Mesmo se você não tem qualquer preconceito, especialmente na cozinha, ao ouvir a palavra salada o que vêm à cabeça? Não soa imediatamente como uma comida fria? A mim, sim. No entanto, isso não me impede de me abrir para novas formas de olhar um prato e então repensá-lo. Salada quente?!
Muitas vezes, quando experimentamos novos jeitos de fazer uma determinada tarefa, encontramos novos prazeres. Na cozinha, como na vida, aprendemos alguns conceitos que nos fazem ver de uma certa maneira. No entanto, quem ou o que nos impede de fazer diferente? As técnicas básicas de cozinha, uma vez aprendidas, são excelentes estruturas para que possamos ousar. É importante dominar a técnica, quanto a isso não há dúvida. Mas, por que não inovar de vez em quando?
Um bom exemplo que pode causar estranheza é a pizza fria no café da manhã. Quem nunca comeu, não sabe o que perdeu! Quem sabe a pizza não deveria ter sido criada para esse fim, ou seja, esfriar desde a noite anterior quando é comprada e, via de regra, servida, para ser comida quase gelada na hora do desjejum? Comida não é só alimento. Comida é cultura, é sempre bom lembrar. Os nossos hábitos não são os únicos existentes no mundo. Há quem faça diferente. E muito!
Assim como as sopas são lembradas como pratos quentes e podem ser servidas frias, dependendo do prepraro, também há saladas que, de acordo com sua receita e ocasião, são pratos quentes.
Nesse recém passado fim de semana, estivemos em Atibaia, Silas e eu, juntamente com a família dos Guerriero. Como eu diria, quase a formação original: pai, mãe e filhos. Não foi assim por pouco, só quatro dos cinco filhos da dona Dora estavam no Brasil. Faltou a Cíntia. Além disso, estavam também os netos, genros e nora (eu).
Por essa ocasião, uma vez que parte da família não come carne, resolvi fazer uma salada quente. Seria um preparo rápido, que tendia a agradar a maioria, não muito caro, com bom sabor, nutritivo e, pra mim, lindo! De encher os olhos e fazer salivar.
Essa é a receita que compartilho hoje por aqui. Parece um ratatouille, mas não é. Não tem pimentões, e, preferencialmente, deve ser servida quente!
Salada quente de abobrinha e berinjela
Ingredientes
2 abobrinhas italianas cortadas em rodelas (de um centímetro)
1 berinjela cortada em rodelas
1 cebola picada em folhas
1 tomate picado no sentido vertical formando oito pedaços
alecrim o quanto baste
3 raminhos de hortelã
1/2 xícara (chá) de azeite extravirgem
sal grosso e pimenta do reino a gosto
Modo de preparar
Numa assadeira grande, distribua todos os ingredientes: primeiro, as rodelas e depois a cebola e o tomate. Regue com o azeite (reserve umas duas colheres para uma nova regada posterior). Polvilhe o alecrim, as folhinhas de hortelã e tempere com sal grosso e pimenta do reino. Leve ao forno em temperatura de 200 graus. Depois de 15 minutos, retire do forno e movimente os ingredientes, misturando-os. Volte ao forno e deixe assar até que fiquem macios, mas não muito moles. Se for preciso, vire mais uma ou duas vezes os vegetais para que fiquem igualmente cozidos.
Sirva numa bela saladeira e com mais um fio de azeite. Se precisar, corrija o sal.
Para acompanhar:
Essa salada quente pode ser acompanhada de pão italiano ou português. Folhas verdes também são bons acompanhamentos e darão um excelente contraste, uma vez que estarão frios.
A melhor bebida para acompanhar um sabor acentuado como o da berinjela assada com toque proeminente de alecrim é um vinho tinto: cabernet, malbec ou tannat. Os fortes. Não esquecer da água é muito importante.
Nota: Preservar os ingredientes um pouco crocantes, torna-os mais agradáveis. A textura é muito importante em qualquer prato. Entre os ingredientes usados, o que mais demora para assar é a berinjela, se não gostar dela al dente, leva-a primeiro, separada, por uns 10 minutos ao forno.
Foto: Nícia Guerriero |
A saladeira
Eu adoro histórias de utensílios domésticos. Especialmente, os que sobreviveram a tantos fatos, tantas viagens do armário até a mesa. Muitas vezes, mudaram-se de casa até mais que os próprios donos. Alguns passaram temporadas na casa dos filhos, de algum amigo querido. Raros são os que retornam ao lar de origem, ou melhor, aquele que por primeiro o adotou.
A saladeira da fotografia (que foi feita pela Nícia, por isso está tão profissional) onde foi servida a salada quente no domingo é linda. Mas, originalmente, não era usada para esse fim. Perguntei a minha sogra qual era a história. Ela se demorou um pouco pra lembrar, enquanto meu cunhado dizia que era uma peça nova, sem muito o que dizer dela. Parece nova mesmo, é muito contemporânea, uma peça de ótima qualidade. Enfim, dona Dona se lembrou que a travessa era usada para arranjos florais quando ela ainda morava na Avenida Paulista, há quase cinquenta anos.
Fiquei muito feliz de poder usá-la nessa ocasião. Fez a salada quente crescer, digo, aparecer!
E você pensa nessa poesia toda quando serve a mesa? Que tal se dar esse direito. A vida vai ficar mais bonita. Uma dica: use os seus pratos lindos, sirva-se e também aos seus amigos com eles sempre. A vida passa rápido. Já os pratos, se bem preservados, duram eternamente.
Boa terça-feira!