Um “mar verde” de oliveiras se espalha por todo o território espanhol, produzindo uma belíssima imagem a ser vivenciada. É um convite aos amantes do azeite de oliva extravirgem.
A Espanha tem a maior cadeia de produção de azeites no mundo, responsável por mais de 46% da produção mundial, e também exporta mais azeite que qualquer outro país.
Os números envolvidos na olivicultura espanhola indicam a dimensão da grandeza da atividade:
- 2,6 milhões de hectares de olivais: 5% do território espanhol e 25% da área plantada no mundo
- 340 milhões de oliveiras. O equivalente a aproximadamente 7 oliveiras por habitante do país
- 570 mil olivais e 1.800 plantas de extração de azeites (“lagares de azeites”, ou “Almazaras” em espanhol)
- 260 cultivares de azeitonas
A principal área de cultivo está localizada na Andaluzia, no sul do país, representando mais de 80% da produção nacional. No mapa ao lado, as áreas verdes “mais escuras” indicam a maior presença de olivais.
Uma breve história
A Espanha cultiva oliveiras há aproximadamente 3 mil anos. Sua expansão, riqueza e diversidade foi construída por meio de uma esta longa jornada por diversos povos e culturas, como os fenícios, romanos, árabes, mouros e muçulmanos.
Considera-se que o cultivo da oliveira foi introduzido na Espanha pelos fenícios no ano de 1.050 a.C. Entretanto foi durante o Império Romano, a partir do terceiro século depois de Cristo, que se expandiu a cultura da oliveira mais amplamente, devido a importância no comércio de azeite de oliva espanhol entre as colônias e Roma, especialmente na região da Bética.
Os árabes também deram enorme contribuição a expansão do seu cultivo e produção. A palavra espanhola “aceite” (azeite) vem do árabe “Az-zait”, que significa “suco de oliva” (azeitona).
Nos séculos XVI e XVII, período do Descobrimento das Américas, os espanhóis levaram para as Américas as oliveiras. Inicialmente em 1531 na Califórnia (EUA), posteriormente em 1540 na Argentina, em 1560 no Perú e Chile e no Uruguai se estima entre 1680 e 1760 o período de início do seu cultivo.
Variedade e multiplicidade de aromas e sabores
Atualmente o país possui mais de 260 variedades de azeitonas, o que permite uma multiplicidade de azeites existentes com os mais diversos sabores e aromas. Essa diversidade de oferta possibilita o uso do azeite como um ingrediente indispensável, com ampla aplicação e utilização na gastronomia espanhola.
Base da dieta alimentar dos espanhóis, o país é o segundo maior país consumidor de azeites, consumindo aproximadamente 18% de todo a oferta mundial, sendo que cada habitante do país consome anualmente 12 litros por ano. Para efeito comparativo, nós brasileiros consumimos um pouco menos de meio litro anualmente.
Dentre as centenas de variedades de azeitonas espanholas, as mais representativas em termos de quantidades e de utilização são a Arbequina, Arbosana, Cornicabra, Hojiblanca, Picual e Picuda.
Dentre as principais variedades espanholas que também são cultivadas por produtores brasileiros temos:
- Arbequina: Variedade originária da Cataluña, mas presente em toda Espanha, o seu azeite tem pouca presença de amargo e picante e apresenta um aroma frutado de ervas frescas, maçã, banana e amêndoas. É a variedade mais cultivada no Brasil.
- Arbosana: Presente na Cataluña, seu azeite apresenta notas de ervas verdes com amargo e picantes moderados e bem equilibrados.
- Picual: É a variedade mais abundante na Espanha e no mundo e se encontra principalmente em Jaén, Córdoba e Granada. Seu nome faz referência a forma “pontuda” de seu fruto. Seu azeite é muito apreciado pelo seu equilíbrio entre os atributos frutado, amargo moderado e picante marcante, com sabores e aromas de frutado de azeitona verde, erva, tomate e folha de oliveira. No Brasil está mais presente no Rio Grande do Sul.
- Manzanilla: Variedade que é utilizada tanto para elaboração de azeites como para azeitona de mesa. Seu cultivo está localizado na província de Sevilla. Seu azeite é caracterizado por um frutado médio com amargo e picante moderados, com aromas de erva, amêndoa e figueira.
Azeites espanhóis com D.O.P.
Assim como acontece com os vinhos, cada país produtor de azeites tem produtos com Denominação de Origem Protegida (D.O.P.). As D.O.P.s caracterizam os azeites de cada região específica, com variedades determinadas de azeitonas representativas da zona (um ou mais tipo de azeitona) e com condições específicas de elaboração e qualidade. Isso assegura um perfil de aroma e sabor típico associada aquela área de produção.
Na Espanha há 29 zonas de D.O.P. de azeites, distribuídas por todo o país. Dentre as principais regiões, cabe destacar os azeites premiadíssimos produzidos nas D.O.P.s de Priego de Córdoba e Sierra Mágina.
Azeites espanhóis recomendados
Dentre a enorme quantidade de produtores de alta qualidade disponíveis na Espanha, selecionei algumas marcas de azeites, que pessoalmente recomendo para serem degustadas. As marcas grifadas geralmente estão disponíveis no Brasil:
- Castillo de Canena (Jaén)
- Oro Bailén (Jaén)
- Cortijo Spiritu Santo (Jaén)
- Nobleza del Sur (Jaén)
- Venta del Barón (Priego de Córdoba)
- Rincón de la Sub-Bética (Córdoba)
- Oro del Desierto (Almeria)
- Fica La Torre (Málaga)
- Marques de Grigñon (Toledo)
- O-Med (Granada)
- Josep Llorens (Castilla-La Mancha)
Outras duas opções de marcas encontradas no Brasil, produzidas por pequenos produtores espanhóis, com qualidade e uma boa relação de custo benefício são Tierra Laguna (Córdoba) e Casa del Agua (Jaén).
Na próxima coluna continuaremos a nossa viagem pelo mundo dos azeites e visitaremos Portugal, de onde se origina mais da metade dos azeites consumidos no Brasil.
Até lá!