Mais uma Páscoa estranha vem aí, mas apesar de confinados e distanciados, o chocolate nosso de cada Páscoa não deve faltar. Para harmonizar: vinho do Porto! Veja a seguir os tipos de vinhos do Porto e suas harmonizações.
Porto – uma denominação de origem
Vinho do Porto ou Porto é uma denominação de origem. Assim como Vinho Verde ou Moscatel de Setubal, só pra citar outras DOs portuguesas ou por exemplo champanhe ou Amarone dela Valpolicella. Diferentemente de champanhe, que são vinhos feitos com uvas da região demarcada de champanhe – além de seguir outras regras da D.O. – as uvas do vinho do porto não vêm da região da cidade do porto em Portugal: elas vêm do Douro – da região demarcada do Douro que é sim perto da cidade do Porto, mas começa uns 70km rio acima.
Tradicionalmente, o vinho produzido na região do Douro era transportado em barcos – chamados rabelos – pelo rio Douro até a a foz, pra ser envelhecido na cidade de Vila Nova de Gaia e finalmente exportado por navios através do porto da cidade do Porto e o nome acabou pegando. Porto ou vinho do Porto é como esses vinhos são conhecidos desde meados do século 17.
Os grandes importadores, que fomentaram e movimentaram esse comércio foram, pra variar os ingleses. Reza a lenda que eles – os ingleses – foram inclusive os inventores do vinho do porto. Eles teriam descoberto que adicionando brandy ao vinho este ficava mais estável e sobrevivia melhor à viagem de navio mas…
Segundo Tom Stevenson em “The Sotheby’s Wine Encyclopedia” , em 1678 um mercador de Liverpool, na Inglaterra enviou 2 pessoas a Viana do Castelo, ali na região do Porto, pra aprender o business – eram mercadores. 2 estagiários. Esses estagiários depois em férias foram passear no Douro e visitaram um lugar onde provaram, segundo eles um vinho muito agradável, adocicado e aveludado que tinha sido fortificado com uma bebida destilada. Eles teriam gostado tanto que compraram o lote inteiro e mandaram pra Inglaterra.
Essa história faz mais sentido do que a dos mercadores terem inventado essa estratégia de adicionar alcool pro vinho nao estragar na viagem porque a fortificação, que é a adição de álcool, não acontece depois do vinho pronto. Ela acontece antes. E é por isso que o vinho é doce: a adição de álcool interrompe a fermentação (que é o processo que transforma os açúcares do suco de uva em álcool), fazendo com que um açúcar residual persista no vinho, tonrando-o doce.
O envolvimento dos ingleses com o vinho do Porto foi gigante e pode ser observado até hoje nos nomes de marcas famosos: Croft, Taylor, Sandeman Graham, Osborne. Dentre os portugueses os mais destacados são a Casa Ferreira e a Quinta do Crasto.
Os vinhos doces faziam muito sucesso antigamente: Napoleão gostava, Dickenson gostava… Tem um programa inteiro sobre vários tipos de vinhos doces, é um dos meus programas mais queridos – Simples vinho 23 – Doces e Divinos. Confira aqui.
O vinho do Porto
O vinho do Porto é normalmente tinto, com mais ou menos 20% de álcool e normalmente doce, com variados níveis de açúcar residual – é uma escolha do produtor.
O vinho é normalmente um corte de uvas – no caso dos tintos as principais são Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Tinta Cão. E é normalmente um corte de safras também – a maioria dos Porto é não safrada – embora alguns estilos específicos sejam safrados.
Os estilos de Porto
Embora existam vinhos do Porto brancos e rosé, a maioria é tinta e o envelhecimento determinará seu estilo, conforme resumido a seguir.
Porto Ruby x Porto Tawny
Basicamente a gente tem 2 tipos de Porto: Ruby e Tawny. Eles têm cor diferente – um é mais vermelho rubi o outro mais acastanhado e isso está relacionado à forma como eles são envelhecidos: o Tawny tem um envelhecimento oxidativo e o ruby redutivo (sem contato com oxigenio).
Tanto o Ruby quanto o Tawny, quando saem no mercado já envelheceram o que tinham que envelhecer e estão prontos pra serem consumidos.
Apesar da cor mais acastanhada que dá a ideia de um envelhecimento mais longo, no nível mais econômico, tanto o Ruby quanto o Tawny tem uma média de 3 anos de idade e o produtor faz suas mágicas pra clarear o vinho. Vale até mesclar com vinho do porto branco. Aí a gente tem as categorias especiais.
Reserva: pode ser tanto Ruby quanto Tawny, sendo que o Tawny tem um envelhecimento mínimo de 6 anos. São vinhos mais concentrados e mais complexos.
Acima dos reserva a coisa abre: Ruby vai pra uma linha e Tawny pra outra. Comecemos pelo Tawny:
Tawny
- Tawny Reserva
- Tawny com indicação de idade (10, 20 30 ou 40 anos)
Ruby
- Late Bottled Vintage (LBV)
- Vintage
Harmonização
Os porto brancos são mais tomados como aperitivo e os tintos como vinho de sobremesa, harmonizando especialmente bem com chocolate, queijos e charutos. Os melhores são também chamados vinhos de contemplação: que vc harmoniza com seus pensamentos, apreciados puro.
Todos os estilo de Porto combinam com o chocolate da Páscoa, mas por suas peculiaridades, combinam melhor conforme a seguir:
Ruby: neste estilo o destaque são os aromas de frutas vermellhas. Combinam melhor com chocolate ao leite, puro e simples ou trufas.
Tawny: a oxidação lhe confere aromas de castanhas, nozes e afins, tornando-o mais compatível com chocolate amargo ou aqueles aromatizados ou combinados a nozes e castanhas (fora da época de Páscoa, Crème Brulé é uma combinação infalível).
Confira o podcast sobre vinho do Porto aqui
Aí, tem os tipos especiais