Todos os meus amigos sabem que eu adoro receber pessoas em casa. Minha amiga e faxineira há mais 15 anos, a Maria, ri comigo e de mim sempre que eu digo que vou parar com isso, vou diminuir o ritmo, porque ela já sabe que dois ou três dias depois já tem visita de novo ou eu inventei alguma festa, jantar ou evento na minha casa.
Minha mãe vive me dizendo: “Vai dando um basta nisso, Cláudia, isso não dá certo”. Quando eu comecei a namorar o Silas, ela tinha certeza que eu mudaria quanto a isso, mas foi ele, graças a Deus, que é uma pessoa flexível e aberta, que entendeu que eu sou desse jeito mesmo. É assim que é e tá acabado, não consigo mudar. Já tentei, mas gosto de gente, de festa e de casa cheia, especialmente, para comemorar episódios da vida. Talvez por isso tenha sido responsável por tantos eventos no decorrer da minha trajetória profissional.
Fiquei contente ao saber que o meu modus operandi está descrito nos livros de Hospitalidade. Segundo a literatura do assunto, os espaços da hospitalidade considerados são: doméstico, público, comercial e virtual, e as ações que envolvem essa prática são: receber, hospedar, alimentar e entreter. Bingo! Mesmo sem saber que isso tudo está devidamente estudado e relatado no âmbito da hospitalidade, eu já fazia isso há muito tempo. Em casa, ou seja, no espaço doméstico, recebo pessoas, com frequência as hospedo, cuido para que se alimentem bem e, vira e mexe, invento uma festa, um encontro entre amigos, um jantar ou almoço…
Ontem, durante a aula em que estudávamos as leis da hospitalidade, uma frase me chamou muito a atenção. Ela diz mais ou menos o seguinte: “o ritual da hospitalidade já é em si um antídoto contra a hostilidade, o que se pode traduzir num sorriso de acolhimento com o qual desarmamos alguém”. Não é brilhante?
Ao tentar se aprimorar na arte do bem receber, algumas dicas são sempre bem-vindas.
Quando for receber um amigo em casa, deixe tanto quanto é possível o ambiente arrumado e limpo. Procure evitar muita louça na pia, roupas espalhadas, banheiro molhado. Isso demonstra que houve uma preparação para que aquela pessoa fosse bem recebida.
Além da casa, cuide para que você esteja bem, se possível, alinhado e confortável, além do que é quase imprescindível que esteja disponível para o seu hóspede ou convidado. Não há nada mais chato do que chegar na casa de alguém e ser trocado por um telefonema ou por afazeres domésticos.
Muitas vezes, recebemos amigos em dias nos quais estamos trabalhando muito. Quando isso ocorrer, tente conseguir uma brecha, pelo menos alguns minutos, mesmo que tenha que acordar mais cedo ou dormir mais tarde, para dar atenção a quem está na sua casa. Uma conversa franca e carinhosa fará com que seu hóspede se sinta acolhido, mesmo que você não esteja todo o tempo disponível.
Preparar um lanchinho, deixar uma chaleira preparada e um saquinho de infusão com uma xícara de chá sobre uma mesa arrumadinha com toalha ou jogo americano, bem como uns petiscos é de bom tom e demonstra carinho.
Ninguém é obrigado a cozinhar divinamente para bem receber, mas é atencioso providenciar itens que os seus convidados gostem. Frutas, sucos, leite e pão com algum tipo de queijo dificilmente dá errado. Quase todo mundo come. Se você conhece bem o gosto de seus convidados, pode comprar ou preparar algo que saiba que vai agradar.
Se o seu convidado vai ficar hospedado, deixe a cama arrumada ou os lençois, travesseiros e cobertores à disposição, bem como toalhas limpas, de banho e de rosto, e um sabonete novo para que ele escolha se quer usar ou não. Há pessoas que não trazem esses itens na mala, especialmente, se vão à casa de amigos próximos. Não custa muito mimar um pouco seu convidado.
Uma garrafa e um copo com água no quarto também é uma delicadeza. Assim como enfeitar o ambiente com uma foto que traga boas lembranças para o hóspede. Nesse quesito, um livro que possa agradar pode ser deixado perto da cama, que, se possível, deve ter algum tipo de iluminação – pode ser um abajur, luminária ou mesmo uma vela. Isso dá aconchego. Tanto quanto um tapete para que ao acordar a pessoa não ponha diretamente o pé no chão frio. Se der, deixe um chinelinho emprestado.
Num momento de festa, o anfitrião é responsável pelo bem estar dos convidados. Deixá-los à vontade não implica que tudo pode ser feito por eles. Por exemplo, reabastecer a geladeira e encontrar coisas dentro dos armários. É importante tentar prever tudo o que será usado durante o evento, deixando à mão para o uso dos convidados, no caso de uma festa informal.
Permitir que as pessoas contribuam com lavar a louça depois do jantar não é um erro, ainda mais se você preparou tudo com carinho e, principalmente, se não deixou 300 panelas engorduradas para serem lavadas após a refeição. Deixar que o convidado limpe tudo o que você sujou e deixou desorganizado é quase sacanagem e, de uma vez por todas, não faz parte da conduta de um bom anfitrião.
Quem recebe, precisa estar preparado. Ainda que as pessoas se responsabilizem por trazer bebidas e comidas, é preciso ter o minimo em casa para o caso dos esquecidinhos ou folgados não cumprirem com o combinado. Imprevistos acontecem. No mínimo, esteja preparado para chamar uma pizza.
Se o motivo do encontro é uma conversa entre amigos, o entretenimento está definido. Caso o assunto acabe, um bom filme pode abrir nova conversa e fazer com que todos relaxem. Da mesma forma, um jogo de tabuleiro, como Imagem e Ação, Quest, Master, Banco Imobiliário ou Desafino. Passei tardes e noites adoráveis jogando com amigos e com amigos de amigos. Ao jogar baralho, não esqueça: “a beleza do jogo é a rapidez” (quem já jogou conosco sabe de onde vem a frase!).
Eu seria capaz de ficar muitas páginas escrevendo sobre itens que considero delicados ao receber em casa, mas por hoje, acho que esses toques podem ser interessantes.
Não é difícil ser anfitrião, mas é preciso atentar para alguns detalhes, principalmente aqueles que parecem desnecessários. São eles os responsáveis pelas melhores impressões, aquelas que ficam no coração e na alma de quem as recebe. Para isso é preciso que não fique evidente e que pareça que não houve grande esforço para aquilo estar ali, só gentileza.
Um olhar, um abraço sincero, uma carona, uma palavra delicada, um elogio. Isso muda a vida das pessoas e muitas vezes isso é só uma questão de hospitalidade resumida em “dar, receber e retribuir”. Tente! Ninguém é tão pobre que nada tenha pra dar, só se for miserável, aí é outra coisa!
Só para ilustrar tudo isso, uma foto de flores que recebi da Renata numa das vezes em que esteve em casa. Ela, que é de casa, sabe instintivamente tudo isso que eu escrevi.
Beijos a todos!