Marcaram um café. Na Starbucks. Ela não quis desconversar e nem fazer feio. Algo lhe dizia que deveria dar uma enrolada. Nada contra a Starbucks mas, puxa, para uma barista há lugares mais exóticos, divertidos, interessantes para visitar. Ela queria impressionar. Queria? Ah, sempre queremos.
Daí brigaram. Não por causa do café. Outras coisas. Aquelas conversas cheias de faísca com gente que a gente não conhece de verdade e a impaciência rola solta. Se virtualmente já estavam brigando… imagina só. I-ma-gi-na só!
Aí veio de novo a vontade do café. E a conversa da Starbucks. A curiosidade de se ver.
Ela se rendeu. Mas Starbucks? Do shopping ainda. MEODEOS.
Em tempos de pandemia, comércio parcialmente fechado, sem vontade de pegar metrô, a moça deu uma de louca-corajosa-ousada-duvido-que-ele-venha e chamou o rapaz para tomar um café em casa mesmo. Afinal, de café ela entendia.
Ele topou. Numa terça-feira de manhã, vinte e cinco de agosto.
Às 11h30 ela abriu a porta. Ele? Pães de queijo numa mão e o constrangimento na outra. Agradecidas as gentilezas, ela foi passar o café na cozinha e ele a seguiu. A mesa posta: queijo, geléia, timidez, pratos, xícaras, embriaguez. Ela já foi logo dizendo que não gostava muito de pães de queijo e que não tinha guardanapos. Mas se desculpou também. Pelos guardanapos, pelo menos.
Ele não se abalou com as declarações. Sorriu. Sorriu um Sol. Um sol inteiro, assim, para dentro dela.
Estava feito.
Ficaram juntos até à noite, quando ele foi embora. Sem promessas de voltar.
E agora? E agora?
Ele voltou: pães de queijo numa mão e pãezinhos de gergelim na outra. Ele aprendeu que pão de queijo para ela não, mas gergelim, sim, sim, sim.
Passaram a trocar mensagens:
– Tem café aí? – perguntava ele.
– Para você, sempre tem. – respondia ela – Para você sempre tem.
Ao meu querido M. R. F. C. M., em memória.
Imagem de destaque Toa Heftiba para Unsplash
Lindo texto! ❤️