Conheci a Karina Gentile, Depois de Paris, antes de conhecê-la. Dá pra explicar? Uma amiga minha foi professora dela no Tecnólogo em Gastronomia da FMU e vivia me dizendo que nós tínhamos que fazer coisas juntas porque ela era demais!
O destino, ah, o destino… Por sorte, caímos na mesma turma do GHC, a pós-graduação do Senac em Gastronomia, História e Cultura. Como somente tivemos aulas durante a pandemia, nunca nos vimos pessoalmente. Toda nossa relação até hoje rolou à distância, mas numa proximidade incrível.
Nas aulas, a eloquência e o tanto de informação interessante que tem naquela cabeça privilegiada me encantou desde sempre. Entre os colegas, torcemos para que ela tenha um programa na TV, ou melhor, na GNT. A cara da Kay!
O Blablablá na Cozinha do Minestrone foi uma chance pra gente se juntar. Claro que pra conversar sobre comida, de filme, livro, utensílio, receita, fofoca, gente que a gente admira ou nem tanto e da vida.
Nessa entrevista, a Kay (quase nem consigo chamá-la de Karina), como sempre, abre o coração. Porque ela é assim: coração aberto. Dia desses a gente vai se ver e se abraçar. A gente se gosta e eu sei que os leitores do Minestrone vão gostar, assim como os ouvintes do podcast também já se encantaram por ela.
Tem até spoiler. Leia tudo, tudinho.
Entrevista com Kay Gentile
Kay Gentile, quem é você na fila do pão?
Eita, quando eu descobrir juro que te conto. Brincadeiras à parte, sou mulher, mãe, gastrônoma, cozinheira e AMO (assim mesmo, em caixa alta) comer, falar de comida e cozinhar.
Como surgiu a ideia da Depois de Paris?
Ela surgiu em 2014, mas primeiro surgiu uma Karina cozinheira quando casei aos 26 anos em 1999. Antes eu já cozinhava sim, sabia várias coisas mas não ligava tanto para fazer quanto para comer (a minha coisa favorita da vida). Em alguns momentos entre meus 26 anos e a Depois de Paris surgiu muita vontade de trabalhar com comida, mas fiz disso um hobby. Lia muito, fazia cursos, assistia os programas, principalmente os da Nigella e do na GNT do início dos anos 2000 e cozinhava pra caramba. E fiz minha tatuagem, que é o logo da Depois de Paris, em 2012. Então, a ideia estava em mim há muito tempo. Existem duas Depois de Paris. A primeira e a ideia original surgiram no final de uma viagem completamente inesperada para Paris.
A história…
Em 2013 eu tive um faniquito de tirar nossos passaportes porque nós nunca tínhamos viajado para fora do Brasil. Eu fiquei com a frase daquele filme com o Kevin Costner, Campo dos Sonhos, “if you built it, they will come”. Se um dia a viagem aparecesse o passaporte estava garantido. E nas nossas férias, em janeiro de 2014, num golpe de sorte, conseguimos três passagens por pontos para viajarmos para Paris. Isso foi numa quarta-feira à noite e, no domingo, embarcamos: eu, meu marido com nossa filha, a Clara de 7 anos, para uma viagem de nove dias.
Tudo mudou…
Essa viagem é um divisor de águas nas nossas vidas como família e como indivíduos. A minha parte é que, depois dela, tudo mudou. O “clique” veio no aeroporto de Orly, na volta pro Brasil, quando fui pegar algo para comer e escolhi, num desses restaurantes de aeroporto, um pedaço de quiche que vinha numa embalagem sustentável. Durante o vôo de volta minha cabeça não parou pensando naquilo e o quanto eu amava fazer quiches. Cheguei no Brasil e não parava de pensar nisso. Voltei para meu trabalho como editora de arte na revista Exame e só pensava naquilo. Conversei com meu marido e disse que não queria mais ser designer. Eu queria de uma vez por todas trabalhar com comida.
