Dias atrás, fui a Brasília para ficar com nossos netos Helena e João e não é que encontro por lá A viúva Clicquot que me conta a história da França do século XIX?
Perdido na estante (parodiando o podcast da minha amada editora Domenica Mendes) estava o livro de capa laranja mesma cor do rótulo do champagne da viúva. Como eu conhecia a história só de ter ouvido falar da mítica senhora francesa que perdeu o marido e criou um império, precisa ler.
Surpresa boa saber que foi uma americana chamada Tilar J. Mazzeo quem se interessou em escrever a história de vida de uma mulher que tinha tudo para ser só mais uma entre tantas da burguesia francesa endinheirada dos séculos XVIII e XIX, mas que se tornou o ícone entre as bebidas do mundo, o champagne. Na região de Champagne, oras.
A Viúva Clicquot – A história de um império do champagne e da mulher que o construiu é um livro fácil de ler, fluente na forma e curioso no conteúdo repleto de informações históricas sobre a França pós-sistematização da gastronomia como hoje a conhecemos.
Barbe-Nicole Clicquot, a francesa que nasceu para bordar e se casar com um homem de posses, se tornou um mito porque mescla sua própria história de vida com a construção simbólica da França como país produtor da melhor bebida, ou a mais festiva, do planeta.
Misto de realidade e construção literária que exigiu uma boa dose de imaginação para tomar corpo o livro traz uma vasta pesquisa da autora sobre viticultura, produção vinícola, conquista de mercado e estratégias de marca e marketing dos únicos vinhos espumantes que podem ser chamados de champagne devido a sua origem.
Como tem 302 páginas, nas quais estão incluídas as longas notas de rodapé e as referências de pesquisa bibliográfica quase acadêmica, eu não consegui ler em apenas cinco dias que era o meu tempo de permanência em Brasília com o Silas e as crianças. Dado que era emprestado, trouxe o livro o São Paulo e alonguei páginas para que ele não terminasse logo. Em cada página da história contada por Tilar Mazzeo eu me transportava imaginariamente para lugares cheios de cheiros, sabores, política, negociações e negociatas. Um império francês, sem dúvida, como reza o título da obra.
Essa é uma recomendação de leitura para quem gosta do vinho que faz cócegas no nariz graças ao frenesi de suas bolhas pequeninas e também para os que gostam de dados históricos e historietas curiosas sobre personalidades famosas que no fundo é ainda gente como a gente.
Como aqui no Brasil, há uma produção de espumantes gratamente deliciosos, o livro serve muito para lembrar que tradição, marca e mercado são estrategicamente importantes para o reconhecimento de um produto gastronômico e a viúva francesa soube construir isso como ninguém mais. Não é à toa que uma garrafa da viúva custa muito mais que a maioria das suas concorrentes.
Ficha técnica
Livro: A Viúva Clicquot – A história de um império do champagne e da mulher que o construiu. Autora: Tilar J. Mazzeo, editora Rocco, Rio de Janeiro, 2009. Tradução de Ângela Lobo.
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