“Foi pra Portugal perdeu o lugar!”
É praticamente unânime que viajar é muito gostoso. A gente vê coisas novas, gente diferente, experimenta outros sabores, sente cheiros de viagem, faz compras, lembra dos amigos e da família em cada coisa que vê, ou seja, sente mais as coisas. Dá mais atenção.
Tem gente que reclama, diz que voltar é péssimo. Pensando bem, acho que isso é só jogo de cena das pessoas. Não consigo, por mais que tente, acreditar que as pessoas cheguem tristes de uma viagem de férias. Ao contrário. Pensando bem, esse sentimento de retorno agrega um conjunto de sensações que não podem ser definidas com exclusividade porque é tudo misturado: a saudade do que a gente havia deixado antes de viajar e a que a gente sabe que vai sentir do que deixou no lugar que foi visitado, o senso de pertencimento a um local ou uma comunidade, a segurança do lar, o sentir-se valorizado quando alguém nos espera na chegada, a atenção que nos é dada com as lembranças e memórias que trazemos e são só nossas, mas que só valem a pena se forem compartilhadas…
Falando nisso, não sei dizer quando isso começou, mas foi depois que o Silas comprou um projetor, isso eu tenho certeza, na minha casa, criamos, meio sem querer, um ritual de encontro de família logo depois da viagem de alguém. Enquanto ainda a pessoa está com tudo fresco na cabeça e quer contar como foi tudo. Reúnem-se todos os que podem vir/ir, e aí, tem comilança e exibição de fotos, comentários mil, perguntas intermináveis e relatos detalhados do que foi importante para quem viajou, É uma coisa muito gostosa de viver. Não importa se quem viajou foi um ou outro, todos dão atenção ao que traz as novidades. Isso só pode rolar no retorno, não é?
Lisboa – Vista do Bairro Alto |
O Silas e eu fizemos uma viagem há alguns dias para Portugal. Foram lindos dias de sol, muita comida boa: pão, queijos, azeitonas, bacalhau, sardinhas, carapaus, pastéis de nata, doces de ovos, cerejas e ameixas; vinho nacional (em Portugal, só vinhos nacionais!), paisagens exuberantes, gente muito hospitaleira e simpática, experiências de fé, de amizade e imensa generosidade como a do amigo Eulálio e de sua família lusitana: dona Arminda, sua mãe, a Mena (irmã) e o Coelho (cunhado) e a linda Maria João, sua sobrinha e, por extensão de sua família, da Fernanda, uma amiga e vizinha da dona Arminda.
Há um trecho de uma música de Amália Rodrigues que diz:
Numa casa portuguesa fica bem, pão e vinho sobre a mesa. E se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa co’a gente (…)
Basta pouco, poucochinho p’ra alegrar uma existência singela… É só amor, pão e vinho e um caldo verde, verdinho a fumegar na tigela.(…)
É uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa!
Certamente, voltamos pra casa com uns quilinhos a mais, e não faríamos nada diferente do que fizemos para manter a silhueta. Isso eu posso garantir.
Nos próximos dias, conto um pouco de tudo isso com mais detalhe. Faz parte do retorno. Eu gosto de voltar porque gosto de viajar! Ou será o contrário?