Muita gente ainda tem medo de vinho. Parece bobo, mas muita gente adulta, educada, viajada e, enfim, sabida das coisas, ainda tem o pé atrás quando o tema é vinho. Não deveria e vou mostrar porquê em 6 dicas rápidas.
Vinho pode ser simples
O assunto “vinhos” é como um buraco negro. Um poço sem fundo em que sempre haverá alguma coisa nova para aprender. Isso é verdade, mas aqui, falamos de profissionais do setor e enófilos muito, muito, muito dedicados.
Se esse é o seu caso, você certamente já passou da fase do pé atrás e mergulhou de cabeça nesse mar de informações. Esse artigo não é para você.
Esse artigo é para essa gente adulta, educada, viajada e sabida – mas com medo de vinho – que eu comentei no início. Então vamos lá.
6 dicas simples sobre vinho
Dica #1: esqueça o medo e a vergonha do sommelier: você é o cliente que todo sommelier sempre sonhou.
Sério. O sonho de todo sommelier e amante de vinhos é encontrar uma audiência genuinamente interessada nesse assunto que ele(a) ama e estuda. Não acredita? Coloque-se no lugar dele e substitua o tema “vinho” por qualquer assunto que você ame e domine.
Agora imagine que você esteja vendendo algum produto que dependa dessa sua expertise. Qual cliente você consideraria mais interessante: um que chega com a mente aberta e curiosa, admitindo que pouco ou nada sabe ou aquele com necessidade de mostrar que sabe mais que você?
Mesmo o cara mais entendido, com aquele título de Master Sommelier, um dia precisou aprender do zero. Ele se lembra disso e certamente respeitará seu interesse, a menos que seja um idiota arrogante e, nesse caso, não vale a pena se preocupar com o que ele pensa sobre você ou qualquer outra coisa.
Dica #2: o básico é simples
Vinho é suco de uva fermentado. Os brancos são mais leves e alegres. Os tintos apresentam maior variabilidade: tendem a ser mais encorpados, podendo chegar a ser ásperos e até amargos. É importante conhecer a(s) uva(s) – vide Dica #3 – e talvez conferir o teor alcóolico (de forma geral, quanto mais alcóolico, mais encorpado. Saiba mais aqui).
Os vinhos rosé são um meio termo entre brancos e tintos – geralmente tendendo mais para o lado leve e alegre – e justamente por isso têm grande chance e agradar a gregos e troianos e combinar com maior variedade de pratos.
Entenda como é feito o vinho aqui ou aqui
Dica #3: diga-me a uva e te direi como é o vinho!
Isso não é muito verdade, mas meio que é, sabe? O eterno problema das generalizações! Não é infalível, mas quebra bem o galho em pelo menos 70% das vezes. Vamos às uvas então, considerando vinhos de entrada – até R$100:
Aromáticas: Torrontés, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc, Riesling e toda a família Moscatel. Boa para piscina e aperitivos nas versões mais leves mas podem encarar pratos condimentados e complexos nas versões mais encorpadas (você vai saber pelo preço. Em lojas, acima dos R$100 já estamos nessa categoria)
Neutras: Chardonnay, Chardonnay, Chardonnay! Já houve o tempo em que achei a Chardonnay sem graça. Atualmente é o que mais passa pela minha taça. Em vários estilos! Só não combina com carne vermelha. O percentual de álcool aqui pode ser um bom indicativo do corpo – prove um com 14% e compare!
Tintas leves: Pinot Noir e Gammay. Delicadas e com poucos taninos, costumam ser boa porta de entrada para aqueles que “não gostam de vinho”. Pela mesma razão, costumam ser rejeitadas pelos fãs dos vinhos encorpados (inclusive aquele crítico famoso…)
Tintas sem erro: Malbec, Merlot, Primitivo, Garnacha e blends portugueses e bordaleses. Com corpo médio e textura aveludada, eventualmente com um toque de açúcar residual que melhora a “drincabilidade”. Sucesso garantido em ocasiões descontraídas. Encaram carne vermelha com louvor e dá para ser bem feliz com menos de R$100! Pessoalmente incluo a Carmenérè nesta categoria também, mas há que se observar o famoso aroma a pimentão, especialmente nas garrafas mais baratinhas.
Alguns Sangiovese e até Chianti DOCG podem ficar nessa categoria também. Se você curte vinhos mais ácidos, essa é sua pedida!
Tintas encorpadas: Cabernet Sauvignon e Tannat, por excelência. Malbecs com 14% de álcool, blends bordaleses e portugueses mais caros. Afinal, Cabernet Sauvignon não é a uva tinta de vinhos mais plantada do planeta à toa!
conheça as principais variedades brancas aqui e as tintas aqui
Dica #4: valorize nossas borbulhas
O Brasil é famoso pela produção de espumantes de alta qualidade. A-P-R-O-V-E-I-T-E! Perfeitos para esse nosso aquecimento global, são consumidos bem gelados, harmonizam com quase tudo e podem ser muito econômicos! É importante reparar no nível de doçura: para acompanhar refeições, o ideal é que seja Brut, Extra Brut ou Nature (quantidades decrescentes de açúcar – saiba mais aqui)
Dica #5: conheça o básico das regiões produtoras de vinho
Sem perder de vista o eterno problema das generalizações, considere que os vinhos europeus tendem a ser inferiores a sulamericanos da mesma faixa de preço. A longa viagem e os impostos de importação já explicam essa afirmação mas ótimas exceções podem ser encontradas em Portugal, com ótimos vinhos mais leves na região de Vinho Verde ou encorpados no Alentejo.
Espanha também oferece bons vinhos básicos de Garnacha a preços muito atraentes. Na Itália e França o dinheiro já rende menos. Busque valor nos vinhos tintos da Puglia e Sicilia, na Itália, ou Languedoc-Roussillon, na França.
Dica #6: errar é humano, instrutivo e pode ser até divertido
Não se cobre demais! Todo mundo já se deu (ou está prestes a se dar) mal com alguma compra de vinho. Ok, não é o fim do mundo. Mesmo se o vinho for muito ruim mesmo, alguma coisa a gente sempre aprende (nem que seja nunca mais confiar na “dica” daquele amigão).
O vinho deve ser um prazer – como a cerveja ou aquela pana cotta do seu restaurante preferido. O importante é manter a fé e seguir experimentando por 2 razões: 1) a gente aprende por osmose e 2) quando a experiência é ao contrário, e aquele vinho pelo qual ninguém dava nada te surpreende, não tem preço!
É por isso que seguimos abrindo garrafas: em busca desse vinho surpresa perfeito