De vez em quando um livro nos surpreende. Não raro, quando isso ocorre, é de modo arrebatador. A cozinha das escritoras: sabores, memórias e receitas de 10 grandes autoras é uma obra escrita por Stefania Aphel Barzini, uma pesquisadora italiana que trabalha com culinária e enogastronomia.
Barzini pesquisou a obra e a vida de dez outras escritoras famosas internacionalmente. Entre elas Simone de Beauvoir, Gertrude Stein e Agatha Christie, e a relação dessas mulheres com a comida, seja para o bem ou para o mal. O resultado é um apanhado de deliciosas curiosidades que instigam o leitor a ler ou reler as obras das autoras escolhidas.
O livro foi publicado em 2013 no Brasil pela editora Benvirá, um selo da Editora Saraiva. Mas eu só o descobri há cerca de um mês quando estive na biblioteca do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, bisbilhotando os livros na biblioteca (aliás, uma das minhas principais paixões desde criança). Mas nunca é sem tempo que se encontra uma joia dessas para se degustar.
Apetite das personagens
Fiquei absolutamente impressionada com a “rainha do suspense”. Como eu já sabia, um pouco por intuição, um pouco por já ter visto algumas de suas obras adaptadas em filmes como o Assassinato no Expresso Oriente, que ganhou uma versão dirigida por Kenneth Branagh em 2017, na qual ele mesmo é o detetive Hercule Poirot, Agatha Christie amava comer. Além disso, amava falar e escrever sobre comida. Ela celebrizou personagens traçando-lhes perfis a partir também de seus apetites e preferências gastronômicas. Genial!
O que comia a autora de Mary Poppins
Pamela L. Travers, que nasceu Helen Lyndon Golf, é a autora de Mary Poppins e uma das autoras cuja história é contemplada no livro da Stefania Barzini. Esse é um dos capítulos, na minha opinião, mais interessantes. Ainda mais que nos demais nove, a autora descreve sua paixão pela magia da literatura desde criança. Barzini relata como Travers a influenciou a partir de sua personagem fantástica, a babá Mary Poppins, imortalizada por Julie Andrews no cinema numa produção de 1964. Em 2018, Emilie Blunt pode provar seu talento protagonizando O retorno de Mary Poppins.
A leitura é leve, fluida e, ao final, como se já não fosse o bastante, encontram-se receitas. Há uma geleia de maçã e limão de que gostava Virginia Woolf e a receita do clafoutis* de cereja servido nos cafés frequentados por Simone de Beauvoir. Tem ainda o linguado ao molho holandês, de Karen Blixen, a autora de A festa de Babette, cujo filme é indispensável para quem ama comida por ser uma das maiores odes ao paladar, à comensalidade e à mesa posta.
Mesmo que a sua preferência seja apenas culinária, A cozinha das escritoras é um livro delicioso de se degustar. Custa baratinho, pode ser encontrado facilmente na Saraiva e na Amazon, inclusive em e-book para Kindle. Encontra-se até usado na Estante Virtual (eu pesquisei e está por um preço módico de cerca de R$ 5 – cinco reais – aí, claro, você já aproveita e compra outros para aproveitar o valor do frete).
Por que ler?
Aproveito agora para fazer uma recomendação: leia! Saia do celular um pouco, deixe as redes digitais e se envolva numa boa leitura. Leia mais, leia sempre. Seja para se instruir, seja para fugir do mundo real, a leitura é uma porta mágica que nos dá satisfação semelhante a que temos quando comemos.
Serviço: Livro – A cozinha das escritoras: sabores, memórias e receitas de 10 grandes autoras. Stefania Aphel Barzini, 2013. Editora Benvirá. 236 páginas. Preço médio: R$ 18
Leia também no Minestrone:
*clafoutis: típico prato da confeitaria francesa feito com frutas
Só de curiosidade
Que tal assistir um pouco do que foi adaptado para o cinema do que foi escrito por:
Agatha Christie: Assassinato no Expresso do Oriente (2017)
Pamela Travers: Mary Poppins (1964) e O retorno de Mary Poppins (2018)
http://https://www.youtube.com/watch?v=_L4qauTiCY4
http://https://www.youtube.com/watch?v=doBT-eeWNHk
Karen Blixen: A festa de Babette (1987)
http://https://www.youtube.com/watch?v=ZB_csB5UiHM