O processo…
Aí começou o processo de “desmame” de um emprego estável e de uma carreira bastante consolidada para me transformar em uma cozinheira empreendedora. Em seis meses saí da Editora Abril e montei a Depois de Paris, que não poderia ter outro nome. Fiz cursos de cozinha no Senac e um de empreendedorismo na Rede Ubuntu, uma aceleradora de propósitos que foram fundamentais. Essa é a primeira temporada, uma fabriquinha de tortas, quiches, brownie e cheesecake artesanais, com foco em comida gostosa, mas pensada e com afeto. Cuidado na escolha de cada produto, na maioria orgânicos e comprados direto dos produtores. E assim funcionou do final de 2014 até o meio de 2016.
Quais as atividades da Depois de Paris?
Aqui entra a segunda temporada da Depois. Fui convidada a dar um workshop numa loja linda de artigos de cozinha, a Kit&Home, e curti demais. Depois meus professores do Senac também me chamaram para dar algumas aulas lá e meu caminho na gastronomia começou a ficar mais claro. Depois de empreender, entendi que precisava estudar e em 2017 fui pra faculdade de gastronomia na FMU, outro divisor de águas. Professores maravilhosos, uma ementa muito legal e de quebra fiz estágio no Instituto Brasil a Gosto que ficava dentro da faculdade. Na FMU conheci gente incrível, aprendi muito e ainda venci, junto com meu dupla querido, um concurso super importante, a Copa Colavita FMU e fomos para a Itália conhecer toda a produção de azeite e massas. A melhor experiência gastronômica da minha vida. Melhor. Quando saí da faculdade comecei a dar aulas e fazer consultorias para pequenos empreendimentos, e falar de comida para empresas e suas equipes, mas queria estudar mais ainda. Hoje sou professora de culinária e “falo de comida” quando me chamam. A Depois de Paris no Instagram, desde maio de 2019, virou a plataforma de divulgação do meu trabalho, de receitas, conversa e um propósito importante: ajudar as pessoas a desenvolver autonomia na cozinha com base em pilares que perpassam todos os posts e minhas aulas: afeto, consciência, autonomia e verdade.
Depois de Paris é mais comunicação ou mais comida?
A comida é meu meio de comunicar. Não entendo as duas coisas dissociadas.
Qual é o mito fundador da Depois de Paris?
A Depois de Paris começou com um mantra: pra gente, gourmet é afeto. E a verdade é que isso está aqui até hoje. É um dos pilares mais importantes, o afeto. Não só aquele romantizado da mãe que nutre seus filhos, o afeto com a gente, com o planeta, com as pessoas que produzem a comida. O afeto ampliado.
Quais os próximos passos?
Continuar o que se consolidou na pandemia, fazer posts com o dia a dia da minha cozinha, a vida como ela é, dar aulas quando essa loucura de pandemia acabar e continuar estudando e falando sobre comida. Mas vou te dar um spoiler: vou voltar a vender comida! Só que dessa vez será pão de queijo, congelado, já em bolinhas. O cuidado continua, fui atrás dos produtores de polvilho e de queijo. Quero embalagens sustentáveis e vai ter muito afeto em cada pãozinho.
Você dá aulas de culinária/gastronomia. Que significado isso tem na sua vida? Por quê?
Dar aula foi o momento no qual entendi o que queria na gastronomia. Falar de comida! Além de tudo, supriu uma frustração que carregava desde sempre, a de não ser atriz. Durante muitos anos essa foi uma questão complicada dentro de mim. Fiz cursos livres no Teatro Escola Célia Helena e, na época, me senti tranquila, como se eu tivesse dado um jeito naquele sentimento. Até entrar naquela cozinha do Senac, para a minha primeira aula de cozinha italiana, com dolmã, flip chart na frente, ingredientes nas bancadas e 24 alunos me olhando. UAU! Eu estava nervosa, claro, mas que delícia, foi a mesma sensação que tive quando, numa peça de teatro no colégio, fazia meu monólogo. Era eu pra valer ali. Por isso a potência de ter entendido meu caminho na gastronomia.
Como é pra você participar Blablablá na Cozinha do Minestrone?
Adoro! Falar de comida com gente sabida que ama falar de comida também. Acho um prazer e me sinto muito grata de fazer parte dele.
Hora do jabá – como te encontrar… o que acessar etc.
- @depoisdeparis no Instagram. Tô lá!
Leia ou ouça no Minestrone: