Amo garrafas e confesso que, apesar de ser um profissional das bebidas, em algumas ocasiões me encanto mais com o formato, cor ou modelo delas, do que com os líquidos que elas envasam!
E isso vem muito antes de ser bartender e sommelier. Na minha infância, minhas buscas por garrafas eram para serem trocadas por pintinhos coloridos ou maçãs do amor, nas kombis que rodavam na periferia que eu morava! Mas quando era época de pipas, a prioridade dessas garrafas era para serem quebradas/trituradas e, o pó de vidro resultante, ser misturado a água e cola de madeira para fazer cerol para minha linha de empinar.
Também na época em que as garrafas pets não existiam, eram com os vasilhames (ou cascos) de vidros retornáveis que eu ia até os armazéns comprar refrigerante. Quando eram coloridos (âmbar ou verde), eu amava colocá-los nos olhos e enxergar o céu e as paisagens numa cor diferente! Era como um “filtro do Instagram” da época, mas sem o Instagram. E por falar em refrigerantes, até hoje eu prefiro tomar Coca Cola direto no gargalo de uma garrafinha KS (King Size), do que num copo! Esse é um dos meus hábitos de infância que carrego até hoje.
Essa paixão por garrafas se estendeu pela minha vida adulta e se intensificou quando comecei a trabalhar com bebidas! Nos empórios especializados, descobri uma infinidade de garrafas: de pescoços longos e finos, garrafas de pescoços tortos, garrafas sem pescoços, garrafas duplas, garrafas com texturas, garrafas enormes e miniaturas, garrafas em formato de frutas, animais, armas, caveiras, etc…
E quando eu comecei a fazer Flair, minha caça às garrafas aumentou, já que eu precisava de um estoque grande para repor as garrafas que eu quebrava treinando malabarismo com elas.
Minha casa é repleta de garrafas, não só no meu barzinho, como na decoração e em diversas funções.
Tenho garrafas com luzes dentro; garrafas com velas; garrafas com flores secas e frescas; garrafas com azeite; garrafas com pimentas; garrafas com areias coloridas; garrafas com penas de pássaros que acho pelo jardim etc.
Tenho garrafas na estante de livros; no armário da cozinha, em cima da geladeira, na mesa de comer e na da sala, garrafas no banheiro, garrafas no jardim, garrafões pendurados do teto etc., etc., etc… Até no corpo tenho uma garrafa estilizada tatuada no punho, reafirmando esse amor.
É óbvio que, com toda essa obsessão por garrafas, já deixei de lado os aprendizados como bartender e sommelier, e comprei bebidas por causa da garrafa e não pelo líquido! Quando a bebida era tão interessante quanto a garrafa, o líquido era consumido; quando não, o líquido era despejado no ralo da pia e a garrafa aproveitada de alguma forma.
Que Dionísio me perdoe, mas amanhã irei a um empório comprar um vinho branco que sequer me recordo a uva, safra ou produtor, mas que a garrafa é um espetáculo e me encantou quando a vi na prateleira. Tipo minha mãe quando comprava o Liebfraumilch para fazer vaso com sua garrafa azul.