nesse caso, pequenas porções servidas em panelinhas com um garfo pequeno do tipo de sobremesa ficará bem charmoso.
Esse prato é sustante e delicado ao mesmo tempo. No nosso almoço de ontem, decidi por esse risoto porque ele não exige nenhum tipo de carne, já que meus convidados são vegetarianos.
Na receita original, não é necessário acrescentar o açafrão, mas eu gosto de um pouco de cor nos pratos e também do cheiro, por isso aderi à especiaria.
Bom fim de semana!
Aproveitando, duas dicas: faça compras conscientes no supermercado, privilegie o produto regional e não se deixe levar pelo entusiasmo de comprar sempre os importados, muitas vezes ele são caros demais. Produtos de temporada na feira são mais baratos e tendem a ser melhores dos que os que são forçados a amadurecer.