Ainda em Amsterdã, o terceiro dia de viagem, diferentemente dos dois primeiros amanheceu chuvoso. Numa viagem de verão, por mais que saibamos que poderá chover mesmo estando num país europeu, nem sempre as gotas insistentes são bem vindas. Ao contrário, atrapalham os planos e desanimam um pouco. Ainda mais porque com chuva, sentimos frio.
Nossa previsão para esse dia era alugar bikes e passear por toda Amsterdã já que em duas rodas e pedalando damos um ritmo mais produtivo ao passeio. A experiência que tive em Nova York no ano passado me convenceu que com uma bicicleta dá para ver e conhecer muitos mais lugares de uma mesma cidade. Além disso, para as bikes não há trânsito, só, às vezes, um breve incômodo quanto a prendê-las num poste já que não é todo lugar que conta com paraciclos ou eles existem nem sempre estão desocupados. Outra preocupação é se a bici não vai ser roubada ou avariada enquanto estiver estacionada. Para isso, em caso de aluguel, como para os carros, existem apólices de seguros. Fora isso, é uma maravilha.
Quando eu era menina ganhei uma bicicleta Caloi Ceci. Foi uma grande companheira. Onde quer que eu fosse, ia de bicicleta. Não precisava esperar que meu pai me levasse nos lugares e nem me cansava como os que andam a pé. Não entendo porque nas cidades pequenas, já que nas grandes é discutível o perigo do tráfego intenso, as pessoas não andam de bicicleta. Em Itu, por exemplo, seria muito mais fácil ir de bike do que de carro para os lugares. Mais barato e saudável também.
Como chovia na manhã de sábado e, no fim da tarde do segundo dia, a sexta-feira, havíamos feito um bucólico passeio de barco pelos canais de Amsterdã, decidimos ir ao Museu Rijks, onde só tínhamos tomado nosso café da manhã do dia anterior.
O museu foi criado para preservar a história da arte dos Países Baixos. Mais que qualquer outra coisa, inclusive os vários quadros de Rembrandt que estão ali guardados, o prédio é belíssimo. Inaugurado em 1885, emprega 400 pessoas, entre as quais 45 restauradores. Conta com vitrais espetaculares que aproveitando a luz natural colorem o hall do segundo andar, dão brilho e encantam os visitantes, mesmo os menos sensíveis.
Os jardins externos que havíamos visitado no dia anterior são um espetáculo à parte. Estavam floridos com uma ampla diversidade de espécies de cores diversas que, cuidadas por jardineiros amorosos oferecem uma paisagem convidativa para namorar, descansar, ler ou ver as crianças brincando molhadas na água da fonte que tem sensores e jorram na presença delas. Se começar a brincadeira pode contar que não acaba antes que todos estejam ensopadas. E os pais, claro, em algum momento se molham também. Além disso, nos jardins estava vasta intervenção de obras do artista Alexander Calder, móbiles a céu aberto com formas geométricas feitas em madeira e aço, balançando ao vento emolduradas pelas plantas. Um cenário de filme do tipo comédia leve e romântica. O melhor de tudo é que os protagonistas éramos o Silas e eu.
Choveu e nós ficamos no Rijksmuseum boa parte da tarde, até que tivemos fome e decidimos sair para almoçar. Depois voltaríamos.
Ao sair, estava sol novamente!
Comemos num restaurante italiano chamado Cantina de Leo. Pedimos uma salada para mim e uma lasanha para o Silas, que ama esse prato. Sobre o que comemos na viagem e como fomos servidos, eu farei textos especiais, nos quais quero me ater mais e descrever alguns detalhes. Por ora, meu foco é nas atrações da viagem.
Voltamos ao museu depois do almoço que acabou às 16h40. Quando entramos na área especial do prédio, onde estão as porcelanas, os vestidos, as armas, os protótipos das embarcações, pratarias e joias, faltavam apenas 15 minutos para o encerramento das atividades. Não tem choro. Hora de fechar é hora de fechar, nenhum minuto a mais. É preciso desocupar o prédio porque as pessoas vão cuidar de suas vidas. Não são escravas do trabalho. Se você quiser, se organiza e vai mais cedo ao museu ou volta outro dia pra visitar pagando o ticket baratinho de 15 euros novamente. Mas na hora de fechar, fecha.
Ficou então a vontade de ver mais, de olhar com detalhe o que não pode ser visto rapidamente. Ótimo motivo para voltar numa outra ocasião.
Lá fora, o sol nos esperava refletindo luz nas lindas construções de toda a cidade de Amsterdã. Não há um só lugar para onde se olhe e a arquitetura não seja agradável aos olhos. Convivem o novo e o antigo em perfeita harmonia e com amplo uso. Os lugares são habitados, neles existem empresas funcionando dotadas da mais alta tecnologia. Nada é pendurado de qualquer jeito para que um dia seja arrumado. Tudo é feito para funcionar ou adaptado da melhor forma para isso. Não sobram cabos em postes para que as pessoas tenham TV por assinatura, não há antenas gigantescas sobre os prédios devastando a paisagem.
Alugamos duas bicicletas. A do Silas de número 42 e a minha 116. Lindas e em perfeito estado, com travas de segurança e cadeados robustos, elas nos acompanharam do fim da tarde à noite adentro pelas ruas de uma cidade linda, pulsante e capital do país cujo time oranje jogava naquela noite as quartas de final da Copa do Mundo de futebol no Brasil contra a Costa Rica.
O time da Holanda venceu o jogo nos pênaltis e a festa laranja se deve ter estendido pela madrugada, quando já havíamos voltado para o hotel em Leidseinplein, local ao qual já chamávamos carinhosamente de “nosso bairro” em Amsterdã.
Para o dia seguinte, estava programado o primeiro dia de viagem de bike rumo a Leiden.