Quando uma sopa de capeletti faz toda diferença…
Um cuidado que sempre reconheci nas pessoas mais próximas da minha família, sejam parentes ou amigos, foi o de providenciar uma comida feita com carinho daquelas para aquecer a alma num momento de dor, seja por uma doença ou na morte de um ente querido.
Como que para diminuir o sofrimento vem aquela tigela de canja recém-preparada embrulhada num pano de prato limpinho. Bem quentinha a sopa tem destino certeiro, vai diretamente para a mesa da cozinha da casa da família que sofre a perda de alguém, seja ela esperada ou não.
Quando meu pai morreu, minha madrinha nos levou uma grande vasilha de sopa de capeletti preparada por ela. Além de cuidar de nós naquela hora tão triste alimentando nossos corpos, ela encheu aquela tigela refratária coberta com uma tampa de panela de alumínio de solidariedade, de apreço por todos nós, de amor.
A comida é um elemento muito presente em momentos de luto. Independente de como aparece em cada cultura, ela é mais que alimento. Pode ser uma representação simbólica usada em determinados rituais funerários, significa compaixão entre pessoas que se querem bem, como eu descrevi acima, ou pode até mesmo ser somente a única forma real de quem sofre se manter vivo. Há quem desconte na comida toda a dor que sente com uma perda e também há os que, diante da tragédia, deixem de comer por dias.
A receita do capeletti da minha madrinha eu não tenho, mas vi minha mãe fazendo (e ajudei) muitas vezes a receita da sopa de capeletti da minha avó Leonor, mãe do pai. Mas, como a receita da minha família sempre teve jeito de festa de Natal ou de Ano Novo, vou deixar para escrever num momento mais alegre. No entanto, encontrei uma receita no site re-comendo.com que é a que vou reproduzir aqui:
Capeletti in brodo
Ingredientes para o recheio
800gr de coxão mole ou alcatra
500gr de pernil sem osso
3 cebolas
2 dentes de alho
2 ovos
1 pires (chá) de queijo meia cura ralado ou parmesão
Cheiro verde à gosto
Noz moscada à gosto
Sal
Ingredientes para a massa
1kg de farinha de trigo
10 ovos
Ingredientes para o brodo:
1 cebola
4 dentes de alho
2 tomates
1 cenoura pequena
2 talos de salsão
1/2 frango temperado
250gr de músculo
250gr de costela (ou outra carne com osso)
Sal à gosto
Modo de preparo do recheio
Numa panela de pressão colocar as carnes para cozinharem com 2 cebolas, 3 dentes de alho e sal à gosto. Assim que as carnes estiverem cozidas elas deverão ser moídas. Moer juntamente com a carne mais 1 cebola e um punhado de cheiro verde. Adicionar o pires de queijo, os 2 ovos e bastante noz moscada. Misturar bem e reservar para rechear os capeletti.
Modo de preparo da massa
Misturar a farinha com os ovos. Numa bacia sovar até que a massa fique uniforme e bem lisinha. A consistência da massa é bem firme. Fazer uma bola com a massa, cobrir com um pano umedecido e deixar descansar por 15 minutos. Abrir a massa em uma máquina para abrir massas bem fina. Cortar a massa em quadrados de aproximadamente 5cmx5cm e dispor os punhados do recheio. Dobrar os capeletti um a um conforme a fotografia abaixo. Primeiramente dobrar como um triangulo. Logo em seguida emendar as extremidades e dar uma virada para criar o formato do capeletti. Deixar os capeletti secarem se quiser congelar. Caso for finalizar no mesmo dia não há necessidade de secar a massa pronta.
Finalização do brodo
Colocar todos os ingredientes para cozinharem até começar a desmanchar. O cozimento deve durar em torno de 3 horas e não é preciso refogar as carnes antes. Assim que o caldo estiver pronto coar e levar os capeletti ao fogo neste caldo para cozinharem. Servir quente como sopa.
***
Eu estava escrevendo agora pela manhã quando, entre uma pesquisa e outra, li a notícia de que o avião do candidato Eduardo Campos, do PSB, havia caído. Ainda não havia informações sobre vítimas. Meu espírito jornalístico ou meu jeito de ser como pessoa, não sei ao certo o que pesa mais, ficou agitado. Parei o que fazia na mesma hora, liguei a TV e, simultaneamente, comecei uma busca em todos os sites por notícias. Apenas alguns minutos depois, foi confirmada a tragédia.
O sentimento que uma notícia como essa gera tem dimensões diferentes para cada pessoa, mas há uma comoção natural instantânea que é própria do ser humano diante de algo tão chocante. Seja porque levava pessoas importantes que conhecemos da mídia (afinal, uma pessoa não chega a ser candidata à presidência da República sem ser bastante conhecida), seja pelo fato de um avião ter caído, o que assusta muito as pessoas, ou por outros motivos como o momento político (Eduardo Campos estava em plena campanha) que leva tantos amigos jornalistas a participarem desse tipo de atividade, ou ainda por apenas nos lembrar, mais uma vez e de forma tão contundente, que a morte iguala a todos, um acidente como o desta manhã mexe com todos.
Triste e chocada como todo o Brasil com a queda da aeronave que matou sete pessoas esta manhã em Santos, no litoral de São Paulo, faço uma oração silenciosa para que as famílias e os amigos dessas vítimas do acidente encontrem conforto nessa hora de dor.
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