Por Mônica Nalbandian
A culinária armênia é milenar, passada de geração em geração, acrescida das influências dos lugares por onde passaram e passam os descendentes deste povo. A nossa história tem momentos de muita alegria, felicidade e fé, mas também muita dor e sofrimento.
Cada prato desta culinária é muito elaborado, com várias etapas de desenvolvimento e elaboração. São preparos que precisam de cuidados para que através dos séculos mantenham seu sabor e sua forma.
A história das famílias armênias é muito parecida neste quesito, então, vou contar a da minha família. Se perguntarem para qualquer mulher armênia tenham certeza que sua história será similar.
Minhas lembranças começam nos meus cinco anos, mais ou menos. Meus pais, meu irmão e eu morávamos perto da minha avó paterna, Diguin Siranush, minha tia e minha prima. Nossas refeições eram realizadas sempre todos juntos.
Diariamente, tínhamos charuto de folha de uva ou repolho (sarmá), vegetais recheados (dolmá), pastéis de queijo dos mais variados (beureg), individuais ou não. Havia uma centena de diferentes pratos que minha avó preparava para nós. Quando chegava o dia do subeoreg (espécie de lasanha) ou do mantã (barquinhas de massa recheadas), era o momento de juntar a todos: avó, mãe, tias, primas, meu irmão e meu pai. Cada um sabia qual era sua parte, sabia o que fazer. E assim passávamos os dias, conversando, cantando e “levando bronca” da matriarca se não fazíamos tudo perfeito. Aprendi a fazer cada prato dessa forma, assim como os que eram tradicionais na casa da minha avó materna. Cada região armênia tem seus pratos e isso foi muito enriquecedor.
Como dizia minha avó Siranush: “uma mulher precisa estudar e ser uma ótima profissional, porém precisa também ser uma dona de casa perfeita”. Os aperitivos, pratos principais e sobremesas armênias são sofisticados e requerem cuidado e perfeição. Hoje, em pleno século XXI, seguimos os mesmos princípios.
A vida familiar e a culinária são dois lados da mesma moeda, nos unem e nos ensinam sobre nossa cultura, história, tradições. Somos um povo que apesar das vicissitudes, existe, se mantém vivo, sempre unindo sua culinária, tradições e fé inabalável. A presença e bênção de nossos eclesiásticos nas mesas fartas, nos momentos felizes e tristes são uma tradição única.
Nossa culinária tem similaridades com os povos do Oriente Médio, pois todos fomos dominados e dominadores em algum momento da história. Nossa diferença aparece mesmo é nos temperos utilizados.
Sobre a autora:
Monica Nalbandian é neta de armênios, nasceu em Montevideo. No Brasil, ela é professora de línguas e tradutora. Sua história de família e suas lembranças da infância em que as comidas e o modo de preparo em casa demonstram como essa prática tem relevância para o povo armênio.
Sobre a Semana Armênia de Gastronomia – Entre 27 de junho e 3 de julho, a União Geral Armênia de Beneficência (UGAB) filial Brasil realiza atividades voltadas à comida armênia com o objetivo de difundir sua cultura no país. Está prevista a participação dos restaurantes armênios de São Paulo e alguns do interior, com descontos especiais.
Durante toda a semana, no Minestrone, você terá uma programação especial de receitas e informações sobre a gastronomia armênia, histórias, recomendações e receitas. Não perca!